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A maior viagem do mundo – Parte 1
Não é preciso buscar referências em outros países para ter a dimensão do quanto o brasileiro encontra dificuldades desproporcionais para se deslocar dentro do próprio território. Basta tentar viajar por aqui mesmo, rumo a destinos menos procurados ou acessíveis, para se deparar com tal constatação. Transporte aéreo caro e de baixa capilaridade, subaproveitamento de rios navegáveis, sucateamento da malha ferroviária e a dependência quase que absoluta de um transporte rodoviário asfixiado pelo alto preço de combustíveis/pedágios e pelo péssimo estado de conservação da maioria de nossas estradas desenham um cenário incompatível com a grandeza e a riqueza do país, e com o próprio tempo em que vivemos.
Graças a esse quadro tão anacrônico, quem tiver de viajar do Rio para Belém do Pará, por exemplo, terá de optar entre uma passagem aérea que pode custar tanto quanto uma viagem internacional, ou se aventurar durante aproximadamente 50 horas de estrada, sem contar as paradas para descanso, se estiver dirigindo. E o quadro piora exponencialmente se estivermos falando sobre Manaus, Macapá ou Boa Vista. Vencer tais distâncias a bordo de um trem de alta velocidade ainda parece um sonho muito distante, para vergonha de nossos governantes.
A combinação de todos estes fatores naturalmente faz do Brasil um cenário perfeito para a proliferação de algumas possibilidades de deslocamento quase que místicas, de tão longas ou sacrificantes. O que pouca gente sabe, no entanto, é que a maior de todas as viagens de ônibus oferecidas ao redor do mundo tem seu início – ou seu ponto final, se preferir – a pouco mais de 130 quilômetros de nós, na Rodoviária Novo Rio.
Há um punhado de anos a Expresso Internacional Ormeño S.A. passou a operar a surreal linha Rio de Janeiro x Bogotá, que percorre nada menos que 15 mil quilômetros ao longo de dez dias, atravessando 150 cidades espalhadas por quatro países, ao preço de aproximadamente R$1.300. Uau!
Existem várias formas de dar um pouco mais de concretude a esses números. Podemos observar, por exemplo, que ao fim do percurso o passageiro estará muito mais perto, em linha reta, de Miami do que do Rio de Janeiro, Ou, seguindo por estradas, de alcançar o Texas do que retornar para onde partiu. É muito, muito chão.
Naturalmente, a linha só é economicamente viável porque os passageiros têm a possibilidade de percorrer apenas pequenas frações deste itinerário – e quase todos, de fato, sobem ou descem ao longo do caminho. Ainda assim, é muito curioso imaginar que qualquer friburguense está a apenas dois ônibus de ver neve e lhamas nos Andes, ou de chegar bem perto de Machu Picchu. Engraçado, não?
Na próxima semana veremos mais detalhes sobre o percurso e também características da viagem. E você, teria disposição para encarar essa maratona? Comentários são sempre bem-vindos!
Márcio Madeira da Cunha
Sobre Rodas
O versátil jornalista Márcio Madeira, especialista em automobilismo, assina a coluna semanal com as melhores dicas e insights do mundo sobre as rodas
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