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A igreja matriz em Nova Friburgo – II - 4 de fevereiro 2011
domingo, 31 de julho de 2011
Há quase dez anos falamos, nestas páginas, sobre a Igreja Matriz da Paróquia de São João Batista de Nova Friburgo, solenemente prometida por D. João VI aos imigrantes suíços que chegariam ao Brasil. Promessa Real e, naquela época, já diziam que “palavra de Rei não volta atrás”. Mas, há sempre um “mas”. Logo depois da chegada dos suíços as coisas “esquentaram” em Portugal e D. João VI, que tivera o sonho de reinar um Império Português com sede no Rio de Janeiro, longe das garras e dos olhos grandes dos imperadores europeus, foi forçado a regressar a Portugal e os seus afilhados, os suíços de Nova Friburgo, ficaram sem padrinho.
Em 1865, quarenta e cinco anos depois da chegada dos suíços, a Igreja Matriz da Paróquia de São João Batista de Nova Friburgo continuava humildemente instalada não mais num cantinho duma varanda do Château mas, então, graças a uma atitude corajosa do seu primeiro pároco, o padre Jacob Joye, funcionando na varanda da casa da Câmara Municipal de Nova Friburgo, no centro da vila. No dia 1° de maio de 1865, quase meio século depois da sua instalação em nossa terra, o vereador Mindelino Francisco de Oliveira, numa sessão ordinária da Câmara, apresentou o seguinte requerimento:
“Senhor Presidente. Os sentimentos que nutro pela prosperidade deste município que tão benignamente me tem acolhido, o respeito que tributo à religião Católica Apostólica Romana, me induzem a vir hoje ocupar a vossa atenção sobre uma das mais palpitantes necessidades desta Vila. Falo da Igreja Matriz que nunca tivemos e dos atos religiosos que desde a criação desta Vila têm sido sempre exercidos, no princípio em um uma varanda do antigo Château, presentemente na varanda desta casa da Câmara. Detalhar com precisão o que se tem dado ser-me-á desnecessário, porque cada um de vós sois, como eu, testemunhas oculares do que tem acontecido. Também não se diga que temos um templo em construção porque esse templo, tendo sido principiado há cerca de doze anos, há mais de quatro que se despediram todos os operários que nele trabalhavam, deixando a torre por terminar e todo o seu madeiramento em deterioração. O governo de D.João VI, pela convenção celebrada com o agente da colonização suíça, em 1818, comprometeu-se a mandar construir a capela mor desta Matriz mas essa promessa real nunca chegou a ser cumprida e, por isso, todos os atos religiosos sempre foram exercidos de mistura com atos profanos, com especialidade depois que se adaptou a matriz à varanda da casa das nossas sessões porque, nessa varanda que devia ser destinada para atos religiosos da freguesia, também o júri celebra ali suas seções. Nessa mesma varanda e perante o altar de Deus é que os acusadores e os defensores proferem as mais profanas e irritantes palavras, nessa mesma varanda é que se lavram e publicam as sentenças de morte aos réus, nesta mesma varanda finalmente, onde o altar é permanente, serve ela de cabide dos chapéus dos jurados. Estes e outros muito fatos que em despeito ao respeito e acatamento que devemos tributar à casa de Deus e a Santidade da Religião que professamos tornam-se, senhores vereadores, dignos da nossa particular atenção, fazendo-as por repetidas vezes chegar ao alto conhecimento do Exmo. Sr. Presidente da província, em que esta Câmara divisa as melhores intenções de promover a felicidade pública da província que dignamente preside, rogando-lhe, encarecidamente, de mandar ao menos desde já concluir a torre, a capela mor, o assoalho, o forro e o telhado do corpo da Matriz, para nela se poder celebrar a santa missa e, para este fim, tenho a honra de apresentar o projeto anexo. Em discussão e votação, foi o projeto aprovado.
A Igreja Matriz da Vila foi finalizada quatro anos mais tarde e solenemente inaugurada no dia 8 de dezembro de 1869, 51 anos depois da promessa de D.João VI.

Carlos Jayme Jaccoud
Um pouco de história
Carlos Jayme Jaccoud é historiador.
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