Colunas
Um passeio por Amparo
Amparo no passado fazia parte da Freguesia de São José do Ribeirão. Seus morros eram cobertos por cafezais desde o século 19, até o princípio do século seguinte. Há uma versão de como o cultivo do café chegou a Amparo através da família Gripp, colonos alemães que imigraram para Nova Friburgo. Os Gripp teriam se dirigido à fazenda dos suíços Sottenberg adquirindo mudas de café que se desenvolveram rapidamente nos morros de Amparo. Tem certo sentido essa versão. O colono suíço Antoine Cretton, do Cantão do Valais, realizou uma expedição com dezesseis suíços para ocupar um quilombo em Macaé de Cima. Seu genro, Laurent Sottenberg, participou da expedição em que Cretton negociou com os quilombolas suas terras adquirindo-as com algum dinheiro. Tomaram posse das terras que estavam cultivadas com batatas, bananeiras, cana-de-açúcar e pés de café. Logo, faz sentido que os Sottenberg já tivessem plantações de café.
Fui até o Sítio Bonfim, no Alto do Schuenck, no distrito de Amparo, de propriedade de Flávio Jandre. O nome Alto do Schuenck deve-se ao fato de ali terem se instalado famílias de colonos alemães. Ainda podemos avistar uma casa de pau a pique e uma magnífica casa sede da fazenda dos Schuenck que se dedicaram ao plantio de café em Amparo. Estabeleceram-se igualmente no distrito do Campo do Coelho, conhecido como Terras Frias. Encontrei uma raridade na agro floresta do Sítio Bonfim: pés de café originários das plantações do século 19, que foram se renovando com o passar dos anos através de um processo natural de autossustentabilidade. Foi uma emoção ver aqueles pés de café de remotas plantações do século retrasado!
Em seu sítio conheci também as denominadas Panc, plantas alimentícias não convencionais. São comumente denominadas pelo vulgo como mato ou ervas daninhas por brotarem espontaneamente entre as plantas cultivadas. As Panc são igualmente partes de frutos, flores e sementes, além de partes de plantas comuns, como por exemplo, as folhas da batata-doce e o coração da bananeira. Descobri que podemos utilizar na salada pétalas das flores de girassol, dália e beijo, também conhecida como maria sem vergonha. Já as folhagns dessas flores não são aconselháveis. No mundo, estima-se que 30.000 espécies vegetais possuem partes comestíveis. No entanto, 90% do alimento mundial atualmente vêm de apenas vinte espécies. Clarissa Martins, parceira de Flávio Jandre, que vende como ele seus produtos na feira do Cônego, nos fins de semana, descobriu nas Pancs um grande recurso para a gastronomia. Fiquei impressionada quando descobri que a azedinha pode perfeitamente ser utilizada na salada. Até mesmo o picão, fresco ou desidratado, serve como tempero.
O distrito de Amparo foi até quase a metade do século vinte o celeiro agrícola de Nova Friburgo. Não obstante ser reconhecida como um distrito rural, atualmente muito pouco se planta e se produz nessa localidade. Os pequenos proprietários têm se dedicado a agricultura orgânica, mas em pequena escala, no regime de agricultura familiar. O coronel Galeano das Neves (1826-1916), um vulto na história política de Nova Friburgo, no século 19, escolheu as terras férteis de Amparo para o plantio do café, sendo proprietário da Fazenda Cachoeira do Amparo. Trata-se de uma propriedade histórica, que segundo informações, foi vendida pela família há alguns anos atrás.
Um passeio por Amparo é sempre um encontro com resquícios do passado. Cada distrito agrícola de Nova Friburgo guarda preciosas informações históricas. Devemos zelar sempre pela sua memória.
Janaína Botelho
História e Memória
A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.
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