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A primeira rua aberta na vila de Nova Friburgo
sábado, 31 de julho de 2010
Durante os seus dez primeiros anos de existência a vila de Nova Friburgo não cresceu. Pelo contrário, no seu segundo ano houve até um esvaziamento da vila. Grande parte daqueles suíços que para aqui vieram, enfrentando uma difícil e dolorosa jornada, eram lavradores na sua terra de origem. Os encarregados pelo rei de aqui os alojarem, usando de ignorância ou de má fé, os colocaram na pior área agrícola da região, no meio de terrenos muito acidentados e de má qualidade. A maioria deles, decepcionada, partiu em demanda de terras mais férteis. Dom João VI, o padrinho da vila, muito a contra gosto já fora obrigado a voltar para Portugal e a administração do seu filho que ficou – logo se tornou o Imperador Dom Pedro I – deixava a vila com duas administrações: a da colônia, que era a mais antiga e a verdadeira possuidora de tudo e a da Câmara da Vila, criada em 1820, mas que não dispunha de recursos para administrá-la. E assim a vila de Nova Friburgo passou a sua primeira década de existência.
Em janeiro de 1829, com a nova lei eleitoral, o doutor Jean Bazet, médico francês que veio com os suíços, candidata-se a vereador, é eleito e, como o vereador mais votado, assume a Presidência da Câmara da vila. No ano seguinte, em 30 de setembro de 1831, consegue que os bens da colônia sejam entregues à Câmara Municipal de Nova Friburgo. Em 27 de outubro daquele ano ele e mais um grupo de vereadores desceram do Château, onde então funcionava a Câmara da Vila e se dirigiram até a parte sul da praça, ali em frente à atual Rua Monte Líbano, para estabelecerem o alinhamento da nova rua que ia ser demarcada na vila. Essa nova rua deveria ir dali em direção da Vilagem de Cima (Paissandu). Decidiram o seguinte: “... que dali (de frente da Casa da Inspeção – atual Banco do Brasil) se seguisse o mesmo alinhamento, com a mesma direção oblíqua, que tem desta para o armazém, para dali seguir para a Vilagem de Cima”. Este mencionado armazém era o de um português, conhecido como o ‘armazém do Assis’, onde costumavam parar, para descanso e pernoite, tropas de mulas que vinham de Cantagalo com café e se destinavam a Venda das Pedras. Este armazém do Assis era localizado exatamente ali onde hoje está a Líder Magazin, no Cadima Shopping, bem em frente ao caminho e ponte que constituíam parte do velho ‘Caminho de Cantagalo’. A futura rua seria uma reta substituindo trecho daquele ondulante caminho que por ali passava. De um lado ela cortaria partes da encosta de um morro e, com o material retirado, nivelaria a rua e aterraria trechos alagados por ali existentes.
Em 4 de março de 1941, doze anos depois da sua primeira marcação, já havia casas construídas no início da rua. Nesse dia o vereador Mindelino de Oliveira requereu à Câmara que se ordenasse ao fiscal da vila para traçar a demarcação de toda a rua, para que alguns pretendentes pudessem iniciar as casas que nela pretendiam edificar. Os terrenos localizados no lado oeste da rua iam até o sinuoso Rio das Bengalas de então.
O nome que ela recebeu de Rua do Senado perdurou por 43 anos. Em 1872, cessada a Guerra do Paraguai, a Câmara resolveu trocar o seu nome para o de Rua General Argolo, assim como o de outras ruas da vila que passaram a ostentar o nome de heróis brasileiros daquela guerra. Cinquenta e oito anos depois, em 12 de maio de 1930, o seu nome foi novamente mudado para Rua Alberto Braune a pedido do padre José Teixeira, então o pároco da cidade.
O que achamos de fantástico nessa rua é a sua largura, considerando o tempo em que ela foi planejada, na primeira metade do século XIX, numa diminuta vila no centro da província e distante vários dias de viagem sobre o lombo de mulas da cidade mais próxima: o Rio de Janeiro. Já imaginaram o que seria hoje o nosso difícil trânsito de veículos se ela tivesse a largura das outras ruas do centro da cidade? Pensamos que essa ideia progressista tenha sido mais uma das dívidas que Nova Friburgo tem com o seu primeiro médico e primeiro presidente da Câmara, o doutor Jean Bazet, a quem a cidade tanto deve. Recentemente a nossa atual Câmara, reconhecendo um erro histórico há anos cometido, passou a denominar Jean Bazet a sua sala de sessões. Mais uma vez, parabéns a ela.

Carlos Jayme Jaccoud
Um pouco de história
Carlos Jayme Jaccoud é historiador.
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