Transparência

sexta-feira, 06 de julho de 2018

Para pensar:

“A ave constrói o ninho; a aranha, a teia; o homem, a amizade.“

William Blake

Para refletir:

“Quando se morre, o que se leva é o que se dá."

Provérbio russo

Transparência

A competente subsecretária municipal de Vigilância em Saúde, Fabíola Braz Penna, compreendeu a angústia do colunista em relação à falta de informações a respeito da extensão dos efeitos da interrupção no fornecimento de energia elétrica à unidade de saúde Sílvio Henrique Braune, no Suspiro, no mês de maio.

E fez o que se espera de uma profissional tão respeitada e responsável quanto ela: esclareceu tudo o que estava ao seu alcance.

Apagão (1)

Graças a Fabíola, a coluna pode dividir com a população vários detalhes sobre o episódio.

Podemos confirmar, por exemplo, que o apagão teve duração de 11 horas, e misteriosamente ficou restrito ao posto de saúde.

Uma situação estranha, e que ainda carece da devida explicação.

Apagão (2)

O relatório remetido à Secretaria estadual de Saúde indica que a falta de energia foi registrada às 20h do dia 27 de maio, e que o fornecimento foi retomado por volta de 7h da manhã do dia 28.

Uma medição feita às 8h já indicava que a temperatura havia sido normalizada, totalizando 12 horas de anormalidade.

Gerador

Também consta a informação de que o gerador havia passado por manutenção recente e estava em condições de operar, mas havia sido deixado sob acionamento manual, por ainda estar em fase de testes.

A falha principal, portanto, seria de comunicação, uma vez que havia a expectativa do acionamento automático.

Contexto

A coluna, no dia 31 de maio, já havia ponderado que o apagão ocorreu numa noite especialmente fria, o que certamente alivia os impactos sobre vacinas e medicamentos.

Além disso, o colunista pode confirmar que a sala também tinha o ar condicionado funcionando até a queda de energia ocorrer, e que a vedação das geladeiras não estava comprometida.

A temperatura dos insumos, portanto, subiu muito lentamente.

Protocolos (1)

Os atenuantes, contudo, não asseguram por si só a integridade do material.

Há que se seguir rígidos protocolos estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS), a fim de averiguar as condições exatas a que o material foi submetido, e cruzar tais dados com os resultados obtidos em experiências semelhantes.

Protocolos (2)

Assim, o questionário padrão foi respondido com todos os detalhes pertinentes, e remetido à Gerência de Doenças Imunopreveníveis e de Transmissão Respiratória, subordinada à Superintendência de Vigilância Epidemiológica e Ambiental, da Subsecretaria estadual de Vigilância em Saúde.

Determinações

A resposta, em essência, determinou que fosse inutilizado um lote de vacina para Varicela, mas não pela exposição a temperaturas mais altas, e sim por perda de validade, ao fim de maio deste ano.

Da mesma forma, recomendou-se que os demais imunobiológicos acondicionados nas câmaras 3, 4, 5, 11 e 12 sejam utilizados com prioridade, a fim de reduzir a possibilidade de que venham a ser expostos a nova alteração de temperatura.

Vacinas

Na prática, portanto, a análise dos dados colhidos pelas câmaras de refrigeração atesta que as vacinas não foram perdidas, e podem ser aplicadas com segurança à população - o que é um alívio sem tamanho.

Medicamentos

Com relação aos medicamentos, no entanto, o cenário ainda não está tão claro.

Sabe-se, por exemplo, que perdeu-se uma quantidade sensível de insulina, mas a coluna se coloca à disposição para publicar informações de natureza semelhante sobre os demais insumos afetados pela variação de temperatura.

Enquanto isso...

O exemplo de transparência dos quadros técnicos eventualmente contrasta com a opacidade que envolve o comando da pasta.

Em clima de Copa do Mundo, nada melhor que uma metáfora esportiva.

Gol sem querer (1)

O leitor certamente já testemunhou esse tipo de situação.

O lateral avança rumo à linha de fundo e tenta o cruzamento, mas pega mal na bola, que acaba indo direto para o fundo do gol, enganando todo mundo, inclusive o goleiro adversário.

É o chamado gol sem querer.

Pois bem, a mais recente comunicação da Secretaria de Saúde teve mais ou menos o mesmo efeito.

Gol sem querer (2)

Numa nota oficial assinada pelo secretário de Saúde, Christiano Huguenin, a respeito dos dois dias em que o serviço de Transporte Fora do Domicílio (TFD) não foi prestado, lê-se que “houveram (SIC) problemas burocráticos”.

Bom, o leitor sabe bem que o verbo “haver”, quando empregado no sentido de “ocorrer” ou “existir”, é impessoal, e por isso permanece na terceira pessoa do singular, o que torna errônea a flexão do verbo no plural.

Neste caso, portanto, “houveram” não existe.

Gol sem querer (3)

Mas antes que alguém puxe o cartão amarelo para punir o grosseiro erro de português, cabe observar a continuidade da jogada para perceber que também não houve problema burocrático algum.

A menos, é claro, que alguém considere dispositivos legais de proteção à lisura de licitações como um “problema burocrático”.

Assim, portanto, intencionalmente ou sem querer, o secretário acabou acertando o gol ao usar um tempo verbal que não existe para descrever algo que não houve.

Ursulão

Cá entre nós, todo este imbróglio se deu justamente porque a Secretaria de Saúde se meteu a fazer o serviço que cabia à gabaritada Secretaria de Infraestrutura e Logística, e o fez com a mesma competência com que dispensou os bons serviços da Subsecretaria de Comunicação na hora de redigir uma nota oficial.

Mais ou menos como costumava fazer o personagem Ursulão, do antigo desenho “Álbum da Família Urso”.

Aliás, um bom desenho. Tem no YouTube.

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Massimo

Massimo

Coluna diária sobre os bastidores da política e acontecimentos diversos na cidade.

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