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Atropelamento de animais: precisamos falar sobre isso
Muitos friburguenses talvez não saibam, mas Nova Friburgo é o 11º maior município do Rio de Janeiro em extensão territorial, com uma área de 933,42 km². Para dar uma ideia mais precisa do que estes números significam, basta dizer que este é quase o tamanho da capital do Estado (1.200 km²), e equivalente a sete vezes o tamanho de Niterói, ou mais de 1% do tamanho de Portugal, por exemplo. Nossa área urbanizada, no entanto, é estimada em pouco mais de 13 km², ajudando a explicar por que nossa densidade populacional ainda é relativamente pequena.
Os números dão uma boa dimensão da relevância de nossa área rural, mas não dizem tudo. Afinal, grande parte desse território ainda é coberta por Mata Atlântica, bioma de destaque mundial em termos de biodiversidade, fazendo de Nova Friburgo um santuário biológico de primeira grandeza. Basta sair de casa e se aventurar pela natureza para conferir com os próprios olhos.
Acontece, no entanto, que a grande quantidade de estradas necessárias para cobrir área tão vasta, conjugada à riqueza ambiental das localidades que estas atravessam, resulta numa catástrofe ambiental igualmente poderosa, materializada na incidência absurda de atropelamentos de animais em nossa cidade e região. É muito raro, por exemplo, ir a Lumiar ou trafegar pela Estrada Serramar sem topar pelo caminho com corpos de animais recém-vitimados, das mais variadas espécies.
A situação certamente desagrada mesmo a quem não tem maiores afinidades com nossos irmãos de penas, patas ou escamas, mas ainda assim nada é feito no sentido de combater essa tragédia. Por quê?
As respostas inevitáveis são duas. Primeiro, é claro, porque enquanto sociedade não nos importamos devidamente com aqueles sem voz ou voto, pelos quais somos – ou deveríamos ser – inteiramente responsáveis. E depois porque parece consolidada a crença de que tais atropelamentos são “fatalidades”, situações que não podem ser evitadas, ou um efeito colateral intrínseco para que exista o “progresso”.
O primeiro problema só será combatido com educação, sobretudo dentro de casa, na construção de cidadãos mais conscientes e – por que não – sensíveis. Já o segundo equívoco precisa ser combatido com informação. É importante gerar a consciência de que é possível sim – e extremamente necessário – reduzir os efeitos desta carnificina. E todos podemos contribuir de alguma forma.
De imediato, claro, é preciso dirigir com mais consciência. O cálculo da velocidade de cruzeiro deve sempre levar em consideração a possibilidade de um animal surgir à frente do carro ou da moto. Da mesma forma, é preciso sempre respeitar uma distância segura em relação a quem vai à frente, dando-lhe a possibilidade de frear caso se depare com esta necessidade. Em nossa área urbana, também é muito importante que cães e gatos de rua continuem a ser castrados.
Conduzir de maneira responsável é certamente a medida mais importante, mas não é a única. É preciso urgentemente aprovar legislações para que toda e qualquer estrada que seja aberta, concedida ou reformada passe a abrigar pontos de travessia segura, sob a pista, adequada aos animais que habitem a região. E mais: estes pontos precisam ser definidos a partir de informações sobre os locais de maior incidência de atropelamentos, e em todos eles – e onde mais for possível – a estrada deverá ser margeada por cercas que impeçam o acesso de animais à pista.
Não existem argumentos contrários a tais iniciativas. Direta ou indiretamente, a segurança dos animais é também a nossa segurança, e certamente qualquer estudo irá comprovar que o valor de tais investimentos seria muito menor do que o custo ambiental e social dos acidentes causados por essa desatenção histórica.
Aos amigos leitores, portanto, eu levanto essa bola. Ano que vem Nova Friburgo irá completar 200 anos. E que bacana seria se pudéssemos agregar à data toda a mídia positiva de sermos conhecidos como cidade-exemplo na proteção aos animais, assumindo o pioneirismo em algo que certamente, quando a humanidade galgar mais alguns degraus em sua evolução espiritual, será visto como uma postura obrigatória.
E então, vereadores e deputados: vamos elaborar essas leis, com a orientação de especialistas? Vamos levantar essa bandeira e convidar o Brasil a uma reflexão sobre o tema?
Márcio Madeira da Cunha
Sobre Rodas
O versátil jornalista Márcio Madeira, especialista em automobilismo, assina a coluna semanal com as melhores dicas e insights do mundo sobre as rodas
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
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