Hotéis em Nova Friburgo - 4 de janeiro de 2011

terça-feira, 11 de janeiro de 2011
Todos sabem que a nossa cidade foi criada por um decreto de D. João VI e que, nas condições estabelecidas com Gachet, aquele faria construir uma vila e duas aldeias com o total de cem casas para receber, provisoriamente, as cem famílias suíças que este traria do Cantão de Fribourg, onde os suíços ficariam provisoriamente até que se alojassem nos terrenos agrícolas que aqui receberiam. Por má fé de Gachet, aqui chegaram mais do dobro dos suíços que eram esperados. Eles tiveram de ser amontoados nas pequenas e provisórias casas construídas. Os terrenos foram sorteados e grande parte deles recebeu terrenos impróprios para a agricultura. Grande número dos imigrantes debandou em busca de terrenos melhores. A Vila ficou quase que abandonada. As casas vazias da vila foram sendo ocupadas por famílias de luso-brasileiros que para cá acorreram e, depois, pelos alemães, chegados em 1824. A Vila, aos ‘trancos e barrancos’, foi sobrevivendo e até começando a crescer. Os suíços que a abandonaram, e até alguns alemães, foram, com muito sacrifício, criando as suas fazendas nos municípios vizinhos e, graças ao seu trabalho, começaram a progredir. Estes, de quando em vez, necessitavam vir à Vila para cuidar dos seus negócios. Onde ficarem nessas rápidas visitas? Surge aí, na nossa história, a primeira notícia sobre a existência de hotéis e pensões em Nova Friburgo: Na ata da Câmara de 17 de dezembro de 1835, em resposta a um ofício do Brigadeiro Miranda e Brito, informa a Câmara que “na vila se encontram 6 casas de aluguel de alojamento em que ficam a maior parte dos fazendeiros quando aqui vêm” e que o seu aluguel diário chega a “dois e três mil réis diários”. Em 17 de outubro de 1839, Guilherme Salusse pede à Câmara que se lhe passe licença para receber, em sua casa, doentes que vêm se curar. Despacho da Câmara: “Declare o requerente se quer licença para ter um hospital ou para uma hospedaria onde receba doentes para tratamento”. Resposta de Salusse: “Não deseja licença para hospital, e sim para uma hospedaria onde possa receber doentes que se venham curar”. Vejam só. Há 170 anos passados, vinha gente do Rio de Janeiro, enfrentando uma viagem de vários dias no lombo de um burro, em procura do nosso clima para se curar. Dez ano depois, Gustavo Leuenroth pede à Câmara para ser dispensado de pagar direitos de hotelaria, alegando não a ter. A Câmara responde que, sendo público e notório que o suplicante hospeda pessoas ante pagamento, indefere o pedido. Interessante. Nós sempre pensamos que essa “alergia” a pagar impostos, era uma herança dos portugueses que nos descobriram. No entanto, vemos acima, exemplo de descendente de outra nacionalidade com essa mesma doença. Esse pedido de Leuenroth é datado de setembro de 1849. No fim do ano seguinte, encontramos o testemunho do alemão Hermann Burmeister. Ele conta, em seu livro Viagem ao Brasil, que aqui esteve com um seu filho no período de dezembro de 1850 a abril de 1851 e que ficou hospedado no Hotel Leuenroth. Ele, descrevendo a vila, diz que: “Uma outra hospedaria de grande destaque e renome nessa vila realizava bailes com finalidades filantrópicas. Recebi dois convites para tais reuniões, mas devido ao estado de saúde de meu filho não pude aceitá-lo”. Ele, provavelmente, referia-se ao Hotel Salusse. Vejam a descrição que ele faz do Hotel Leuenroth, ao qual tece elogios: “As casas destinadas a receber forasteiros consistem, em geral, de uma longa fila de quartos com janela e porta dando para a rua ou, às vezes, para um pátio interno. Não há comunicação interna de casa para casa e para visitar o vizinho é preciso passar pela rua. Na época das chuvas, quando íamos tomar as refeições, para atravessarmos a lama que se formava usávamos grandes chinelos de madeira chamados “tamancos”. Ele elogia a alimentação servida por escravos e a cortesia e tratamento dispensada pela família Leuenroth. Já J. J. Von Tschudi, que por aqui se alojou por nove meses na década de 1860, dez anos depois de Burmeister e que declarou o seguinte em seu livro Viagem às Províncias do Rio de Janeiro e São Paulo: “As vantagens climáticas desse delicioso vale atraem anualmente grande número de veranistas desejosos de fugir do calor sufocante da metrópole. Eu, como homem simples, daria preferência a Nova Friburgo antes que a Petrópolis, no mínimo para evitar a descomunal falta de higiene da maioria das hospedarias de tão predileto local de veraneio”. E continua: “As hospedarias de Nova Friburgo superam em tudo as de Petrópolis, merecendo o hotel do senhor Leuenroth menção honrosa”, e mais adiante: “Devo ainda mencionar as hospedarias de Mme. Claire, Guilherme Salusse e Francisco José Magalhães”. Nas atas encontramos ainda referências ao Hotel Mages (1885), no prolongamento da futura Rua Dona Umbelina (Rua Souza Cardoso), do Hotel de Dimas Ferreira Pedrosa (1870), na Rua do Lírio (Rua Farinha Filho), do Hotel Magalhães (1875) e o de Carlos Engert & Cia, que durante vários anos fora os arrendatário do Hotel Leuenroth e depois fundaram o grande e famoso Hotel Engert que veio até a metade do século 20.
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Carlos Jayme Jaccoud

Um pouco de história

Carlos Jayme Jaccoud é historiador.

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