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Nova Friburgo e as formigas saúvas
sábado, 31 de julho de 2010
É difícil de acreditar que a formiga, um inseto tão pequenino e frágil já foi uma ameaça à agricultura nacional. Lembramo-nos bem, do nosso tempo de jovem, quando aqui ainda existia a saudosa estrada de ferro, meio de transporte utilizado em todo o mundo e que aqui, no Brasil, num governo de visão limitada, foi quase completamente extinto. Lembramo-nos de ver, afixado nas estações ferroviárias, montes de cartazes do Ministério da Agricultura com os dizeres “Ou o Brasil acaba com saúva, ou a saúva acaba com o Brasil”. Era difícil de acreditar naquelas palavras mas elas eram verdadeiras. O nosso país, que então vivia quase que exclusivamente da agricultura se via às voltas com a ação destruidora daqueles pequenos insetos que faziam suas casas em ocultas ‘panelas’ subterrâneas, ligadas entre si e com a superfície por enormes e serpenteantes canais sob a terra. Para as ‘panelas’ levavam as formigas as folhas cortadas das lavouras para com elas alimentarem os fungos que produziam seus alimentos. O grande problema que enlouquecia os agricultores era a inexistência de uma maneira eficiente de combatê-las. Elas sempre iam ganhando a luta nos processos então empregados para isso. O único e trabalhoso método eficiente então existente era fazer uma enorme e funda escavação no local em procura das ‘panelas’ para serem eliminadas e, com isso, conseguir acabar com o formigueiro.
A vila de Nova Friburgo, por estar situada em terreno mais frio, era menos sujeita aos ataques das saúvas, o que não acontecia com sua parte mais baixa como, por exemplo, com o seu então distrito de São José do Ribeirão. Em 11 de agosto de 1874 chegou à Câmara um ofício, mandado pelo fiscal local, em que comunicava a reclamação de moradores lá residentes pedindo providências para a eliminação de um enorme formigueiro existente na praça central daquele distrito. A Câmara determinou que ele orçasse as despesas para a sua eliminação e, posteriormente, ele informa que são oito os formigueiros naquela praça e que obteve para o serviço o orçamento de vinte mil réis por formigueiro. Imaginando que, naquele tempo, um trabalhador braçal ganhava pouco mais de um mil réis por dia, podemos avaliar o custo da eliminação de um formigueiro. Pelo seu volume o serviço foi levado a hasta pública. Em 1877 o fiscal junto àquele distrito informa à Câmara que os agricultores de lá reclamavam que o grande número de formigueiros existentes no então vizinho município de Cantagalo estavam infestando suas lavouras e achavam ser de justiça que a Câmara de Nova Friburgo oficiasse à Câmara de Cantagalo pedindo providências a respeito. Mandou-se oficiar.
Em 25 de agosto de 1884 a Câmara, ante denúncias recebidas, mandou que se oficiasse ao fiscal de São José do Ribeirão para que intimasse os proprietários dos terrenos em que existissem formigueiros para cumprirem, em curto prazo, o que dispunha o artigo 173 das Posturas Municipais, sob as penas nele indicadas e que apresentasse uma lista nominal dos intimados. Dias depois o fiscal informa haver feito a notificação a 39 proprietários de terras. O assunto era tão sério que até as posturas municipais tratavam dele.
Os tempos passaram e novos e eficientes processos para o combate às destruidoras formigas saúvas foram aparecendo. Hoje, com relativa facilidade, elas podem ser aniquiladas e não mais apresentam o risco de “acabarem com o Brasil”, como imaginavam as autoridades agrícolas daqueles velhos e saudosos tempos.
São José do Ribeirão deixou de pertencer ao município de Nova Friburgo em 6 de julho de 1891.

Carlos Jayme Jaccoud
Um pouco de história
Carlos Jayme Jaccoud é historiador.
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