Um autódromo em Nova Friburgo?

domingo, 23 de abril de 2017
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Bom, antes de mais nada, preciso dizer que o objetivo deste texto é apenas o de plantar uma sementinha, propor uma discussão. Entendo que Nova Friburgo vive um momento especial em termos de representação, influência e simpatia dentro do cenário nacional, com 21 vereadores de todos os cantos da cidade, um prefeito com fortes ligações no Estado e em Brasília, deputados atuantes, uma grande bancada de parlamentares ligados à cidade, e uma relação próxima com o governador, por pior que esteja a situação no Palácio Guanabara. Além disso, a cidade encontra-se às vésperas de seu bicentenário, e ainda conta com a boa vontade nacional em razão do sofrimento que viveu em 2011. Ou seja, se não tivermos a ousadia de pensar grande num momento como este, então talvez esta geração fique marcada pelas oportunidades que perdeu.

Também sei bem que falar sobre grandes projetos em Nova Friburgo é tarefa complicada. Nasci e cresci aqui, e noto com certa tristeza que nossa população soma à já conhecida síndrome brasileira de “vira-latas” uma crise de autoestima toda própria, que não vemos, por exemplo, em nossas vizinhas Teresópolis ou Petrópolis. Sonhar parece ser verbo proibido por aqui, invariavelmente levando pessoas a listarem todas as carências e mazelas que precisam ser tratadas antes que se possa pensar em qualquer esforço deste porte.

De minha parte, contudo, discordo dessa postura e aproveito o espaço para chamar a atenção da sociedade friburguense a uma oportunidade interessante que temos nestes dias. Desde o anúncio de que o Rio de Janeiro iria sediar os jogos Pan-Americanos de 2007 o valorizado terreno do autódromo Nelson Piquet, em Jacarepaguá, entrou na mira das empreiteiras de maior influência nos bastidores da política. Naquela oportunidade a pista acabou sendo mutilada, para finalmente sumir do mapa com a realização dos jogos olímpicos de 2016. Desde então, o estado que já recebeu Fórmula 1, Indy e MotoGP encontra-se sem uma praça para a prática de esportes a motor e acumula uma enorme demanda reprimida em relação a tais eventos, e também outros de esfera nacional, como a Stock Car.

Há pouco mais de dois anos tive oportunidade de visitar Imola, na Itália, onde Ayrton Senna sofreu seu acidente fatal. E pude comprovar que aquela pequena cidade nas cercanias de Bolonha é bem menor do que Nova Friburgo, mas acabou se tornando mundialmente famosa porque algum visionário teve a ideia de construir ali uma pista de nível internacional. Outro exemplo oportuno é o Bahrein, país que tornou-se muito mais conhecido desde que passou a receber a F1, em 2004. No Brasil, a cidade gaúcha de Santa Cruz do Sul parece ser um bom exemplo de lugar que ganhou notoriedade após a construção de uma pista.

O atual governo municipal foi eleito a partir de uma plataforma atrelada a parcerias público-privadas, e esta certamente seria uma excelente oportunidade de exercitar esta forma de empreendimento. O investimento público poderia ser muito reduzido, e ainda contam a nosso favor a moderna e subaproveitada usina de asfalto municipal e a existência de terras propícias à construção, especialmente no terceiro distrito, meio do caminho entre Nova Friburgo e Teresópolis, englobando uma população de 400 mil pessoas, aproximadamente, e atendendo esporadicamente a uma região muito maior do que esta.

Os frutos de tal empreendimento seriam proporcionais ao tamanho de nossa ousadia. Uma pequena pista de kart de nível nacional já bastaria para atrair eventos de grande porte, e também para canalizar a energia da juventude, reduzindo o risco de nossas ruas e estradas. Já um autódromo de nível nacional certamente seria visitado por todas as categorias do esporte a motor brasileiro, ao passo que a construção de uma praça de porte internacional poderia tornar a cidade mundialmente conhecida, como a pequena cidade argentina Termas de Río Hondo, que anualmente recebe o campeonato mundial de motovelocidade.

Não estou falando aqui de sonhos impossíveis, uma vez que iniciativa desta natureza, neste momento específico, representaria trazer para cá todo o peso atrativo do Rio de Janeiro. A grande pergunta, portanto, é a seguinte: estou sozinho neste sonho?

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Márcio Madeira da Cunha

Sobre Rodas

O versátil jornalista Márcio Madeira, especialista em automobilismo, assina a coluna semanal com as melhores dicas e insights do mundo sobre as rodas

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