Um Ilustre Visitante - Passagens de D. Pedro II por Nova Friburgo

sábado, 31 de julho de 2010

O que tanto fazia D. Pedro II em Nova Friburgo? Há o registro de diversas passagens do Imperador à cidade. De acordo com a ata da Câmara de 1868, Nova Friburgo recebeu a visita de Sua Augusta Majestade Imperial nesse ano. Essa notícia é confirmada pelo jornal O Nova Friburgo, de 1935, onde a princesa Izabel escolheu a Cascata Pinel para oferecer à embaixada chilena uma “festa campesina”, contando com a presença do ilustre imperador, d. Pedro II, e do marido da princesa, o conde d’Eu.

Em 18 de dezembro de 1873, d. Pedro II retornaria a Friburgo a convite de Bernardo Clemente Pinto Sobrinho, o segundo barão de Nova Friburgo, para inauguração do prolongamento da Estrada de Ferro Cantagalo, no trecho de Cachoeiras a Friburgo. Já em 1874, a vinda do imperador a Nova Friburgo foi para acompanhar a princesa Izabel em um tratamento à base de hidroterapia em razão de sua suposta infertilidade. Nessa ocasião, veio acompanhado de sua amante, a condessa de Barral, dama de companhia da princesa. Casado com d.Teresa Cristina, o imperador teve um delicado e misterioso romance com a baiana, a condessa de Barral. Numa época de casamentos arranjados, d.Pedro II encontrou a sua “alma gêmea”, como ele relata em seu diário, numa mulher inteligente, despojada, culta e que vivera boa parte de sua vida em Paris. Ficaram todos hospedados no Hotel Leuenroth.

D. Pedro II retornaria a Friburgo dois anos depois, em 1876. De acordo com o livro de Alcindo Sodré, Abrindo um cofre, d. Pedro II passou um vasto período em Friburgo, já que em sua correspondência com a condessa de Barral, cita o nome da cidade em diversas ocasiões. Veio a Friburgo possivelmente para tomar as duchas do Instituto Hidroterápico, conforme se depreende do conteúdo de sua carta: “Condessa, onde se achará fresco? Valha-me a água dos banhos.(...) Confirmo meu juízo: Teresópolis majestoso; Petrópolis lindo e Friburgo bom lugar de tomar fresco, quando o há. Espero ler bastante aqui e recorrer a quanto esguicho puder refrescar-me....”(Friburgo, 13 de janeiro de 1876). Nessa ocasião veio acompanhado da imperatriz, deixando-a em Friburgo e retornando ao Rio antes dela: “Condessa, parece que de lá[refere-se a Friburgo] custam muito a chegar notícias. Os de lá[Friburgo] vão bem assim como a imperatriz em Friburgo d´onde tive telegrama esta tarde....”(Rio, 16 de janeiro de 1876).

D. Pedro II retornaria ainda Friburgo naquele mesmo mês: “...Condessa(...)Eu volto a Petrópolis no domingo às 8 ½ da manhã, e não paro senão a Friburgo...”(Rio, 18 de janeiro de 1876). De acordo com a sua correspondência com a condessa de Barral, fora para Cantagalo, mas em 17 de fevereiro de 1876, lá estava o imperador novamente em Friburgo, pois escreve de lá para sua amante. Refere-se sempre às duchas que tomava no Instituto Hidroterápico, pois D. Pedro II era diabético: “...A Imperatriz tem se dado bem com as duchas, e eu também gosto das refrigerantes...” Em sua correspondência dizia ter intenção de retornar definitivamente para o Rio no dia 3 de março. De fato, o imperador já está no Rio de Janeiro no dia 4 de março, mas imaginem o que disse quando lá estava: “...Amanhã volto para Friburgo. Que calor aqui! A febre amarela tem aumentado por este estado do Rio...”. (Rio, 4 de março de 1876).

Friburgo deixou boas recordações em D. Pedro II. Quando esteve aqui com sua amante, a Condessa de Barral, se recorda com carinho do Hotel Leuenroth, e o imperador, no melhor estilo do romantismo, assim escreveu para a sua amada: “Condessa(...) Porém creia que olho sempre com imensas saudades para os quartinhos do anexo do Hotel Leuenroth...”(Rio, 4 de março de 1876).

Janaína Botelho é autora do livro O Cotidiano de Nova Friburgo no Final do Século XIX. Para ler as matérias anteriores acesse historiadefriburgo.blogspot.com

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História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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