Verdades

quinta-feira, 23 de maio de 2019

Para pensar:

“Subestimar os outros é sintoma de quem não crê em si.”

Agni Shakti

Para refletir:

“Se temos que mudar de opinião a respeito de alguém levamos-lhe muito a mal o incômodo que assim nos causa.”

Friedrich Nietzsche

Verdades

Permitam, caros leitores, que este colunista lhes diga algumas verdades sobre o que se passa atualmente em Nova Friburgo, aproveitando o gancho do que teve lugar em nossa Câmara Municipal na noite de terça-feira, 21, quando o plenário rejeitou por 14 votos a 6 a proposta de abertura de Comissão Processante direcionada à gestão do prefeito Renato Bravo, e, sobretudo, a forma leviana como tudo foi transportado para as redes sociais.

Todo mundo sabe

A essa altura todos os vereadores sabem, e sabem bem, que o atual governo cometeu atos que poderiam ensejar peças (no plural) de natureza semelhante, com robusto embasamento jurídico.

As notas fiscais devidamente executadas na infame adesão à ata de Caxias, por exemplo, representam indícios sólidos de escandaloso superfaturamento, quando comparadas aos valores obtidos em licitação local paralela, e mais ainda quando confrontadas com a média de preço de licitações pelo Brasil no mesmo período.

Desumanidade

E este é apenas um entre uma dezena de exemplos possíveis, que quando confrontados a atitudes tais como o esforço de alguns personagens centrais por frustrar ou evitar licitações, a determinação para que médicos continuassem a operar quando se sabia que o Hospital Raul Sertã não estava esterilizando de maneira adequada, e um áudio embebido em desumanidade que muitos no governo e na Câmara sabem existir, desenham um cenário de deliberação, de descaso com o sofrimento alheio.

A peça (1)

A peça protocolada na Câmara Municipal teve alguns méritos dignos de nota.

Ela citou diversas situações sabidamente problemáticas, que poderiam sim servir de pilar para investigações de possível improbidade - e que, sem exceção, já são de conhecimento da Justiça há muito tempo.

Além disso, ainda que o caso em questão não seja tão simples, há sempre que se festejar qualquer iniciativa popular no sentido de cobrar da classe política o mínimo de respeito e correção.

A peça (2)

Por outro lado, e isso ficou claro também no parecer da Procuradoria, o documento também tinha importantes e inegáveis fragilidades, sobretudo na forma como buscou amparo para denunciar tais situações.

Era, em resumo, perfeitamente possível concordar com o mérito da proposta, e ainda assim concluir que sua formatação não servia ao propósito de sustentar com a devida robustez os trabalhos de uma comissão processante, a qual, certamente, geraria comprometimentos à CPI já em andamento.

Registro (1)

Foi exatamente este o posicionamento do vereador Professor Pierre (e também do presidente Alexandre Cruz), e teria sido igualmente o posicionamento deste colunista, caso tivesse de opinar sobre o caso.

Pierre, assim como esta coluna, tem sido uma voz crítica ao atual governo, sem contudo ser passional ou oportunista.

E qualquer pessoa com respeito à justiça irá reconhecer que ninguém trabalhou mais do que ele para que as devidas denúncias fossem feitas do jeito certo, às pessoas certas.

Registro (2)

A todos que agora o difamam em redes sociais, simplificando de forma rasteira e mal-intencionada o que se passou, em flagrante desrespeito à verdade e à inteligência dos leitores, só se pode reservar desprezo.

Não deve representar surpresa a qualquer leitor consciente que narrativas simplistas do tipo “esses votaram a favor da população”, ou “esses votaram “a favor da gestão da morte” são, antes de qualquer outra coisa, uma ofensa à inteligência de quem os elegeu.

Lançar mão de tal expediente é, em português claro, tratar o povo como gado.

Razões certas

Havia, a rigor, razões certas para se votar contra ou a favor da peça.

Como já foi dito, teria sido possível concordar no mérito e recusar a formatação, da mesma maneira como é válido o argumento do vereador Zezinho do Caminhão, ao ponderar que uma matéria que vá a votação em plenário não pode admitir apenas uma resposta certa.

Não vai aqui nenhuma crítica, portanto, a quem votou a favor, desde que tendo a convicção de que a peça seria capaz de se sustentar.

Razões erradas

Da mesma forma, havia razões erradas para se votar contra ou a favor da peça.

Afinal, não seria correto votar a favor por mero oportunismo eleitoral, a partir da consciência de que sim, grande parte da população anseia - e com razão - por um pedido de impeachment do atual governo.

Por sua vez, o grande entra e sai de vereadores da base na prefeitura ao longo da terça-feira certamente pegou muito mal, tanto mais quando sabemos da natureza promíscua de muitas destas relações, absolutamente incompatíveis com a independência dos poderes.

Ofendeu? (1)

Aliás, ao longo da sessão não foram poucos os vereadores governistas que se mostraram ofendidos pela forma como foram tratados ao longo da peça em questão.

Pois permitam-me dizer o seguinte: o vereador que troca seu poder-dever de fiscalizar por cargos e/ou influência assistencialista é um ignorante político (quando bem-intencionado), e um traidor da confiança popular, quer esteja ciente disso ou não.

No atual contexto friburguense, vide as denúncias feitas pelo ex-diretor médico do Hospital Raul Sertã, fechar os olhos ao que se passa - perdoem a sinceridade - é ter as mãos sujas de sangue.

Ofendeu? (2)

De fato, a cidade só chegou ao ponto em que chegou porque um bom punhado de políticos, alguns dos quais bem-intencionados, se deixou amarrar em troca de participação no governo, na crença míope de que ajudar a população é conseguir capina, iluminação, pavimentação ou furar filas de exames em hospitais.

Pois tenham a certeza, senhores e senhoras, de que uma enorme responsabilidade sobre o sofrimento alheio pesa sobre seus ombros.

Acordem! Quem tem o direito de se ofender somos nós.

E aí?

Muitos destes parlamentares, notoriamente aliviados, pegaram carona oportunista nos argumentos técnicos levantados pelo vereador Professor Pierre, no momento de votar contra a peça.

O vereador Johnny Maycon, todavia, levantou uma questão que a coluna certamente irá cobrar no momento devido: o que dirão estes mesmos vereadores quando se depararem com peça análoga devidamente fundamentada?

Hora da verdade

Lembrem-se, os discursos de terça-feira, 21 de maio, estão gravados.

E a coluna pode apostar que essa aguardada peça irá chegar.

O jogo ainda não acabou, e tem gente que precisa responder sim pelo que andou fazendo.

TAGS:

Massimo

Massimo

Coluna diária sobre os bastidores da política e acontecimentos diversos na cidade.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.