Vamos crescer no tranco

"Coelhinho da Páscoa, que trazes pra mim?” – Um caderno Light cheinho das tradições de Páscoa! Delícia de capa! Eu também só quero chocolate. Ainda mais agora, sabendo que era a "bebida dos deuses maias e a moeda dos astecas” e que faz bem à saúde. Entretanto, as primeiras impressões da viagem deste domingo pascoal ficam por conta das lembranças de minha casa de infância. 

O Light me conduz à Travessa Bonsucesso I, casa 10, onde mamãe preparava e escondia os ninhos. Eram caixas de sapatos encapadas com papel de presente e forradas com bastante tirinhas de celofane, formando a maciez da caminha para os ovos. A sensação mais gostosa era a de correr os quatro cantos da casa para desvendar os esconderijos do coelho invisível.  

– Calma, Elisabeth! Volte ao texto e mantenha o "consumo moderado” de lembranças! 

– Que nada! Essa nostalgia faz parte da celebração da "fertilidade” das ideias que fluem quando a leitura do jornal me induz ao belo e ao sonho.

O importante de tudo isso, daqui em diante, é adotarmos novos conceitos. Assim, sem aquele peso na consciência, depois das indicações dos benefícios do chocolate, se "o ideal é consumir cerca de 30g por dia”, vamos tornar a Páscoa um grande evento diário, desenvolvendo o espírito de "renascimento” da Luz do Amor. E, para a sobremesa, quem sabe, uma "colomba” ou um belo "sonho de chocolate”?  

Da estação Light, com a alma leve, nutrida de bons sentimentos, vislumbro a Rua Augusto Cardoso. A foto, com direito a céu azul intenso, condiz com as virtudes do homenageado, "decano do jornalismo friburguense”. O agradável texto de Dalva convida às reverências: palmas para o augusto espírito humanitário do profissional que usava delicadeza com assuntos melindrosos, evitando "insultos, rancores e discórdias”. 

"Chega! Paciência tem limites.” — Esse foi o desabafo, Há 50 Anos, para invocar o descontentamento com o caos no sistema de repetidoras de TV na cidade. "Os constantes e enervantes enguiços nas transmissões” eram os fantasmas da época. Queixumes, na mesma edição, sobre o anúncio da morte do doutor Sílvio Braune, personalidade ilustre. Aplausos para o novo prefeito Heródoto, que tinha uma "tarefa hercúlea e ciclópica” de colocar "ordem na casa”. Mas... vamos sair do túnel do tempo? — Não sem antes cumprimentar Rogério Albertini pela exposição sobre Ayrton Senna, no Cadima Shopping. Parabéns, Rogerinho, jovem colecionador de memórias!

Em "Sociais”, confesso que me admirei: Lucas Bonan, 3 anos! Parece que foi ontem que fiz uma trova para o nascimento desse "garotão super esperto”! A coluna é toda festa, com lindas crianças ensaiando as primeiras experiências de vida. Bom sinal de esperanças no futuro. É nessa geração que colocamos fé, para o exercício pleno da cidadania. São nessas carinhas graciosas que investimos a confiança de um Brasil novo, que dispense o emprego de leis para "educar”. Serão essas crianças, conscientizadas, agentes de um comportamento natural e transformador. Sem necessidades de lei disso e lei daquilo, porque a educação terá sido um processo de responsabilidade desde o berço. 

Parece que esse futuro não está assim, tão distante. Já temos em Mariana Nicolau Oliveira, a Mzungu, um "Ponto de Vista” cheio de luz. Ela, que deixou um pouco de si em Uganda e confessa ter voltado mais inteira, trouxe lições incríveis de solidariedade. O fato de, aos 19 anos, ter vivenciado um ambiente de profunda miséria, enriqueceu sua visão de mundo. "Um brinde aos perrengues”, "Vamos crescer no tranco”, "tirar o melhor de todas as situações” são algumas das máximas que vieram na bagagem. Acompanhando seus depoimentos e pensando em Uganda, a gente se lembra da canção de Mogli: "Necessário, somente o necessário... o extraordinário é demais”!