A história da Rua Alberto Braune - 5 de abril 2011

domingo, 31 de julho de 2011
Já estava terminando o ano de 1831. Na Câmara da Vila de Nova Friburgo discutia-se o “Plano da Vila”. Ruas precisavam ser projetadas e abertas para o seu crescimento. No dia 27 de outubro daquele ano a Câmara estava reunida na sua sala no “Château du Roi” — apelido dado pelos suíços, quando aqui chegaram, ao prédio da sede da Fazenda do Morro Queimado. Era o maior prédio da região e, no pensamento deles, o único capaz de acolher D. João VI se ele resolvesse aqui chegar. O nome “Château” perdurou durante quase dois séculos, mesmo após a demolição do prédio original e a construção, no seu lugar, do majestoso Colégio Anchieta dos nossos dias, que enfeita e é orgulho da nossa cidade. Naquele dia, depois de muito debaterem, o seu presidente Jean Bazet saiu com seus vereadores para mostrar o local onde pretendia abrir uma grande rua na Vila, muito larga para aquele tempo. Desceram o morro e caminharam até à frente da Casa da Inspeção, que ficava defronte ao projetado e inacabado “quartel” constante do projeto inicial da Vila e onde hoje se situa o nosso Grupo Escolar Ribeiro de Almeida. Ali todos concordaram que a nova rua acompanhasse uma linha oblíqua tirada do Armazém — localizado onde hoje se ergue o Edifício Caputo —, passasse em frente à Casa da Inspeção e seguisse reto até em frente à rua que ia para a Vila de Cima, rua esta conhecida hoje como Rua Leuenrot. Jean Bazet estudara medicina em Paris e lá morou nos primeiros anos que se seguiram à sua diplomação e até ser arrebanhado por Gachet para se incorporar à migração suíça para o Brasil. Ele já conhecia as ruas largas que lá se iam abrindo. Isto, presumimos, determinou a largura marcada para a futura rua, enormemente larga para a época, especialmente para uma pequena vila no interior do Brasil. A linha do lado direito da futura rua seguiria pela parte plana e alagadiça que acompanhava o Rio das Bengalas. A linha do lado esquerdo seguiria pegando as beiradas de morro que lá existiam. Daí a justificativa do nível da calçada esquerda ser mais alto do que o da calçada direita, e de que os prédios construídos daquele lado o foram sobre cortes feitos nos morro. A terra destes cortes ajudaria a nivelar a nova grande rua. Ali, naquele local, ela foi batizada de Rua do Senado. Embora já planejada somente em 1841, dez anos depois, a rua foi devidamente traçada e medida, acusando uma extensão de 280 braças (866m) de terreno edificável. Passaram-se os anos e aquela rua foi sendo habitada e aterrada. Os seus terrenos da parte direita iam até a margem do Rio das Bengalas, que serpenteava por traz deles, mas eram terrenos em grande parte alagadiços e inaproveitáveis. Com a retificação do rio entre o encontro dos rios Santo Antônio e Cônego e a Ponte do Suspiro, efetuado pela Província nos anos 1880, tornou-se necessário o aterro e a abertura de uma rua na margem por onde hoje passa Av. Comte Bittencourt. A Câmara, como sempre, não tinha dinheiro para esta obra. Mais uma vez surgem os Nova Friburgo. O Conde propõe à Câmara fazer a obra se ela consentisse em que ele para ali mudasse os trilhos do bondinho que seguia até a sua casa na Praça Princesa Isabel. Licença concedida e obra executada. Os proprietários de terrenos da Rua do Senado foram aterrando os seus terrenos alagáveis. Novas ruas perpendiculares foram sendo por eles abertas entre aquela rua e a nova avenida. A Vila ia crescendo e com ela a Rua do Senado e as suas perpendiculares abertas iam recebendo novas casas. Nela, no lado par, grandes casas foram sendo levantadas, como as mansões das famílias Braune, Caputo, Sertã e Engert. No seu fim, do lado esquerdo, havia o terreno que fora destinado a uma praça, a projetada Praça da Alegria, que não saiu do papel. Ela fora cedida pela Câmara, em 1870, para que nela se edificasse a primeira estação da Estrada de Ferro, local hoje ocupado pelos prédios da Prefeitura Municipal. Com o passar do tempo a rua foi sendo aplanada, córregos e valas para as águas de chuvas foram sendo canalizados e, já nos anos vinte do século passado, foi pavimentada com paralelepípedos de granito. Este calçamento foi substituído por blocos de cimento no governo Amâncio Mario de Azevedo. É interessante assinalar que, na ocasião da sua primeira pavimentação, as casas que nela comerciavam com atacado mandaram cravar no meio fio várias argolas de ferro. Elas serviam para amarrar o cabresto das mulas das tropas que lá iam levar os produtos agrícolas colhidos nas fazendas da região. As tropas de mulas eram um meio de transporte muito utilizado então. Os caminhões ainda engatinhavam. O nome Rua do Senado se conservou até o fim da Guerra do Paraguai quando, em 15 de janeiro de 1871, foi mudado para Rua General Argolo, nome este que se manteve até o dia 30 de julho de 1928, quando foi mudado para Rua Alberto Braune.
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Carlos Jayme Jaccoud

Um pouco de história

Carlos Jayme Jaccoud é historiador.

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