A história da nossa terra

sábado, 31 de julho de 2010
Já se vão dois meses que eu não me sento diante desta máquina maravilhosa para escrever um pedacinho da história da nossa terra, o que venho fazendo há um punhado de anos. O que estará acontecendo? Preguiça ou ‘enferrujamento’ dessa memória que está chegando aos seus longos 88 outonos? O que estará passando comigo? Tem horas em que tenho a vontade de escrever alguma coisa, sento-me diante do computador e sou derrotado pela memória. Tem hora em que tenho a lembrança de algum assunto, preparo-me para escrevê-lo mas falta-me o ânimo para tal. O que estará acontecendo com essa carcaça velha? Tenho convicção de que já dei uma pequena contribuição para o conhecimento de um pedaço da história de Nova Friburgo. Quando decidi transcrever as atas da Câmara de Nova Friburgo desde o seu início até o fim do império, fazia ideia da tarefa que ia enfrentar: vinte volumes de uma escrita quase toda muito difícil, com pedaços destruídos ou ilegíveis e, apesar dos muitos erros e falhas que cometi no transcurso da transcrição, coloquei-as ao alcance da população interessada e na esperança de que a Câmara Municipal venha a fazer a revisão da matéria transcrita e, outros mais capazes venham a corrigir e aperfeiçoar o trabalho executado que representa seis anos de transcrição, embora sem ter sido de tempo integral. Em compensação havia semana em que, tirando sempre um tempinho para a soneca de depois do almoço, o serviço de transcrição me tomava o dia todo, inclusive entrando pela noite. De quando em vez, empregava parte do meu tempo em outras atividades como a de trabalhos da Associação e do Instituto Fribourg-Nova Friburgo. Até, junto com a minha dedicada esposa Alba que muito me incentivava, dava uns passeios rápidos de quando em vez. Confesso que comecei tarde a dedicar-me à história da nossa terra e, já disse, em uma das crônicas, que este interesse começou em 1979 quando, visitando a Suíça pela primeira vez, fui conhecer Fiaugères, uma pequena aldeia do Cantão de Fribourg, de onde vieram os Jaccoud na sofrida imigração de 1819/1820. Lá, por indicações da agente dos correios, encontrei um Jaccoud num grande e velho “chalet” que tinha na mansarda a gravação do ano da sua construção: “1817”. Não tive mais dúvidas. Nela meus antepassados viveram, ou por ela passaram, até migrarem em 1819. Ali, naquele ano de 1979, quase dois séculos depois, quando por ali passávamos, vivia um ancião chamado François Jaccoud, um senhor bastante idoso e muito parecido com o meu avô paterno, há muito falecido. Depois de minha irmã dizer a ele, em francês, que éramos trinetos da viúva Nanete Jaccoud, que para o Brasil imigrara com seus quatro filhos, ele ficou parado por uns instantes e depois disse que se lembrava de sua mãe dizer, quando ele era pequeno, que “ela nunca mais veria as suas primas, filhas de sua tia Nanete”. Ele começou a chorar e a nos dizer: “Somos primos! Não. Somos irmãos!” e nos abraçou chorando. A emoção era grande. Todos choraram. Dizem até que, naquele dia, o Rio Sarine que banha a região, subiu um pouco de nível ... Em 1981, quando da comemoração do quinto centenário da incorporação do Cantão de Fribourg à Confederação Suíça, estive novamente naquela casa de François Jaccoud e encontrei-me com ele. François, aos 86 anos, faleceu em 23 de abril de 1984, em consequência de um acidente quando trabalhava na lavoura. Em outubro de 2007 voltei a passar por lá e tive uma grande decepção: A velha mansarda de 1817 que me encantara, não mais existia. Em seu lugar duas modernas casas foram construídas e nelas moram descendentes seus que se dedicam à agricultura, como todos da região. Neles, as ‘carecas’, marca registrada da família, estavam presentes. Vamos torcer para que este problema pelo qual estou passando seja uma questão passageira e que eu continue ‘contando histórias’, apesar dos meus quase 88 anos...
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Carlos Jayme Jaccoud

Um pouco de história

Carlos Jayme Jaccoud é historiador.

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