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Pista molhada: como trafegar?
Dando continuidade à nossa série de dicas relacionadas a direção defensiva e manutenção preventiva, é hora de falarmos um pouco sobre aspectos pouco conhecidos da traiçoeira condução em pista molhada.
Assegure a visibilidade
Trafegar sob chuva inevitavelmente agrega riscos à viagem, graças a dois motivos principais: a redução na visibilidade, e a restrição da aderência disponível. Portanto, a primeira preocupação do condutor – seja ele motorista ou motociclista – deve ser assegurar a própria visibilidade, e também a de todos que circulem nas proximidades. Diversos expedientes podem ser utilizados a fim de evitar que os vidros venham a embaçar, por exemplo. Carros equipados com ar condicionado geralmente possuem opção do fluxo de ar justamente com esse objetivo, e também existem aditivos que podem ser testados para auxiliar nessa missão. Em carros sem ar condicionado, pode ser necessário deixar parte dos vidros laterais abertos, de modo a assegurar a renovação do ar dentro do habitáculo. E, claro, se o veículo possuir desembaçador traseiro, este deverá ser acionado. Em todos os casos, os vidros devem estar sempre limpos, e os limpadores do para-brisa devem ser trocados tão logo apresentem a menor perda de eficiência.
Também é importante ser visto, e para isso todas as luzes devem estar funcionando perfeitamente. Não hesite em acender os faróis mesmo quando o uso não for obrigatório, caso sinta que eles possam ajudar nesse processo. Tenha especial atenção, contudo, para evitar que o farol alto venha a dificultar a vida de quem trafega nas proximidades. Dirigir com segurança é tarefa que depende do julgamento conjunto dos condutores, que por sua vez depende da abundância de informações sobre o contexto atravessado. Mesmo em meio a toda a tecnologia embarcada nos veículos mais modernos, grande parte dessas informações ainda são acessadas visualmente, por quem conduz.
Pneus
Todos os pneus em veículos de passeio são projetados para lidar com condições de chuva pesada. Existem, é fato, alguns compostos com desenhos específicos para ampliar a capacidade de escoamento, mas eles só são recomendáveis para quem circula habitualmente por locais de enorme densidade pluviométrica, como o período que a população de Belém do Pará chama de inverno. No dia a dia, pneus normais dão facilmente conta do recado.
Para isso, todavia, eles precisam estar calibrados e em bom estado, obviamente. Porque, à medida que o pneu se desgasta, os sulcos perdem profundidade e a borracha perde sua capacidade de escoar a água da pista. O grande risco a quem conduz é justamente que a água confrontada seja em volume maior do que essa capacidade de dispersão, levando à aquaplanagem, que é quando o pneu perde contato com o asfalto e o veículo se desgoverna. Em motos, é tombo na certa.
Curiosamente, o maior risco na chuva é atrelado a pneus radicais, de perfil baixo, feitos justamente para render o máximo de desempenho com pista seca. Por isso, se você curte aqueles rodões com uma faixa mínima de borracha, tenha em mente que toda a vantagem obtida no seco se transformará em desvantagem quando a pista estiver molhada.
O que se deve saber
Por fim, cabe listar algumas informações que todo motorista/motociclista deveria saber antes de se aventurar com pista molhada.
É preciso conhecer o seu veículo. Ele tem tração dianteira, traseira, ou nas quatro rodas? Ele é equipado com o sistema ABS, que impede o travamento das rodas numa freagem mais forte? No caso das motos, o sistema de freios é conjugado entre a dianteira e a traseira?
Na maioria das vezes, as chuvas mais perigosas são as extremas, para mais ou para menos. A condição mais escorregadia, por exemplo, ocorre quando começa a chover, após uma longa estiagem. Nesse momento, a água se soma a todos os resíduos acumulados, formando uma cobertura escorregadia e traiçoeira. Por outro lado, chuvas intensas e prolongadas podem formar poças de maior profundidade, as quais podem esconder buracos perigosos ou provocar a aquaplanagem. Já as chuvas consideradas normais não oferecem tanto risco, pois tendem a lavar a pista, conservando sua aderência normal.
Em pista molhada, as partes pintadas escorregam mais, pois não permitem que a água seja escoada. Evite, portanto, passar sobre faixas pintadas, e nem pense em frear sobre elas.
Os pneus devem usar a mesma calibragem no seco e no molhado. A chuva apenas acentua práticas que devem ser adotadas sempre. Por exemplo: se no seco é recomendável manter uma distância de 2s em relação ao veículo que vai à frente, na chuva essa distância deve ser ampliada ainda mais. Da mesma forma, tente concentrar o peso do carro no centro, colocando malas mais pesadas próximo ao banco traseiro, e distribuindo os passageiros de forma a igualar o peso sobre cada roda.
A velocidade de cruzeiro também deve ser um pouco reduzida, para assegurar a suavidade de acelerações, frenagens e mudanças de trajetória, e dar mais tempo para o motorista identificar riscos como as já citadas poças, por exemplo. No caso de motos sem ABS, o ideal é evitar condições climáticas extremas, pois uma derrapagem no pneu dianteiro quase sempre significa cair. Se, todavia, o deslocamento for inevitável, então todas essas dicas devem seguidas com margem de segurança ainda maior.
Márcio Madeira da Cunha
Sobre Rodas
O versátil jornalista Márcio Madeira, especialista em automobilismo, assina a coluna semanal com as melhores dicas e insights do mundo sobre as rodas
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
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