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Veículos de uso compartilhado
Após falarmos sobre carros elétricos e autônomos, é hora de abordarmos o terceiro entre os principais aspectos do automóvel como o conhecemos que certamente será afetado ao longo das próximas décadas: os veículos de uso compartilhado.
A ideia pode soar estranha, especialmente num país onde o automóvel sempre foi trabalhado como sinônimo de status e objeto de consumo por excelência. Mas a taxa de crescimento no número de usuários mundo afora - e também em algumas cidades brasileiras - não deixa dúvidas quanto às vantagens do compartilhamento, ao menos para quem necessita de veículos apenas para curtos deslocamentos urbanos, em dias específicos.
O sistema desenvolvido em Paris, por exemplo, começou a operar em outubro de 2011 com 66 veículos e 33 estações. Cinco anos depois já havia 4 mil automóveis em 82 cidades, com 5700 locais de parada. Atualmente já são registradas mais de 100 mil locações por semana, com média de utilização por usuário de 12 km ou uma hora. Além disso, a expectativa é de que os números continuem a crescer exponencialmente nos próximos anos, chegando a 12 milhões de usuários e 450 mil veículos em 2020. De acordo com a consultoria norte-americana McKinsey, serviços como o compartilhamento de automóveis representarão um mercado de US$ 1,5 trilhão em 2030 – o equivalente a 22% da receita gerada pelo setor no mundo.
Diante de tendência tão consolidada, fabricantes de veículos entendem que já não podem mais apenas produzir carros. É preciso que se tornem provedores de mobilidade. O grupo PSA (Peugeot, Citröen e DS), por exemplo, investe US$ 350 milhões na Free2Move, que integrará serviços como compartilhamento, gestão de frotas de veículos elétricos, locação de carros entre particulares e desenvolvimento de aplicativos.
O sucesso do sistema de compartilhamento se baseia em dois pilares principais: economia e benefícios à mobilidade urbana. Começando pelo último, os efeitos são fáceis de se compreender. Estudos apontam que, em média, cada automóvel fica parado ao menos 22 horas por dia, em grandes cidades. Além disso, muitas das vezes em que circulam, estes carros transportam apenas uma ou duas pessoas, mantendo diversos lugares vazios. Os carros de uso compartilhado, por sua vez, circulam por muito mais tempo, transportando muito mais pessoas fazendo uso do mesmo espaço.
Já as vantagens de custo têm relação direta com um assunto abordado recentemente aqui mesmo, uma vez que os sistemas de compartilhamento estão diretamente relacionados à tecnologia de automóveis elétricos. Em Fortaleza, cidade que lidera a iniciativa no Brasil, a liberação do automóvel é feita por meio de aplicativo, e há uma taxa mensal de R$40 revertida em crédito – cada meia hora custa R$ 20. Minutos extras custam entre R$ 0,50 e R$ 0,80, de acordo com o período de uso.
O tema é vasto demais para que seja esgotado em apenas um texto, e por isso marcamos novo encontro na semana que vem, para que possamos detalhar os vários tipos de compartilhamento que já vêm sendo praticados no Brasil e no mundo.
Até lá!
Márcio Madeira da Cunha
Sobre Rodas
O versátil jornalista Márcio Madeira, especialista em automobilismo, assina a coluna semanal com as melhores dicas e insights do mundo sobre as rodas
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