Colunas
Uma visita a Fazenda de Sant´Anna
Na semana passada visitei pela segunda vez a Fazenda de Sant’Anna, de propriedade de Renato Monnerat. Acompanhava um grupo de suíços que foi visitar a fazenda de seus conterrâneos, os Monnerat e os Lutterbach, que há mais de um século atrás foram seus proprietários. A história da Fazenda de Sant’Anna teve início em 1857, com o médico Augusto de Souza Brandão, o segundo Barão de Cantagalo. Propriedade com 800 alqueires fluminenses, era uma das maiores unidades produção de café do país, e do mundo, em determinado momento. O trabalho de seus 1,5 milhão pés de café era realizado por quase três centenas de escravos.
Em Cantagalo, o auge da plantação de café foi entre as décadas de 1840 e 1870, apresentando a partir de então um declínio em todas as fazendas cafeeiras. Terras cansadas, sem adubagem, cafeeiros velhos e improdutivos, era esse o cenário no fim do século 19. Cantagalo padecia igualmente com problemas ambientais que iria se refletir na lavoura. O uso do machado, do fogo e da enxada, a devastação dos morros cobertos de mata virgem para o plantio do café provocou mudanças climáticas, como a irregularidade das estações e menos chuva.
Quando o segundo Barão de Cantagalo faleceu a Fazenda de Sant’Anna estava bem endividada. O seu filho, Augusto Brandão Filho, solicitou empréstimo a José Heggendorn Monnerat para saldar as dívidas da propriedade. Porém, esse se recusou a conceder o empréstimo e arrematou a fazenda em um leilão. O sobrinho e genro de José Monnerat, o coronel Sebastião Monnerat Lutterbach, passou a administrar a propriedade.
Sob a sua gestão, a Fazenda de Sant’Anna além do cultivo de café, passou se dedicar à lavoura branca, a fabricação de farinha de mandioca, fubá de milho, polvilho, rapadura, melado e aguardente em seu engenho com moenda de cana. A fazenda possuía um rebanho bovino leiteiro da raça indiana guzerá, carneiros e suínos da raça inglesa. Toda a produção da fazenda era escoada pelo trem que ficava apenas a quatro quilômetros de sua sede.
A fazenda investiu em uma fábrica de laticínios produzindo manteiga e requeijão com a marca Fazenda de Sant’Anna. O tetraneto de coronel Sebastião Monnerat Lutterbach, Renato Monnerat, adquiriu essa propriedade por razões sentimentais em preito aos seus antepassados. Pouco restou do imenso complexo produtivo e de sua grandeza no passado, mas a fazenda está bem conservada.
A casa de vivenda, em estilo eclético, tem dois pavimentos, e suas fachadas são apoiadas sobre colunas de alvenaria que exibem a base e capitéis que dão ao casarão leveza e elegância. Na composição da varanda, um gradil de ferro batido entremeado por delgadas colunas em ferro fundido sustenta o telhado. As paredes de alvenaria são decoradas com pinturas e afrescos. A sala ainda conserva o papel de parede importado da França bem como a pintura original da barra com motivos florais sobre um fundo imitando madeira.
Já o maquinário de outrora, a exemplo do moedor de milho e do descascador de feijão, está em um Centro de Memória na fazenda criado por seu atual proprietário. Todos estão em pleno funcionamento e foram apresentados ao grupo de suíços que esteve na fazenda. Nessa visita fomos muito bem recebidos com um delicioso almoço cujo prato principal foi feijão tropeiro. O grupo se esfalfou de tanto comer essa iguaria.
Fiquei atenta às perguntas e impressões dos visitantes. Entre todas elas, uma impressão me chamou a atenção, o espanto do grupo com a dimensão da propriedade no século 19. Um deles observou que a Fazenda de Sant’Anna fora maior do que o seu cantão. Nesse momento, abrindo uma janela do passado, pude entender porque os colonos suíços abandonaram seus lotes de terras, em Nova Friburgo, em busca do Eldorado, em Cantagalo.
Janaína Botelho
História e Memória
A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.
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