Colunas
Uma história esquecida de Nova Friburgo - Última parte
Sumidouro, antiga freguesia de Nova Friburgo, era uma região de ricos produtores de café. O mais notório desses fazendeiros foi José de Aquino Pinheiro, o Barão de Aquino. Nasceu em 7 de março de 1837, na Fazenda do Ribeirão (hoje Duas Barras), que na ocasião pertencia a Cantagalo. O Barão de Aquino era um homem letrado, filho de um visconde e o maior produtor de café da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Paquequer. Faleceu em 1921, aos 84 anos de idade, permanecendo monarquista convicto até a sua morte. O rico acervo documental da Fazenda Mônica, que pertencia ao Barão de Aquino, foi transferido para o Arquivo Nacional para o tratamento arquivístico e guarda. Igualmente quem é depositário de um verdadeiro tesouro histórico é o professor de História do Direito da Ucam, Prof. Leonardo Iório, tetraneto do Capitão Manoel Silvestre da Silveira, proprietário da Fazenda do Paredão, localizada na freguesia do Paquequer. O Capitão Silveira faleceu em 1884, com 89 anos de idade. Deixou um diário da Fazenda do Paredão com recomendações de como lidar com os escravos, registro de revoltas e assassinatos dos cativos, relações familiares, registro da presença indígena, rituais maçônicos, entre outros assuntos. Essa rica fonte lança luz sobre muitos aspectos da vida cotidiana dessas fazendas no Segundo Reinado, em Nova Friburgo. A presença indígena deixou sua marca em artefatos de trabalhos como martelo, machadinhas, pontas de flechas, material têxtil e urnas funerárias, continuamente descobertas em propriedades dessa freguesia. Estas peças foram encontradas na localidade de Serra Verde, no sítio de Roque Bertoloto, em Sumidouro. Segundo pesquisa do Instituto dos Arqueólogos do Brasil realizada no local, os vestígios podem ser de aldeias da tradição Una, que remontam a mais de mil anos. Tais tribos ocuparam grutas em Minas Gerais e a serra fluminense.
Enquanto a mão de obra nas fazendas foi escrava, a colheita do café nos morros não foi problema. No entanto, com o fim da escravidão e a falta de braços na lavoura, a topografia dessa região, quase toda montanhosa, não favoreceu a mecanização. Essa circunstância ocorreu em todo o território fluminense. Em razão disso, o Estado do Rio perdeu a competitividade com outros estados na lavoura do café, provocando a falência dos fazendeiros da região. Sumidouro, antiga freguesia de Nova Friburgo, no século 19, revela que Nova Friburgo não foi somente uma região de pequenos proprietários com atividade agrícola voltada para a produção de alimentos. Foi, além disso, um município com significativa produção de café, estrutura agrária baseada no latifúndio e vasto plantel de escravos. As mais de 40 fazendas com sobrados históricos são o testemunho de um passado de prosperidade econômica. As igrejas edificadas em Sumidouro igualmente demonstram a sua importância econômica. Sumidouro possuía o mais belo trecho da linha férrea fluminense: o ramal da Ponte Seca, que passava próximo à Fazenda Santa Mônica, de propriedade do Barão de Aquino. Denomina-se Ponte Seca pois não há um rio abaixo e sim um majestoso vale. Possui nove grandes pilares projetados por engenheiros ingleses da Leopoldina Railway Company. A Ponte Seca foi inaugurada em 1888 e integrava o ramal ferroviário Nova Friburgo-Além Paraíba. A linha férrea deu fôlego econômico a Sumidouro, beneficiando principalmente os produtores de café. Além de carga, transportava igualmente passageiros, estreitando as relações comerciais e sociais entre Sumidouro e Nova Friburgo. De Riograndina ou de Conselheiro Paulino chegava-se às estações de Sumidouro. A proximidade entre esses dois municípios iria diminuir com o fim do ramal férreo, desativado em 1965, ficando Sumidouro, com o passar dos anos, uma história esquecida de Nova Friburgo.
Janaína Botelho
História e Memória
A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
Deixe o seu comentário