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Extintor de incêndio: mantenha no carro e aprenda a usar
Em 2015, após estabelecer um prazo extremamente curto para que a frota nacional de automóveis incorporasse o extintor de incêndio de especificação ABC – sujeitando boa parte dos motoristas a arcar com preços abusivos decorrentes da escassez do produto no mercado –, o Conselho Nacional de Trânsito (Contran) tornou a surpreender os condutores ao anunciar, em setembro daquele ano, que todos os extintores deixariam de ser obrigatórios para “automóveis particulares, utilitários, camionetas, caminhonetes e triciclos de cabine fechada”. À época parecia brincadeira, mas não era não.
A presença dos extintores tornou-se obrigatória no Brasil em 1970, numa época em que os carros ainda incendiavam-se com muito mais facilidade do que atualmente. Desde então a indústria evoluiu bastante na luta contra o fogo, incorporando soluções como o corte automático de combustível em caso de colisão, a localização do tanque de combustível fora do habitáculo e, sobretudo, a baixa flamabilidade de materiais e revestimentos.
As estatísticas dão respaldo a essas afirmações. De acordo com a Associação Brasileira de Engenharia Automotiva, dos dois milhões de sinistros em veículos cobertos por seguros em 2014, 800 tiveram incêndio como causa. Desse total, em apenas 24 ocasiões – ou 3% dos casos, se preferir – o extintor foi utilizado. Não por acaso, nos Estados Unidos e na maioria das nações europeias o equipamento não é obrigatório, em virtude da compreensão de que a falta de treinamento e o despreparo dos motoristas para seu manuseio geram mais riscos de danos do que o próprio incêndio.
Esses números, no entanto, permitem uma dupla interpretação. Primeiro, porque 24 casos podem parecer pouco, mas não podemos nos esquecer de que estamos falando de vidas aqui. E depois, porque eles revelam que a demanda pelo uso do extintor é aproximadamente 32 vezes maior do que os casos em que ele foi efetivamente utilizado. Ora, cabe então perguntar: em vez de tornar sua presença facultativa, não teria sido melhor, por exemplo, incluir uma aula nas autoescolas sobre como utilizá-lo de modo rápido e eficiente?
Não se deve esquecer, ainda, que em muitas das residências o extintor mais próximo é – ou costumava ser – justamente aquele esquecido no automóvel. E essas aplicações, não tão raras assim, também não são computadas nas estatísticas. Portanto, quando levamos em consideração todas as situações em que um extintor pode ser necessário (inclusive para auxiliar a terceiros), o mais recomendável é que o motorista não apenas o mantenha em seu carro (respeitando o prazo de validade), mas também trate de aprender o quanto antes a usá-lo da melhor forma. A esse respeito, seguem algumas dicas bastante úteis.
1) Proteja as mãos e tenha muito cuidado com a temperatura do capô.
2) Nunca abra o capô por completo em caso de fogo, a fim de limitar a entrada de oxigênio e não alimentar ainda mais as chamas. Abra apenas uma fresta e apague as chamas através dela.
3) A maioria dos incêndios no motor são causados por vazamentos em mangueiras de combustível ressecadas (falaremos sobre isso em breve). Efetue as trocas dentro do prazo estabelecido pelo fabricante, de modo a evitar situações de maior risco.
4) Se o incêndio tomar maiores proporções, afaste-se e chame os bombeiros imediatamente pelo número 193. O extintor deve ser usado apenas para combater princípios de incêndio.
5) O jato do extintor sempre deverá ser direcionado à base das chamas.
Márcio Madeira da Cunha
Sobre Rodas
O versátil jornalista Márcio Madeira, especialista em automobilismo, assina a coluna semanal com as melhores dicas e insights do mundo sobre as rodas
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