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Curvas e suas peculiaridades
Muitas das vezes, o maior risco atrelado a motoristas experientes é a traiçoeira sensação de que já aprenderam tudo que precisavam saber. Após anos de prática ao volante, tudo começa a parecer simples e repetitivo, e aquela saudável tensão que alimentava questionamentos e reflexões aos poucos vai sendo substituída por uma autoconfiança preguiçosa, às vezes soberba. É justamente neste ponto que surgem os maiores riscos.
Curvas, por exemplo. Poucos são os motoristas que atentam para o fato de que existem diferenças fundamentais entre virar o volante para a esquerda e para a direita, tanto em relação aos riscos quanto no que toca as responsabilidades. Mas, antes de detalharmos casos específicos, talvez valha a pena vermos um pouco de teoria geral aqui.
Encontre sua velocidade antes de virar o volante
Ao avistar uma curva, o motorista deve analisar diversos fatores que irão indicar qual a velocidade segura para percorrê-la. Antes de tudo, há que se observar a aderência oferecida por pneus e asfalto – e há vários tipos de asfalto. Como é sua rugosidade? Ele é áspero, é liso, está limpo, está molhado? E os pneus, estão em bom estado e em condições parecidas de desgaste? Estão alinhados e calibrados? E quanto ao peso: o carro está cheio? De que forma está distribuído o peso? Aprofundaremos essa análise em colunas futuras, mas por ora basta dizer que um condutor experiente não terá dificuldades para fazer esse tipo de leitura, ao menos para saber se está numa condição de aderência farta, ou guiando sob condições escorregadias.
Em seguida, há que se avaliar a cambagem (inclinação) da curva. Por norma, em todas elas a parte interna deveria ficar num nível abaixo da faixa externa. Todavia, sendo o Brasil como é, muitas são as curvas em que o oposto acaba acontecendo – e isso reduz drasticamente a aderência disponível. É importante também considerar o relevo. Curvas em subida transferem peso para a traseira do carro, fazendo com que a frente fique menos aderente; já curvas em descida, obviamente, geram efeito oposto, e podem ocasionar uma rodada. E, claro, há ainda curvas feitas em meio a transições de relevo, envolvendo acelerações verticais. Naturalmente, ao fim de uma descida (ou no início de uma subida) o carro será comprimido contra o asfalto, e neste momento terá um pouco mais de estabilidade. Já na situação oposta, ao fim de uma subida (ou no início de uma descida), o veículo estará “leve” e mais suscetível a reações inesperadas, como uma capotagem, por exemplo.
Levando tudo isso em consideração, há ainda que se adotar uma confortável margem de segurança em relação à velocidade calculada – afinal, sempre pode haver uma surpresa no caminho. Por fim, tão importante quanto escolher a velocidade ideal para a curva que vem à frente é ter o cuidado de encontrar essa velocidade com o veículo ainda em linha reta, antes de iniciar a mudança de trajetória. Freie na aproximação, e mantenha leve aceleração durante todo o percurso, suficiente apenas para conservar a velocidade. Assim, a aderência dos pneus não terá de se dividir entre várias tarefas.
Virando para a esquerda: a situação mais perigosa
Curvas para a esquerda são as mais perigosas, por diversas razões. A principal delas se deve ao fato de que, se o motorista que vem no sentido oposto tiver problemas para conservar sua trajetória normal, então ele poderá passar reto e vir de encontro ao seu carro causando um choque frontal. Além disso, quem vira à esquerda fica especialmente vulnerável aos faróis altos de quem desatentamente cruza seu caminho.
Para reduzir os riscos, jamais cruze a faixa que delimita as pistas, invadindo a contramão. Da mesma forma, não hesite em acelerar ou frear um pouco mais, de modo a evitar sempre que possível o encontro com outros veículos no vértice de curvas à esquerda. Por fim, esteja sempre atento à trajetória de quem vem no sentido oposto, estando pronto a frear ou desviar caso isso se mostre necessário.
Virando para a direita: a responsabilidade agora é sua
Já em curvas à direita a responsabilidade maior será sempre sua. Afinal, agora é você quem pode passar reto e atingir quem vem no sentido oposto. Por isso, cuide para que sua velocidade nunca ultrapasse as margens de segurança e, por favor, jamais se esqueça de baixar os faróis sempre que passar por alguém.
Márcio Madeira da Cunha
Sobre Rodas
O versátil jornalista Márcio Madeira, especialista em automobilismo, assina a coluna semanal com as melhores dicas e insights do mundo sobre as rodas
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