IMPRESSÕES - 24/01/2015

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Já teve, já foi  

No próximo dia 29 comemora-se o centenário da primeira apresentação do músico Heitor Villa-Lobos como compositor. Tal feito foi realizado no Theatro Dona Eugenia (depois Cine Teatro Leal, agora um prédio de apartamentos), aqui em Nova Friburgo, no dia 29 de janeiro de 1915. Por esta e tantas outras informações históricas, percebe-se que a cidade já foi um celeiro cultural, atraindo companhias musicais e teatrais renomadas.  

Terra do "já teve e do já foi”, Nova Friburgo foi deixando escapar tais condições privilegiadas, por possuir inúmeros clubes, teatros e cinemas. Hoje, infelizmente, compõe o triste mosaico da cultura de massas do século XXI, perdendo suas características. 


Drummond esteve (pouco) aqui

Em 1918, com 16 anos, o poeta Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) foi aluno interno com os jesuítas no Colégio Anchieta. Sua passagem por Nova Friburgo durou pouco tempo. Em 1919, foi expulso, mesmo depois de ter sido obrigado a retratar-se. A instituição justificou assim a sua expulsão: "insubordinação mental”. Deixou escrito um poema um tanto enigmático: "Nova Friburgo, esqueci um ramo de flores no sobretudo”. Alguns afirmam que essas flores devem representar o coração, os sentimentos do poeta e, por extensão, o ser humano. "Por um momento o artista esqueceu, literariamente, seu fardo de dores e delícias, que são seus sentimentos, no sobretudo”. 

Enquanto esteve em Friburgo, o poeta publicou em 1º de abril de 1918 no jornal "Aurora Collegial”seu primeiro texto — Vida Nova — falando da expectativa da chegada à nova escola, "com a alma povoada de esperanças miríficas e sonhos maravilhosos”. Durou pouco.

 

Foto: Amanda Tinoco 


Aqui, o começo do modernismo  

"Em 1913, os herdeiros do Conde de São Clemente venderam a propriedade batizada de Parque São Clemente, para Eduardo Guinle, filho do bilionário fundador da Companhia Docas de Santos. Em 1944, os herdeiros de Eduardo, liderados pelo engenheiro César Guinle, pedem para Lucio Costa o projeto de um pequeno hotel em empreendimento de alto padrão, batizado de Cidade Jardim Parque São Clemente. Loteamento residencial de 93 hectares para casas de fim de semana ou veraneio, tem acesso próprio a 1 km do centro da cidade. 

A sucessão de plataformas e seu entorno imediato integram o parque de 22 hectares preservado para usufruto dos moradores, depois incorporado como o Nova Friburgo Country Clube (1957). Três hotéis são previstos.

O lote do Hotel do Parque de Lucio é uma língua de terra dando para o parque a sul da plataforma superior. Instrumento das vendas imobiliárias, o hotel deve passar a imagem de lazer sofisticado mas informal. Dez apartamentos e dez anos de operação parecem suficientes. Mais ao sul, 7,8 ha se destinam a um Hotel de Montanha, até hoje não construído. Em 5,8 ha de um lado e outro do túnel de bambu, se pensa em um Grande Hotel e praça de esportes. Nenhum é levado adiante...”

Mesmo em Nova Friburgo, o público em geral desconhece a história, a repercussão, os desdobramentos e a importância desta obra arquitetônica para o movimento moderno. Infelizmente, o imóvel deteriora-se com o tempo, sem utilização e manutenção.

(Extraído do texto Por um futuro mais doce para o Park Hotel, de Eliane Lordello)

 

 


 Foto: Regina Lo Bianco

 

Glaziou criou a beleza do Parque 

Antônio Clemente Pinto Neto, o 2º Conde de São Clemente, tinha ali uma vasta propriedade incluindo uma casa projetada para seu avô pelo arquiteto alemão Gustav Waenheldt por volta dos 1860 e um parque projetado para seu pai pelo botânico francês Auguste Glaziou por volta dos 1870. É da arquiteta Eliane Lordello o texto que se segue.

"Romântico mas disciplinado, o Parque São Clemente tem como grandes atrações os lagos e cascatas obtidos modificando o leito de um arroio interno, tributário do Rio Cônego. Comportas regulam o fluxo de água entre as três plataformas.

Glaziou mistura espécies nativas e exóticas de diversas procedências, entre as quais cerejeiras japonesas, papiros egípcios, magnólias, bambus indianos, plátanos canadenses, cedros do Líbano e a gincgo bilobada chinesa. O resultado é um jardim onde o jogo entre os tons de verde na luz ou na sombra é permanente, complementado pelos reflexos na água e contrastado com a plumagem de diversas espécies de pássaros.”

 

Fábula

Saturno - Dito por outro nome, o Tempo, filho do Céu e da Terra. Representa-se na figura de um velho com uma foice, para mostrar que o tempo destrói tudo, ou com uma serpente mordendo a cauda como que voltava para onde tinha vindo, para mostrar o círculo perpétuo e vicissitude do mundo; algumas vezes se lhe dá um vaso, de que corre areia, ou um ramo para exprimir esta mesma sobredita vicissitude.

Eternidade – divindade que os antigos adoravam e que eles representavam debaixo da imagem do Tempo.

(Dicionário da Fábula – Ed.Garnier – Paris)


Ruy Barbosa discursou para os jovens

Político, advogado, diplomata, jornalista, filólogo, tradutor e orador, Ruy Barbosa (1849-1923) fez em Nova Friburgo, no Colégio Anchieta, como paraninfo dos bacharéis de Ciências e Letras, um importante discurso que representa uma profissão de fé cristã: a Oração aos Moços, em 1920.

 

Machado hospedou-se aqui

O escritor Machado de Assis esteve duas vezes em Nova Friburgo, com sua esposa Carolina, em 1878 e 1904, de onde escreveu algumas cartas. Machado se refere à primeira temporada em carta de 1.º de fevereiro de 1901, na qual diz ao amigo que "Nova Friburgo é terra abençoada. Foi aí que, depois de longa moléstia, me refiz das carnes perdidas e do ânimo abatido”.  

Em janeiro e fevereiro de 1904, o casal subiu a Nova Friburgo, numa tentativa de recuperar a saúde de Carolina. Ela não melhorou, e Machado adoeceu. Em carta de 31 de janeiro de 1904, ele escreve a Veríssimo: "Veja você o que são as coisas deste mundo. Entrei com saúde em cidade aonde outros vêm convalescer de moléstia, e apanhei uma moléstia”.

 

Linha do Tempo

A gente vive muito em voz alta,

mas às vezes a gente não se ouve”

Guimarães Rosa





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