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Os primeiros japoneses em Nova Friburgo - 13 de outubro.
terça-feira, 11 de janeiro de 2011
Publicamos hoje a quinta das seis partes em que, para caber no nosso espaço na A VOZ DA SERRA, dividimos esta história, escrita por Toko Kassuga, a matrona da família Kassuga em nossa terra, os primeiros japoneses a aqui se fixarem, em 1927.
Uma temporada pelo Amazonas
Foi em maio de 1928 que um jovem Tamura, formado na escola de colonização Setogawa, de Tókio, veio trabalhar no sítio Kakien.
Recebeu-se, nessa ocasião, a visita de um pastor, o sr. Midori Kabayashi, que estava dedicando-se à educação de crianças japonesas e criara, em São Paulo, a instituição “Internato Seishu”. Ele veio unicamente para conversar e tentar persuadir Kassuga a morar em São Paulo. Alegava que os Kassuga, morando como moravam no meio das serras, no interior do Rio de Janeiro, não tinham a possibilidade de vencer no futuro. Ele estava de partida para Belém, para conhecer o Amazonas, percorrer os Andes e, depois, seguir para o Japão e retornar para São Paulo. Percorrendo o Amazonas ele ficou tão empolgado que escreveu assinalando não ter dúvida de que aquela região seria o progresso do Brasil.
Nessa mesma ocasião, viajando em sentido contrário ao pastor, vinha para o Brasil o próprio diretor da escola Setogaya, sr. Hisabeshi Sakiyama, escola onde Kassuga estudara no Japão. Chegando a São Paulo e informado de que um seu ex-aluno encontrava-se em Nova Friburgo, veio procurá-lo. Na sua chegada, os Kassuga fizeram uma festa. Reuniram os rapazes Nakagawa, Susiki (ambos estudantes), e mais Kodama e Tamura, formados pela escola de Colonização e, diante deles, o diretor Sakiyama fez um eloquente discurso. Foi uma noite proveitosa.
Logo depois Tamura resolveu deixar Nova Friburgo, assim como Nakagava e Suzuki foram admitidos como funcionários da Embaixada do Rio de Janeiro. No ano seguinte vieram a Nova Friburgo os doutores Ritoji Uchida e Kanji Tomoda, este formado em Gaigo, afim de aperfeiçoarem o português. Os dois aqui permaneceram por alguns meses.
A narração volta atrás, mas, quando o Kassuga estava ainda no Rio de Janeiro à procura de terreno, encontrou-se com o sr. Shounosuke Otta, formado pelo Koubekouhou, enviado pela companhia Kenebo para estudar o terreno antes dessa companhia começar o seu empreendimento no estado do Pará. Nessa ocasião o Kassuga havia comentado o seu interesse em conhecer a Amazônia e pediu-lhe que lembrasse o seu nome caso tivesse lá um trabalho interessante.
Em janeiro de 1929, foi fundada, no estado do Pará, a Companhia Brasil-Nipônica de Plantação. Em setembro chegou lá o primeiro grupo de colonos. O sr. Otta já estava instalado lá há um ano e justamente quando aumentou o movimento, em 1930, foi acometido de uma enfermidade e teve que se afastar para tratamento. Lembrou-se das palavras de Kassuga e, obtendo consentimento dos seus chefes, veio procurá-lo para trabalhar no seu lugar. Como nessa ocasião Kassuga estivesse em pleno exercício da plantação de kakis aquele convite foi embaraçoso tanto para o sr. Otta como para Kassuga. Entretanto as palavras dos srs. Kobayashi e Sakiyama transtornou a cabeça de Kassuga, pois ele, ainda novo e não contendo a emoção desta oportunidade de conhecer o Amazonas, aceitou o convite e partiu para primeiro inspecionar o local. A família iria depois a seu chamado.
Lá chegando constatou que a situação da colônia era muito difícil e não dava para logo definir se a companhia iria para frente ou para a falência. Resolveu ficar os primeiros oito meses. Findo esse tempo, se sentido incapaz de ficar mais tempo só e em terra estranha, resolveu buscar a família.
