Cinismo

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Para pensar:

“Seja quente ou seja frio, não seja morno que eu te vomito..”

Livro do Apocalipse 3:15-16

Para refletir:

“Se vós não fôsseis os pusilânimes, hoje em voz alta repetiríeis rezas que fizestes de joelhos, - súplicas diante de oratórios, e promessas diante de altares, suspiros com asas de incenso que subiam por entre os anjos entrelaçados nas colunas. Aos olhos dos santos pasmados, para sempre jazem abertos vossos corações, negros livros.”

Cecília Meireles

Cinismo

Sabe aquela história do “um mal puxa outro”, ou “uma mentira puxa outra”?

Pois então, quando agentes públicos se deixam levar por interesses impublicáveis, inevitavelmente abraçam o cinismo como forma de subverter a lógica, tentando revestir de cores nobres o próprio comportamento, ao mesmo tempo em que pintam como vilões aqueles que não abandonaram os próprios princípios.

Ofensa

E é claro que toda essa farsa - como, ademais, qualquer mentira - passa pelo pressuposto de que os ouvintes não são inteligentes o suficiente para perceber o que se passa.

Afinal, mentir para alguém é, em essência, chamar esse alguém de idiota.

Agora, considere por um instante a dimensão do que significa um político, eleito pelo julgamento popular, menosprezar a inteligência do eleitorado.

No mínimo, essa pessoa está assumindo que não merecia ter sido eleita, não é?

Parecer

A sessão da última terça-feira, 19, em nossa Câmara Municipal se enquadra neste tipo de definição.

A assessoria jurídica do vereador Zezinho do Caminhão elaborou um parecer segundo o qual a aprovação do projeto que concede autorização ao Executivo para investir em outras frentes os quase R$ 26 milhões levantados originalmente para a aquisição do imóvel da fábrica Ypu não teria amparo legal.

O tempo dirá

O colunista leu o documento e pode atestar sua coerência, embora caiba à Justiça avaliar o mérito da tese nele defendida.

E certamente essa avaliação ocorrerá.

Ainda assim, de todo modo, não é esse o ponto principal aqui.

Acordão

Legal ou ilegal, o fato é que o esforço do Palácio Barão de Nova Friburgo pela aprovação do projeto, apenas um dia antes da audiência pública na qual a população teria oportunidade de se manifestar sobre o tema, foi absolutamente desrespeitoso - para dizer o mínimo.

A coluna pode citar, por exemplo, o caso de um vereador que deixou de se encontrar com o vice-governador para estar no plenário, contribuindo com seu voto.

Ora, esse tipo de comportamento sempre envolve uma costura, para não usarmos termos mais pesados.

Clientelismo

A coluna pode apostar, por exemplo, que parte deste montante será reservada a obras indicadas por vereadores da base, a fim de que possam colher frutos eleitorais.

Não deve faltar dinheiro para o asfaltamento de ruas, ou obras que possam manter girando a roda do clientelismo, para que os mesmos sejam reeleitos e tudo fique como está.

Guardem estas palavras.

Os mornos

Por fim, não dá para encerrar este assunto sem dedicar umas palavrinhas a essa decepcionante “bancada morna”, composta por vereadores eventualmente bem-intencionados, mas comprometidos até o pescoço com o Executivo para que continue aberta a torneira da influência que alimenta o assistencialismo.

Pusilânimes

Já passou da hora de enfatizarmos a responsabilidade destes parlamentares que não gostam de se posicionar diante de temas polêmicos, que não cumprem o dever de fiscalizar, e que definitivamente não compreenderam o papel que lhes reserva a Constituição, dentro das inúmeras frustrações decorrentes da ineficiência de nossa democracia.

Corrente

Se o Executivo muitas vezes não respeita o Legislativo, isso só ocorre porque não são poucos os parlamentares que se prestam a esse papel.

E se essas pessoas continuam obtendo votações expressivas apesar da omissão com que encaram muitas das demandas atreladas a seus mandatos, é somente porque a população definitivamente não acompanha com a devida atenção a atuação dos candidatos que elege.

Ou, em outros casos, porque está feliz por ter alguém a quem pedir um cargo, um exame ou uma consulta.

Detran

Bastou a coluna falar a respeito da dificuldade para agendar serviços do Detran em Nova Friburgo para que diversos leitores se manifestassem sobre o tema.

O problema é crônico e, diante de tudo que andou sendo revelado recentemente a respeito do RH da entidade, também é inaceitável.

A demanda friburguense nitidamente supera a capacidade da estrutura existente, e já passou da hora de algo ser feito a respeito.

Fica a solicitação a nossos canais de diálogo com o Palácio Guanabara e a Alerj.

Inesquecível

E quanto aos cavalos assassinados no Cascatinha?

Alguém tem alguma novidade?

Cá entre nós, se tem uma lição que Ricardo Boechat nos deixou, é a de que não podemos deixar que o surgimento de um novo problema relegue os anteriores ao esquecimento.

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Massimo

Massimo

Coluna diária sobre os bastidores da política e acontecimentos diversos na cidade.

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