Efeitos da altitude

sexta-feira, 21 de julho de 2017

Em nosso encontro mais recente explicamos que a cilindrada indica o volume disponível a cada ciclo para que determinado motor possa realizar a combustão da mistura ar + combustível. Pois bem, a eficiência com que o motor é capaz de aproveitar este espaço disponível, subtraída de atritos internos e quaisquer outras formas de resistência, dará uma medida aproximada do desempenho que ele é capaz de entregar.

Ocorre que não basta simplesmente injetar mais combustível num mesmo espaço para que sejam elevados os níveis de potência e torque. É preciso fazer o mesmo com o ar, uma vez que o motor só irá funcionar bem se a mistura respeitar parâmetros bastante estreitos na proporção entre esses dois elementos. Certo, mas o que isso tem a ver conosco?

Bom, tem e muito. Afinal, vivemos numa cidade cuja topografia varia de 200 a mais de 2300 metros de altitude, com o principal centro urbano localizado pouco menos de 900 metros acima do nível do mar. Naturalmente isso significa que nosso ar é mais rarefeito, o que obriga o motor a injetar também menos combustível, a fim de manter a proporção necessária para a queima mais eficiente. E, claro, menos ar e menos combustível significam também menos potência e torque disponíveis.

Evidentemente são muitos os fatores que interferem na pressão atmosférica, e a temperatura é um deles. Ainda assim, estimativas sugerem que um motor a explosão cuja indução não seja forçada (através de turbina ou outra forma de sobrealimentação) terá quase 9% a menos de potência e torque em Nova Friburgo do que teria se estivesse trabalhando ao nível do mar. Já a dois mil metros, como na subida que conduz ao Pico da Caledônia, essa perda pode chegar a 23%, tornando-se bastante sensível, mesmo para motoristas menos atentos.

Nem tudo, no entanto, é má notícia. Afinal, a mesma característica que faz com que as explosões sejam mais fracas, faz também com que a atmosfera ofereça menos resistência ao avanço do veículo. Deste modo podemos dizer que os principais sintomas da perda de potência se manifestam sobre a aceleração, e não tanto sobre a velocidade máxima. Uma situação parecida com o uso do ar-condicionado, que consome parte da potência mas permite que se trafegue com os vidros fechado, gerando menos turbulência e arrasto aerodinâmico.

Para encerrar, uma dica: o aumento da resistência ao movimento e a escassez de ar podem tornar a centelha mais prolongada e gerar superaquecimento. Por isso, antes de subir uma montanha de grandes proporções, providencie uma revisão do sistema de refrigeração. Não deixe de checar o estado do líquido de arrefecimento, que deve estar com o nível correto e misturar água e aditivo com etilenoglicol, o qual eleva o ponto de ebulição. Também é recomendável verificar o estado das mangueiras, da bomba d’água e do radiador e, caso seja necessário, fazer uma limpeza geral no sistema. Tudo isso, claro, sem falar nos freios, que serão muito exigidos durante a descida.

Tomando todos estes cuidados, basta não forçar o ritmo e curtir sem pressa as inigualáveis belezas da altitude.

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Márcio Madeira da Cunha

Sobre Rodas

O versátil jornalista Márcio Madeira, especialista em automobilismo, assina a coluna semanal com as melhores dicas e insights do mundo sobre as rodas

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