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Nova Friburgo e o seu clima
sábado, 31 de julho de 2010
A primeira notícia oficial sobre a excelência do clima de Nova Friburgo foi divulgada por uma junta médica no ano de 1820, ano aceito como o da chegada dos suíços à Vila de Nova Friburgo. Na verdade, os suíços embarcados na Holanda em setembro e outubro de 1819, aqui chegaram, na sua maioria, em novembro e dezembro daquele mesmo ano. Apenas dois dos navios, o Elizabeth Marie e o Camilus, por problemas ocorridos durante a viagem, só adentraram a baía do Rio de Janeiro em fevereiro de 1820. Foram sepultados no oceano trezentos e onze imigrantes, vitimados por uma febre adquirida nos brejos da Holanda que, acreditamos, tenha sido o tifo. Mas as mortes continuaram depois da chegada ao Brasil. Em Macacú, numa enfermaria improvisada dentro de um convento lá então existente, mais trinta e cinco suíços morreram e, nos meses seguintes, depois de instalados em Nova Friburgo, aquela terrível doença continuou a ceifar vidas. Esta sequência de mortes alertou as autoridades do governo. Formou-se um conselho com dois médicos portugueses vindos do Rio de Janeiro e mais o doutor Jean Bazet, que acompanhava os imigrantes desde a Holanda. Examinaram o assunto e concluíram: eram vítimas de uma doença que começou na Holanda, agravou-se durante a viagem e, com o clima seco e saudável do inverno de Nova Friburgo ela já estava começando a entrar em declínio. E foi o que aconteceu: as mortes diminuíram acentuadamente no inverno e cessaram na primavera. A notícia da eficiência do nosso clima começou a se espalhar.
Em 1828, com o início da democratização do nosso sistema eleitoral, o doutor Jean Bazet candidatou-se à Câmara Municipal e foi o vereador mais votado naquela eleição. Conforme a nova lei, o candidato mais votado para a Câmara assumia a sua presidência e, assim, Jean Bazet foi o primeiro a presidi-la em nossa Vila. Começou uma revolução administrativa em nossa terra. Uma de suas grandes realizações foi a mudança do caminho para a Corte que abandonou o chamado “cemitério de mulas”, que era o nome dado ao antigo caminho da serra e o abriu pela margem esquerda do Rio das Cachoeiras, acompanhando, em linhas gerais, o mesmo traçado da nossa atual estrada de rodagem. Quando terminaram as obras do novo caminho a Câmara, por proposição de Bazet, mandou publicar na imprensa do Rio Janeiro um anúncio para “convidar aos Povos do Rio de Janeiro, tanto aos nacionais como aos estrangeiros que quisessem vir gozar das vantagens que o nosso clima oferece, participando-lhes que em breves dias se acabará uma porção de caminho na nova estrada da Serra da Boavista que facilitará o trânsito na parte mais dificultosa...”. Tudo indica que o anúncio foi publicado mas, lamentavelmente, ainda não temos como comprová-lo. Novamente foram divulgadas as qualidades do nosso clima.
Passaram-se os anos. A tuberculose, doença tinhosa e de difícil tratamento que ia corroendo as entranhas de quem tinha a infelicidade de contraí-la, dizimava grande número de pessoas no nosso país. Naquela época ela só tinha um tratamento: repouso, boa alimentação e clima. E Nova Friburgo, todos diziam, tinha o clima ideal para a sua cura. E para aqui começaram a chegar os que tinham condições de enfrentar a difícil viagem que oferecia os nossos então difíceis caminhos de acesso. Os que aqui chegavam encontravam um outro obstáculo: onde se acomodarem para usufruir a benesse do clima. Começaram, então, a aparecer as pensões e os pequenos hotéis em Nova Friburgo. Apesar da melhoria da estrada da Corte, era longa e difícil a viagem até aqui.
Com a chegada da estrada de ferro, em 18 de dezembro de 1873 começou, verdadeiramente, a corrida de pessoas que para aqui vinham usufruir o clima da nossa serra, corrida essa que só acabou quando, há poucas décadas, a medicina descobriu o modo eficiente de, sem a ajuda do clima, combater aquela terrível doença.

Carlos Jayme Jaccoud
Um pouco de história
Carlos Jayme Jaccoud é historiador.
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