Os primeiros japoneses em Nova Friburgo - 20 de outubro.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011
Publicamos hoje a última das seis partes em que, para caber no nosso espaço em A VOZ DA SERRA, dividimos esta história, escrita por Toku Kassuga, a matrona da família Kassuga em nossa terra, os primeiros japoneses a aqui se fixaram, em 1927. Duas figuras originais A notícia da rendição incondicional do Japão, em 2 de dezembro de 1946, deixou um marco de profunda consternação e perplexidade. Ainda mais que, até aquela data, o povo japonês só conhecia a vitória. Essa rendição era um ato de extremo pesar e tristeza. Sentia-se um clima de insegurança e dificuldades num país adversário. E este sentimento era mais acentuado para a família Kassuga, por viver isolada da colônia japonesa. Mas Nova Friburgo era uma cidade de muita paz e aqui tudo correu tranquilamente. Entretanto, havia quem ficasse completamente perdido com este acontecimento repentino. Assim foi o caso do sr. Saburo Senda, nascido em Nagoya e conhecedor do judô. Havia trabalhado na Embaixada como funcionário interino. Na ocasião em que começou a guerra, estava ele trabalhando no escritório da companhia da Usina Elétrica de Macabú. Sem ter onde morar e sem emprego, estava desorientado quando conheceu um dentista brasileiro, dr. José Jordão, que o colocou num seu terreno em Dona Mariana. Este recomendou-lhe aprender a cultivar tomates sob a orientação de Kassuga até terminar a guerra. Dona Mariana fica a 40 km da nossa cidade e é a parte mais alta desta região serrana. O sr. Senda, até aquela data, nunca tinha colocado a mão numa enxada, mas com os ensinamentos de Kassuga e com as revistas editadas pela Embaixada sobre o assunto, trabalhou e teve grande sucesso. Algum tempo depois surpreendeu o dr. Jordão levando-lhe dez contos de réis correspondentes à metade do lucro que obtivera, importância que ele nunca havia pensado em obter daquele sítio. O dr. Jordão recebeu elogios do pessoal daquela região e despertou nos habitantes do local a confiança na terra e no cultivo dos tomates. O sr. Senda era um homem muito calmo, perseverante, mas devido ao seu estado de solteiro era um pouco excêntrico e despreocupado. Durante o verão trabalhava com grande obstinação, mas no inverno desperdiçava todo o seu lucro divertindo-se no Rio de Janeiro com amigos da colônia judaica. Obteve grande confiança no meio destes e foi convidado a ser instrutor numa colônia agrícola de Jundiaí. Mais tarde foi para Israel e ocupou importante cargo num Kibutz. Atualmente trabalha na Embaixada Japonesa em Israel. Sendo ele conhecedor profundo do temperamento dos judeus e falando fluentemente o hebraico, será ele, certamente, uma preciosidade para a Embaixada. Pouco antes da Grande Guerra chegou a Nova Friburgo um outro personagem digno de der mencionado. É o sr. Shibazaki. Veio para o Brasil como membro do Ricoukai. Já estava cursando medicina em Niterói quando, em consequência da guerra, foi preso juntamente com muitos outros. Libertado, não tinha reserva para o estudo e, até mesmo, para comer. Veio para Nova Friburgo à procura de emprego. Tunney Kassuga colocou-o num terreno em Conselheiro Paulino. Shibazaky trouxe um colega e companheiro italiano, colega de faculdade, cujo pai parecia ajudar nas suas despesas. Esse rapaz italiano trabalhava com extraordinário entusiasmo sem se importar com a roupa e a chuva. Com a colheita da primeira safra, em janeiro, pretendiam levantar o custeio de todo aquele ano, por isso a preocupação dos dois era muito grande. Felizmente, foi excelente o resultado. Nas férias voltavam ao trabalho e assim continuaram até o fim do curso. Após três anos, concluíram o curso e Shibazaki foi exercer a sua profissão em Marília, Estado de São Paulo. Foi admirável o esforço destes dois jovens. Março de 1952. Kassuga completava 25 anos de Nova Friburgo. Por esse motivo, em novembro desse mesmo ano, no Sítio Kakien, comemorou-se com a presença de vizinhos e amigos, todos brasileiros ou japoneses. Nessa ocasião juntaram-se 30 famílias de japoneses friburguenses. A família Kassuga comoveu-se, principalmente, com a presença do seu grande amigo e protetor dr. Julio Zamith. Também compareceu o sr. Ryoji Noda, da Embaixada do Japão. Durante a guerra ele esteve afastado do Ministério de Relações Exteriores. O sr. Ryoji Noda, na época, ocupava o cargo de Primeiro Conselheiro na Embaixada Japonesa mas, após a guerra, afastou-se do Ministério de Relações Exteriores e, a conselho do senhor Yosikawa, dedicou-se ao trabalho de organizar um dicionário japonês/português. Para esse fim ele achou mais conveniente residir no Brasil e escolheu Nova Friburgo para morar. Também encontrava-se no Brasil um seu parente, o sr. Sohei Nagai. Assim, querendo ele morar na cidade, Kassuga encontrou um canto tranquilo e adequado para o trabalho: o Hotel Granja, bem perto do Sitio Kakien. Foi nesse hotel que ele iniciou os seus manuscritos. Dois anos depois ele mudou-se para São Paulo onde teve uma grande ajuda do sr. Kiyoshi Yamamoto para continuar a sua trabalhosa obra. Em 1966, quando a concluiu, contava com 90 anos de idade. Soube-se que ele, nas horas livres das viagens, escreveu os livros: Retratando o Brasileiro, O Grande Tesouro Mundial da América do Sul , Nova América do Sul, O Grande Amazonas e Desempenho dos Japoneses na Amazônia. Faleceu no Estado de Shizuoca, deixando um exemplo de uma rara e ponderada personalidade. ---------- Após a guerra, vieram para Nova Friburgo moços da Cooperativa de Cotia e alguns jovens com especialidade na cultura de flores para vasos. Este novo ramo espalhou-se e desenvolveu-se rapidamente, trazendo um extraordinário progresso com melhora no padrão de vida que abafou a miséria de outrora. Queremos salientar que o povo de Nova Friburgo foi, desde o princípio, muito benevolente e respeitoso não só para com a família Kassuga, mas também com todos os japoneses que para aqui vieram. Pedimos para que estes, por sua vez, nunca pratiquem desordens e nem atos que os envergonhem. É evidente que o número de japoneses no Brasil é pequeno e pode-se afirmar que são ordeiros em geral. Encerrando estas minhas palavras, faço preces para que os japoneses e seus descendentes, aqui radicados, tenham tranquilidade nesta terra que escolheram para viver e onde foram recebidos de braços abertos, que caminhem com coragem e perseverança. Faço votos para que, antes da metade deste século XIX, seja esta história divulgada, assinalando o nosso agradecimento a esta cidade de Nova Friburgo e ao Brasil. Toku Kassuga.
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Carlos Jayme Jaccoud

Um pouco de história

Carlos Jayme Jaccoud é historiador.

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