Nessa ocasião, nas vizinhanças do Rio de Janeiro, estava estabelecido um grupo de moços do Yamagata-Ken numa região sujeita à malária. Estas pessoas, então, vieram para o Sítio Kakien a fim de recuperarem a saúde e aqui ficaram durante a ausência da família Kassuga. Dentre esses rapazes havia um, Shigueru Oikawa, que demorou mais tempo e trabalhou com grande responsabilidade, fiscalizando o sítio conforme as determinações de Kassuga. Entre as safras de kakis, ele plantava tomates e, nos anos de 1934 e 1935, chegou a despachar alguma quantidade para o Rio de Janeiro sendo ele logo reconhecido como um grande trabalhador de Nova Friburgo, aumentando assim o nome e reputação dos japoneses.
Por outro lado, no Amazonas, os colonos japoneses vinham vivendo satisfatoriamente, mas a malária começava a se espalhar a cada ano com mais intensidade e trouxe dificuldades à empresa que ainda não definira o produto agrícola adequado àquela região. Os comentários negativos sobre a colônia prejudicavam e os acionistas no Japão não estavam mais dispostos a investir nela. Em 1935 foi resolvido reduzir o movimento, o que fez Kassuga demitir-se e voltar para Nova Friburgo.
Nessa ocasião, em Belém, o primogênito Tunney havia acabado de ingressar na Faculdade de Medicina e o segundo filho cursava o 4º ano ginasial. Chegando a Nova Friburgo Jorge fez a sua transferência para o Colégio Modelo e pôde continuar o curso. Tunney não conseguindo a transferência, resolveu descansar no resto do ano. Durante os seis anos que Kassuga trabalhou como assalariado na colônia de Acará pôde educar os dois filhos, sustentar a família na cidade de Belém e remeter ao administrador as despesas do sítio Kakien. Ao recomeçar a vida em Nova Friburgo a situação financeira estava precária, mas a crise que o diretor do jornal paulista havia prognosticado em certa ocasião foi superada. Em todas estas ocorrências havia um toque divino e o casal sentia-se agradecido a Deus.
Na ocasião chegava de Belém um jovem de 17 anos chamado Hideo Kato. Durante oito anos ele ajudou no trabalho do sítio e foi o braço forte de Kassuga. Mas não era do seu agrado este gênero de serviço. Tornando-se independente dedicou-se ao magistério como professor de desenho no ginásio e científico, chegando a ser diretor do Senai. Atualmente trabalha numa empresa de móveis cujo capital é fornecido por americanos – USABRA. Kato veio do Japão antes de terminar o curso primário e, novamente, antes de poder terminar o primário na colônia de Acará, teve de abandoná-la para se dedicar ao trabalho. Dotado de excelente sagacidade por natureza e diligente, consegui superar os estudos sozinho e adquirir capacidade necessária para sua confirmação. Pessoa notável! Kato é sem dúvida a segunda pessoa a seguir os passos do pioneirismo após Tohoro Kassuga.
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O Colégio Anchieta ocupa a posição de dignidade e orgulho na cidade de Nova Friburgo. O primeiro japonês a frequentá-lo foi o jovem Sakakura que veio para o Brasil no mesmo navio que Kassuga. Infelizmente em pouco tempo faleceu. A ele sucedeu Shigeo Takeuchi, que atualmente dedica-se ao sacerdócio em São Paulo. Naquele tempo, no Colégio São Francisco de São Paulo, não funcionava ainda o curso ginasial e os estudantes japoneses que abraçavam a carreira do sacerdócio passaram todos por esse colégio. Assim, após o Padre Takeuchi vieram muitos outros. Todos foram excelentes alunos.
Nessa ocasião veio visitar Nova Friburgo o cônsul japonês em São Paulo e Kassuga levou-o ao Colégio Anchieta. O diretor ficou satisfeitíssimo com essa visita e reuniu os alunos japoneses e pediu ao cônsul para que dirigisse a eles umas palavras de encorajamento. De volta a São Paulo, o cônsul enviou uma grande quantidade de impressos sobre os japoneses de São Paulo, materiais estes elucidativos para a orientação daqueles estudantes.
Naquela época, além do Colégio Anchieta, havia mais dois colégios de curso secundário em Nova Friburgo: O Colégio Modelo (misto) e o Colégio Nossa Senhora das Dores – tradicional educandário feminino.

Carlos Jayme Jaccoud
Um pouco de história
Carlos Jayme Jaccoud é historiador.
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