Surtindo efeito

sexta-feira, 25 de outubro de 2019

Para pensar:

“É o que pensamos que sabemos que nos impede de aprender.”

Claude Bernard

Para refletir:

“Somente quando o homem atinge um nível onde não sente mais o desejo de fazer o mal, onde não são as leis e regulamentos que o impedem, quando realmente encontrou a alegria de fazer o bem, é que ele desperta para a sua verdadeira natureza.”

Meishu Sama

Surtindo efeito

Se ao acaso o colunista topasse com uma lâmpada mágica e pudesse fazer três pedidos, certamente um deles seria para que tivéssemos mais pessoas como nossa preciosa Elisabeth Souza Cruz, cuja natureza não lhe permite olhar para nada sem enxergar um quê de poesia.

Com alegria, a coluna divide com os leitores a mensagem que ela nos enviou.

Aspas

“As matérias levantadas em AVS, somadas às providências da Prefeitura de Nova Friburgo no sentido de inibir o uso de motos com canos de escapamento adulterados, parece que já está surtindo efeito. Veja que interessante: nesta quarta-feira, 23, durante os 15 minutos em que esperei pelo ônibus no Jardim Ouro Preto, sentido Centro, contei 89 motos circulando. E dessas, somente sete adulteradas. A Avenida Roberto Silveira, mesmo em horário de pico, estava muito em paz. Quando os motociclistas se conscientizarem da importância dessa paz, as motos parecerão aves, suaves, deslizando no asfalto.”

Imagine (1)

O colunista definitivamente não consegue ler este tipo de mensagem e evitar alguns pensamentos.

Porque não dá para deixar de imaginar como poderíamos estar se, ao ser confrontada com o péssimo exercício do poder público, ou tantos outros problemas com os quais absurdamente nos acostumamos, a população se mobilizasse de maneira semelhante.

Imagine (2)

Como seria se não considerássemos normal o desperdício de recursos obtidos à custa de enormes sacrifícios, que deveriam ser destinados a ferramentas de proteção e melhoria da qualidade de vida?

Ou se não tolerássemos mais alguns velhos hábitos nocivos e egoístas entre nós mesmos?

Pois é.

É triste demais constatar que, no fim das contas, somos aquilo que admitimos ser.

Questão de justiça

Alguns representantes da comunidade do Colégio Anchieta entraram em contato com o colunista para dar importantes detalhes sobre a audiência pública realizada na última terça-feira, 22, na Câmara Municipal, enfatizando o papel desempenhado pelo Legislativo friburguense para a existência e o sucesso do encontro.

Aspas (2)

“Além de ter organizado e intermediado contatos, o Poder Legislativo, sobretudo através do gabinete do vereador Professor Pierre, também esclareceu competências, explicou que a Câmara não realiza obras, e ajudou a promover a educação política dos jovens, tratando-os como protagonistas. Não seria justo falar do evento sem destacar a importância dessas ações, e o empenho de todos que nela se envolveram.”

A coluna agradece a todos pelas informações.

Encerrando

A coluna encerra hoje, com a descrição da personagem que dá título à história, a narrativa a respeito do esboço rejeitado de Branca de Neve e os sete anões.

Como em todos os episódios anteriores, qualquer semelhança com a realidade não passa de mera coincidência. 

Branca de Neve

Ao contrário do que se vê na fábula que acabou sendo publicada, os esboços originais dos irmãos Grimm apresentavam uma Branca de Neve que tinha responsabilidades importantes na gestão de seu reino.

Todavia, os mesmos interesses que ditaram a distribuição dos anões para os cargos que vieram a ocupar cuidaram também, sobretudo através da ação de Feliz e da inação de Soneca, para que o fluxo irregular de maçãs encontrasse Branca de Neve em sono profundo, permitindo assim que pudesse ser contornada.

Fim triste

A fábula, no entanto, trazia um complemento que terminaria por esvair da menina a condição de vítima inocente das circunstâncias.

Afinal, ela também integrava o conselho de fiscalização do pomar para o qual as maçãs de Zangado haviam sido transferidas, antes de seguirem para seu destino final.

Mas, quando despertou dos efeitos da maçã envenenada que lhe havia sido oferecida, e se deparou com a grande quantidade de maçãs que estavam onde não deveriam estar, virou para o lado e decidiu dormir um pouco mais...

Fácil de entender

Terminada a apresentação dos personagens principais, parece fácil o leitor entender por que os irmãos Grimm optaram por não publicar esta versão da história.

Provavelmente olharam para o resultado final e o sentiram inacreditável ou deprimente demais.

Afinal, quem levaria a sério a ideia de um reino cuja estrutura de poder estivesse entregue a personagens tão moralmente falhos, tão abertos a praticar a corrupção ou a fechar os olhos diante de sua existência?

Incrível

E mais: quem acreditaria na perpetuação de tão longa sequência de esquemas tão mal disfarçados, tão primários, tanto mais num contexto em que todas as forças de fiscalização e controle - e grande parte da população - tinham conhecimento a respeito do que se passava, e ainda assim nada faziam a respeito?

De fato, talvez eles tivessem exigido demais da suspensão da descrença.

Ou não

Mas, claro, existe também uma segunda e muito mais sombria possibilidade.

Talvez, quem sabe, a história tivesse semelhanças demais com o contexto de seu tempo, e, a exemplo do que se passava no povoado fictício, as pessoas simplesmente não se interessassem tanto assim pela verdade.

Talvez olhassem para os corruptos não com indignação, mas com uma pontinha de inveja.

Talvez - e isso não deixa de ser perturbador - a mordida na maçã envenenada tenha sido em alguma medida voluntária e deliberada.

Afinal, quem quer, de fato, ser despertado do próprio sono?

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Massimo

Massimo

Coluna diária sobre os bastidores da política e acontecimentos diversos na cidade.

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