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Desordeiros nos tempos da vila - 4 a 6 de dezembro.
terça-feira, 11 de janeiro de 2011
Era tranquila a vida na Vila de Nova Friburgo nos idos de 1830. De norte a sul ela não passava do entorno da nossa atual Praça Getúlio Vargas, tendo ao sul a Vilagem de Cima, nosso atual Paissandu, e ao norte a nossa Vilagem, que na época era conhecida como a Vilagem de Baixo. Em volta da Vila, especialmente na parte norte, havia chácaras de luso-brasileiros que para cá acorreram quando se anunciou a chegada dos suíços.
A vila, após uns pequenos problemas tidos em 1820 com imigrantes que para aqui vieram “empurrados” pelo desonesto Gachet, era tranquila. Naquele ano, o chefe de polícia Quévremond, suíço que para aquele cargo fora nomeado pelo administrador da colônia e qual obrigou esses suíços criadores de baderna a retificarem o córrego das Braunes ou a perderem os subsídios que recebiam. Com a ameaça de perderem a “grana”, eles fizeram o trabalho e ajeitaram o “córrego dos suíços”, que hoje, em canalização subterrânea, corta a praça e segue pela Rua Dante Laginestra até o Bengalas.
Na vila de Nova Friburgo, construída em 1818 e 1819, não existia cadeia, talvez por esquecimento de quem a projetou.
A palavra cadeia só vem a ser mencionada nas atas em 1922, dois anos depois da chegada dos suíços, quando comentam a fuga de um preso colocado numa das casas coloniais e que a arrombou durante a noite e “deu no pé”. Também, de uma casa de “pau a pique” adaptada como cadeia, não se podia esperar outra coisa...
Somente em 18 de dezembro de 1830, a Câmara, em sessão extraordinária, já sob a direção do dr. Jean Bazet, volta a falar em desordeiros na vila. E o caso era feio. Na vila apareceram três deles que, conforme o registrado naquela ata, andavam fazendo diabruras por ela. Foram presos e fizeram um recurso de protesto à Câmara. Vejamos o relato do vereador Mindelino do Oliveira naquela ata: “Se o motivo de V.S. convocar esta Câmara Extraordinária é só o requerimento dos réus era desnecessário. Toda a Vila não ignora o mau procedimento dos réus. Vejam as atas com as providências que foram pedidas ao Governo Imperial. Até então estávamos desprevenidos de policiais. Eles atropelavam a todos, achincalhavam as autoridades. S.M. Imperial atendeu aos nossos apelos e mandou colocar nesta vila um destacamento militar para que as nossas autoridades, livre de pressões, pudessem exercer a Justiça com segurança. Se os réus se acham presos é porque a devassa agora feita por novos crimes por eles perpetrados foi por mim determinada com a autoridade que tenho como Suplente do Juiz de Paz e foram os réus pronunciados e presos. A Câmara nada tem com o assunto.” O senhor Vereador François Perroud disse: “Sr. Presidente. Quais têm sido os desordeiros desta Vila? Desde o desgraçado dia em que ela recebeu aquele mau cidadão Lisboa no meio dos seus habitantes não mais houve tranqüilidade. Sua casa sempre foi coito de malfeitores e ele prevaricador da mocidade e promotor da anarquia”. O vereador Oliveira tornou a falar: “Sr. Presidente. Se o Juiz não admitiu aos réus fiança é porque não as requereram nos termos da lei. Todos os seus requerimentos eram insultando-o a ponto do Juiz, que tem a sua residência contígua à prisão se viu obrigado a abandoná-la com as gritarias e baixarias do mesmo Lisboa contra ele e as mais autoridades e habitantes da vila.”
Os desordeiros devem ter passado um período na prisão. Nunca mais vimos referências a eles. Devem ter se “escafedido” com a lição recebida.

Carlos Jayme Jaccoud
Um pouco de história
Carlos Jayme Jaccoud é historiador.
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