Carro blindado: o que muda na forma de conduzir?

sábado, 21 de julho de 2018

Encerrando esta nossa curta série de textos dedicada a veículos blindados, é hora de falarmos a respeito do que muda na maneira de conduzir, quando se está ao volante de um automóvel à prova de balas. O tipo de informação e consciência que todo motorista deve ter para que, no fim das contas, o investimento em segurança não termine por sair pela culatra, expondo condutor e passageiros a riscos de natureza diferente.

Essencialmente, o grande fator a alterar o comportamento de um veículo protegido é o peso adicionado pela blindagem. É claro que o valor exato irá variar conforme o nível de blindagem e o tamanho do veículo, mas na maioria dos casos o acréscimo irá flutuar na faixa que vai dos 150 aos 250 quilos, que equivalem ao peso de dois ou três passageiros. Não por acaso, o processo de blindagem prevê que as molas sejam substituídas por outras mais resistentes.

“Ah, então basta dirigir como se o carro estivesse lotado?”

Não, não é bem assim.

Primeiro, é claro, porque eventualmente o carro pode mesmo vir a transportar passageiros, elevando o peso total para uma condição que seria impossível de se alcançar num modelo convencional. Mas, mesmo que não fosse o caso, ainda assim a principal diferença iria residir na distribuição deste peso extra, que no caso dos blindados concentra-se especialmente nos vidros.

Ora, já vimos aqui mesmo, em texto anterior, a importância da distribuição do peso para o bom comportamento dinâmico do veículo. E, naquela oportunidade, explicamos que o ideal seria a busca por um centro de gravidade o mais baixo possível, que fosse capaz de distribuir o peso na proporção de 25% para cada roda. Bom, a concentração de peso numa parte tão elevada quanto os vidros atua completamente na contramão deste objetivo, aumentando sensivelmente os efeitos da aceleração lateral sobre o conjunto como um todo.

Na prática, a elevação do centro de gravidade se traduz numa maior instabilidade, e o fenômeno é fácil de se compreender. Basta colocar uma garrafa sobre a mesa, e com um dos dedos aplicar uma força lateral sobre ela. Você perceberá que se aplicar essa força na parte de baixo, próximo à base, a tendência será a garrafa escorregar, mas ainda assim se manter de pé. Por outro lado, se a força for aplicada na parte de cima, será mais fácil a garrafa entornar do que escorregar.

Essa tendência de inclinação e concentração de peso num dos lados também se observa num veículo blindado quando percorre curvas, e o motorista deve levar isso em consideração no momento de escolher a velocidade com que percorrerá cada uma delas, ciente de que o ritmo do automóvel blindado deve ser um pouco mais lento do que o de seu equivalente convencional, caso sejam mantidas as mesmas margens de segurança. E essa diferença deverá ser ainda maior em situações especiais, como debaixo de chuva, por exemplo.

A mesma lógica, claro, aplica-se também para as frenagens. O maior peso irá fatalmente aumentar as distâncias necessárias à desaceleração, de tal forma que o motorista deve manter uma distância ainda maior em relação a quem vai à frente. Inclusive porque, graças ao efeito que acabamos de ver, o carro também tende a “afundar” mais durante as frenagens, reduzindo a eficiência e a contribuição do eixo traseiro.

Em essência, portanto, o motorista precisa guiar com um pouco mais de antecipação. Tem uma subida pela frente? Prepare o motor previamente. Percebeu que será necessário reduzir a velocidade logo à frente? Comece um pouco antes então. Surgiu um quebra-molas? Freie antes, e jamais o ataque ainda com o pedal do freio acionado. Para quem já tem o saudável hábito de dirigir com consciência, a adaptação será certamente mais sutil e natural.

Uma ótima semana a todos.

 

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Márcio Madeira da Cunha

Sobre Rodas

O versátil jornalista Márcio Madeira, especialista em automobilismo, assina a coluna semanal com as melhores dicas e insights do mundo sobre as rodas

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