Colunas
A maior viagem do mundo – final
Em nosso encontro da semana passada falamos a respeito da maior viagem de ônibus do mundo, cujo início (ou fim) se dá aqui pertinho de nós, na Rodoviária do Rio de Janeiro. Naturalmente, no entanto, não seria possível cobrir de maneira satisfatória um percurso de dez dias em apenas uma coluna, até mesmo porque o itinerário é interessante demais para não ser devidamente detalhado. Convido os leitores, portanto, a uma pequena viagem virtual.
Após pegar novos passageiros no Terminal Tietê, em São Paulo, segunda maior rodoviária do mundo, o coletivo segue rumo a oeste, onde começará a subir em direção ao Pantanal. De lá, a viagem segue rumo a Rondônia e Acre, atravessando o Rio Madeira e parte da Amazônia brasileira até a fronteira com o Peru, onde a Amazônia peruana irá encontrar os Andes.
Nesse trecho especial da viagem a altitude chega a ultrapassar os quatro mil metros, e é possível ver picos nevados e lhamas às margens da estrada. O ônibus faz uma parada de duas horas em Cusco, onde muitos passageiros se despedem para seguir rumo a Machu Picchu. A próxima grande escala é na capital Lima, de onde a viagem segue rumo a Quito, atravessando as famosas e enigmáticas linhas do deserto de Nazca.
Antes de chegarmos à fronteira com a Colômbia os passageiros reminiscentes ainda terão oportunidade de ver o marco da Linha do Equador, o que geralmente acontece próximo à noite do oitavo dia de viagem. A essa altura o fim já parece próximo, mas ainda resta mais de um dia de estrada, e uma importante parada em Cali, antes do destino final em Bogotá.
A distância total do trajeto é de aproximadamente 15 mil quilômetros, o que equivale a algo em torno de 37,33% da circunferência da Terra, na altura da Linha do Equador. Numa linha reta, esta distância seria suficiente para percorrer desde o extremo sul do continente americano, no Ushuaia, até o norte do Alasca. Ou para ir do Rio de Janeiro até o cume do Monte Everest, ou chegar a Gladstone, na Austrália. E nessa última hipótese ainda sobrariam 500 km de troco...
Evidentemente, como dito no texto anterior, raros são os passageiros que permanecem no ônibus durante a viagem inteira. Ainda assim, a mera existência dessa linha nos leva a refletir a respeito da própria forma como se viaja, da maneira como se percorre o caminho, da experiência mística da espera, do testemunho das mudanças na paisagem, dos rostos se revezando do lado de fora da janela, da noção do quanto o mundo é grande, rico e convidativo. A lembrança, enfim, de que viajar é muito mais do que partir e chegar.
Tentei, em vão, pesquisar quantos ônibus seriam necessários para seguir desde Bogotá até Nova Iorque, apenas por curiosidade. Talvez algum leitor mais hábil consiga levantar essa informação e dividir conosco. Loucura para muitos, eu sei. Mas atraente para outros também.
E você, caro leitor, teria coragem ou vontade de fazer uma viagem como essa?
Márcio Madeira da Cunha
Sobre Rodas
O versátil jornalista Márcio Madeira, especialista em automobilismo, assina a coluna semanal com as melhores dicas e insights do mundo sobre as rodas
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
Deixe o seu comentário