Desguarnecidos

sábado, 13 de outubro de 2018

Para pensar:

“O que põe o mundo em movimento é a interação das diferenças, suas atrações e repulsões; a vida é pluralidade, morte é uniformidade.”

Octavio Paz

Para refletir:

“Preguiça, o hábito de descansar antes da fadiga.”

Jules Renard

Desguarnecidos

Feriadão, dia das crianças, da Senhora Aparecida, Festa da Flor, Morango com Chocolate, Festival Cultural de Amparo, Siriema Rock Fest, Friburgo Beer Fest…

Que beleza, hein?

A cidade agitada, cheia de gente, tudo uma maravilha, não?

E, em meio a tudo isso, o Hospital Raul Sertã funcionando com incontornável déficit de pessoal, graças à dispensa dos RPAs cuja data foi conhecida com antecipação de dois meses!

Radiografia

Vamos lá, sejamos mais precisos.

Na sexta-feira, 12, o vácuo se traduziu, entre outras frentes, da seguinte forma: três enfermeiros a menos no CTU, dez técnicos de enfermagem a menos na urgência, nenhum destacado somente para a triagem, e apenas dois funcionários na clínica cirúrgica.

Ninguém destacado para os repousos, masculino e feminino.

Tal carência significou que os pacientes continuaram a receber medicação, mas sem banho e cuidados, também com prejuízos à supervisão geral.

Dispensáveis?

O curioso é notar que, essencialmente, as exonerações atingiram a enfermagem do hospital.

Ao todo, foram 47 profissionais.

Técnicos de laboratório, maqueiros e médicos continuam.

Desnecessário dizer que isso gerou um mal-estar sem tamanho junto à categoria, em meio à qual restou a sensação de que os enfermeiros não seriam essenciais ao funcionamento do hospital.

Sinuca

A situação, a rigor, representa uma sinuca de bico.

Porque, vamos lá, se o hospital funcionar às mil maravilhas sem toda essa gente, então a Secretaria de Saúde terá de explicar o que esse pessoal ficou fazendo por lá durante todo esse tempo.

Correto?

Clareza

Em meio a tudo isso, é crucial deixar algumas coisas bem claras.

Há dois meses a coluna já tem conhecimento a respeito do prazo determinado pelo TAC firmado pela prefeitura junto aos Ministérios Públicos Federal e do Trabalho para encerramento dos RPAs.

O governo, claro, foi informado ao mesmo tempo, ou antes.

Ninguém pode, portanto, jogar a responsabilidade pela situação nos ombros da Justiça.

Houve tempo para buscar alternativas.

Por quê?

Não é segredo que o Palácio Barão de Nova Friburgo deseja terceirizar o quanto antes a gestão de nossas principais unidades de saúde, e vale a pena ficar atento às declarações que serão dadas nos próximos dias.

Porque, se nos bastidores alguém do alto clero se atrever a jogar a culpa na Justiça, então, meu amigo, podemos estar sim diante de um caos deliberado.

É repetir até cansar: a responsabilidade não é do MP.

Aguardando

Será igualmente interessante ver a solução que será costurada.

E tentar entender por que ela não foi apresentada ou executada dentro do prazo.

Ajudinha

Acha que acabou?

Que nada, inocente.

No cair da noite de quinta-feira, 11, muitas pessoas testemunharam a chegada, ao Raul Sertã, de grande quantidade de insumos vindos de um hospital particular da cidade.

Uma vez que a situação se tornou pública, seria de bom tom explicar o contexto dessa doação, não?

Não fecha

Até mesmo porque, vejam só, em meio a este material - curiosamente estocado na sala da direção - havia a mesma seringa que há pouco foi rejeitada em licitação, gerando como consequência custos extras significativos ao erário.

Ora, eis aí uma conta que não fecha, não é mesmo?

Porque, se a seringa é insegura, então aceitá-las é colocar a população em risco, correto?

E, se é segura, então temos diante de nós uma fraude de licitação e um caso de cadeia.

Que fase

E já que falamos em cair, também na noite de quinta-feira, 11, um pedaço do teto da sala na entrada do descanso da enfermagem despencou.

E, junto com ele, foi ao chão o cadáver de uma ratazana.

A coluna tem a foto, mas vai poupar os leitores do desprazer.

No limite

A coluna foi procurada por diversos moradores do Cordoeira, em especial na comunidade Dom Bosco, relatando situações dramáticas em consequência da falta d’água.

“Um mês atrás a concessionária responsável pelo fornecimento realizou um serviço na principal rua de acesso ao Dom Bosco, e desde então a água tem faltado com frequência. Nessa semana ficamos sem abastecimento de quatro a cinco dias. Hoje (sexta-feira,12) continuamos sem água”, desabafou o morador Rogério.

Segue

“É preciso entender que a comunidade é carente, nem todos têm caixas d’água. Dependemos do hidrômetro, se a água não for bombeada, não temos estoque. Temos muitas crianças, idosos, deficientes e doentes, que estão sem água até mesmo para tomar seus medicamentos. Estamos tentando contato com a concessionária, sem sucesso. Se havia a previsão de que iria faltar água, por que não nos avisaram? Precisamos de atenção urgente!”

Espaço aberto

A coluna abre espaço à concessionária para eventuais esclarecimentos, e também para que alguma perspectiva seja passada à comunidade.

Segunda reunião

Está marcada para esta segunda-feira, 15, a segunda reunião da CPI que apura os contratos emergenciais realizados para suprir a demanda de alimentos no Hospital Raul Sertã.

A pauta prevê a elaboração do cronograma das próximas reuniões e o encaminhamento de ofício solicitando uma série de documentos ainda não apresentados.

O encontro acontece às 15h, no plenário da Câmara Municipal, e será novamente aberto à população.

Respostas

Apesar do fechamento antecipado desta coluna (afinal, sexta-feira foi feriado, não é?), alguns leitores fiéis enviaram suas respostas ao desafio publicado na edição de sexta-feira, 12.

Respostas recebidas após o fechamento serão devidamente registradas em nosso próximo encontro, ok?

Pontos para Marcelo Machado, Rosemarie Künzel e Uta Blunck Cortez, que identificaram corretamente a Usina Cultural Energisa e parte do imóvel que abriga a Academia Friburguense de Letras.

Parabéns, e bom descanso a todos!

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Massimo

Massimo

Coluna diária sobre os bastidores da política e acontecimentos diversos na cidade.

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