Lidar com retrospectivas — para mim — é sempre um assunto complexo. Os acontecimentos se sucedem de maneira avassaladora e fica difícil comentar o que foi ou o que não foi assunto digno de virar "retrospectiva”. Posso qualificar uma conversa casual com o porteiro do meu prédio falando sobre a incompetência do governo e deixar de fora a roubalheira da Petrobras. Ou falar da festinha de aniversário de uma menina pobre, comemorado num simplório banco de praça pública, e não comentar sobre a gastança do casamento de George Clooney em Veneza. Ou considerar a fila do Hospital Raul Sertã e não escrever uma linha sobre os efeitos avassaladores do vírus Ebola. Ou sobre o roubo de um celular na Rua Portugal e não dizer da gatunagem das colunas de aço da Avenida Rodrigues Alves, no Rio. Assim é a tal da retrospectiva. Cada um tem o seu olhar.
Vou deixar a retrospectiva formal, mês a mês, por conta deste jornal, que tão bem contará como foi o ano friburguense na edição do dia 31. Para mim, sobram comentários avulsos, esparsos, sem a cronologia dos acontecimentos. O que foi o melhor e o pior, o que não deveria ter acontecido e o que não poderia faltar. Vamos lá.
Os maiores escândalos de 2014: A derrota do Brasil para a Alemanha na Copa do Mundo; a Operação Lava Jato, que investiga a corrupção na Petrobras; a incompreensão de setores conservadores brasileiros contra a população nordestina na eleição para a presidência da República; a reeleição do deputado Jair Bolsonaro no Congresso Nacional pelos eleitores fluminenses; a indicação da senadora Katia Abreu para o Ministério da Agricultura.
Os que fizeram falta em 2014: Eduardo Campos (político, 49 anos); Gabriel Garcia Márquez (escritor, 87 anos); Roberto Bolaños (ator e Criador de Chaves e Chapolin, 85 anos); Antonio Ermírio de Moraes (empresário, 86 anos); Adib Jatene (médico, 85 anos); Dom Tomás Balduíno (fundador da Comissão Pastoral da Terra, 91 anos); Plínio de Arruda Sampaio (fundador do PT, 83 anos).
Frase mais bizarra de políticos de 2014: "Dois iguais não reproduzem.” (Levy Fidelix, sobre o casamento civil igualitário.)
Os 5 melhores filmes do ano: O Lobo de Wall Street (foto); Doze Anos de Escravidão; Ela; A Menina que Roubava Livros; Hoje eu Quero Voltar Sozinho.
Grandes tragédias que chocaram o mundo em 2014: desaparecimento do voo MH370, da Malasya Airlines, com 239 pessoas a bordo, em 8 de março; incêndio em uma mina de carvão na Turquia, matando 301 trabalhadores, em 20 de maio.
Os maiores acontecimentos da literatura brasileira em 2014: as mortes de Ariano Suassuna, João Ubaldo Ribeiro, Rubens Alves e Manoel de Barros; as indicações de Zuenir Ventura (foto) e Ferreira Gullar para a Academia Brasileira de Letras; o escritor Sergio Rodrigues vence o Premio Portugal Telecomi e São Paulo de Literatura com o livro "O Drible”; os livros 1889, de Laurentino Gomes, e Breve História de um Pequeno Amor, de Marina Colasanti, foram consagrados como os melhores livros pelo Prêmio Jabuti.
Personalidade de 2014 — Malala Yousafzai, a garota que defendeu o direito à educação, foi baleada na cabeça pelo Talibã no norte do Paquistão, recusou-se a permanecer em silêncio e tornou-se a mais jovem vencedora da história do Prêmio Nobel da Paz.
Esperança
"Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas,
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
e — ó delicioso voo! —
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada
Outra vez criança...
E em torno dela indagará o povo:
— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhe tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam
— o meu nome é ES-PE-RAN-ÇA
(Mário Quintana)
Fábula
Silêncio — divindade alegórica, representava-se na figura de uma mulher, e então se chamava Muta entre os latinos, que quer dizer "muda”.
Concórdia — por outro nome também chamada de Paz, divindade que os romanos adoravam, em cuja honra tinham erigido um soberbo templo. Era filha de Júpiter e de Themis; representa-se do mesmo modo que a Paz, com um ar benigno.
(Dicionário da Fábula - Editora Garnier - Paris)
Linha do tempo
Curta, comente e compartilhe; quando o relógio marcar 00:00 no dia 01.01.2015 vamos deixar muita coisa para trás.
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