Colunas
As cadeias em Nova Friburgo
sábado, 31 de julho de 2010
As modestas cem casas iniciais de nossa cidade já estavam em conclusão quando aqui chegaram, trazidos em sete veleiros, os suíços que fundaram a nossa cidade. Segundo as cláusulas firmadas por D. João VI com o suíço Sebastien-Nicolas Gachet, ele deveria trazer “cem famílias católicas do cantão de Fribourg”, o que deveria constituir um grupo em torno de quinhentas ou seiscentas pessoas. Gachet, ante o sucesso com que a notícia da migração foi recebida pelos suíços, vislumbrou a possibilidade de ganhar algum dinheiro com ela: arregimentou e embarcou para o Brasil mais de dois mil imigrantes. Devido a problemas surgidos quando eles aguardavam os navios na Holanda, onde ficaram acampados numa zona pantanosa e pestilenta, contraíram doenças que os dizimaram durante a viagem. A Vila de Nova Friburgo, construída para receber cem famílias de imigrantes, teve que alojar, ou melhor, de amontoar nas casas de quatro cômodos, suíços portando mais de 500 sobrenomes...
No projeto da Vila foi prevista a construção das cem casas para receberem, provisoriamente, as cem famílias, um armazém para guardar gêneros, ferramentas e onde funcionaria a “botica”, a casa da administração da colônia, mais dois moinhos para a moenda das sementes das futuras lavouras dos suíços, um quartel para a polícia que foi apenas iniciado e uma olaria onde foram preparadas as telhas para as ditas construções. Não se pensou em cadeia. Esta logo se fez necessária. Na ata da Câmara de 26 de março de 1822, provavelmente com a desocupação de uma das casas com a ida dos colonos para seus lotes agrícolas, já que a debandada deles ainda não começara, consta que uma delas foi transformada em cadeia. Na ata daquele dia consta o seguinte: “acordaram mais que o Procurador da Câmara mandasse concertar o arrombamento que, para fugir, fez o preso João de Souza Lima, por pessoa de inteligência e que por menos fizer.” Imaginem a segurança da cadeia: uma casa de “pau a pique”, embora com paredes de acabamento “sarrafiado em cal e saibro”, sem forro nem assoalho!!! Que segurança para uma cadeia! A Câmara era muito pobre e sobrevivia com os parcos impostos pagos pelos poucos comerciantes da Vila e a cadeia ia sendo alojada, sucessivamente, em várias das casas coloniais que eram abandonadas pelos moradores que se mudavam para suas glebas. E essa situação perdurou durante trinta anos até quando, em 1851, três décadas depois, uma cadeia de verdade começou a ser construída pelo Governo da Província. E essa cadeia durou até o fim da década de 1920, quando foi demolida para a abertura da Rua Monte Líbano, e foi transferida para os porões da Prefeitura que, então, funcionava na antiga mansão do Barão de Nova Friburgo. Essa situação perdurou até a época da Segunda Grande Guerra.
Num antigo sobrado que existia na confluência dos rios Santo Antônio com o Rio Cônego, início do Rio Bengalas, existia um sobradão que foi residência da família Albino e, nos anos 1930, adquirida pela colônia italiana de Nova Friburgo e nela instalada a Casa da Itália, entidade que abrigava simpatizantes do Partido Facista Italiano em nossa cidade. Com o afundamento de navios brasileiros por submarinos do “eixo” durante a Segunda Guerra Mundial, o Brasil se declarou em guerra com aqueles países e determinou a intervenção federal e fechamento da Casa da Itália e da Escola Alemã. Para a Casa da Itália foi transferida a Delegacia de Polícia e a Cadeia que funcionava em instalações precárias e inadequadas no porão da Prefeitura.
Passaram-se os anos e a guerra com o eixo terminou. Veio a paz e, como resultado de acordos firmados, foi a Casa da Itália e mais a Escola Alemã devolvidas a seus antigos donos. A cadeia de Nova Friburgo, na sua andança ainda incompleta, foi novamente transferida para uma prisão construída ao lado da antiga e bela casa da Vila Amélia, e lá, em condições hoje mais do que precárias, aguarda uma urgente transferência para um local decente e apropriado.

Carlos Jayme Jaccoud
Um pouco de história
Carlos Jayme Jaccoud é historiador.
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
Deixe o seu comentário