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Um brinde a Adolf Hitler!... Nazistas em Friburgo
Em 1824, colonos alemães migraram para o recém criado termo de Nova Friburgo. Sessenta e oito anos depois, ocorreria uma segunda onda migratória de alemães, ainda estimulada pelo governo. Já no primeiro decênio do século XX, um grupo de empresários alemães investiu em indústrias de grande porte, transformando Nova Friburgo em uma cidade industrial. Havia no município a Sociedade Alemã de Nova Friburgo e igualmente a Sociedade Alemã de Escola e Culto, esta última com estatuto próprio, cuja sede ficava na Estrada do Reservatório. No dia 20 de abril de 1935, o jornal O Friburguense noticiava a celebração em Friburgo do 46º aniversário do führer Adolf Hitler, promovida pela Sociedade Alemã de Escola e Culto, que “comemorou este acontecimento com muito brilho e solenidade”. A celebração contou com “grande número de pessoas de destaque” da sociedade friburguense e de muitos alemães domiciliados em Nova Friburgo. A solenidade foi dividida em duas partes: na primeira, foram cantados os hinos nacionais brasileiro, alemão e nacional-socialista, seguidos por saudações e discursos em alemão e português. Um belo solo de violino acompanhado ao piano entremeava os discursos e alguns números de música foram apresentados. Vivas foram erguidos às duas grandes nações: Brasil e Alemanha. Na segunda parte do evento houve um baile, e danças e cantos se seguiram e se prolongaram até alta madrugada “com extraordinária animação e satisfação de todos que compareceram à festa”, noticiou o jornal. A colônia alemã e igualmente membros da colônia italiana e da elite friburguense participaram do evento.
Foi assim que se comemorou em Friburgo naquele ano a data natalícia de Adolf Hitler. Hitler é colocado nos discursos da dita sociedade como um líder que “conseguiu conduzir o povo alemão para uma vida melhor, dando bem estar a milhões de almas e implantando nelas a inabalável confiança em um futuro melhor.....”, assim transcreveu o jornal. Nos discursos proferidos, a idéia de que o nacional-socialismo fez desaparecer as diferenças sociais, onde se cultivava a verdadeira “camaradagem” entre o povo alemão. À luz dos acontecimentos internacionais, Hitler ainda não mostrara ao mundo a sua verdadeira face. A Segunda Guerra Mundial(1939-45) ocorreria somente quatro anos depois dessa comemoração na cidade. Em Nova Friburgo havia muitos representantes da Ação Integralista Brasileira. No aniversário de Plínio Salgado, chefe nacional do partido, os integralistas friburguenses faziam uma passeata à noite pela cidade, “em exercícios”, fazendo uma parada militar na Praça dos Eucaliptos, ou seja, na Praça Getúlio Vargas.
Em entrevistas realizadas com algumas pessoas cujos familiares participavam do movimento nazista em Nova Friburgo, obtivemos duas afirmações: a primeira, a de que realmente houve um movimento nazista em Nova Friburgo; a segunda, a de que tantos os alemães, no tocante a Hitler, como os italianos, no tocante a Mussolini, possuíam um único sentimento em relação a esses líderes políticos: a de que ambos melhoraram as condições econômicas de seus respectivos países. Destaquemos que esses imigrantes somente deixaram o seu torrão natal em razão da crise econômica que lhes afetava, daí a torcida por esses líderes que tiraram os seus países do horror econômico. Finalmente, não se conhecia ainda os campos de concentração que dizimaram ciganos, comunistas, homossexuais e judeus, que só se tornaram notórios ao final da guerra.
No entanto, depois da Segunda Guerra Mundial, muitos alemães foram hostilizados em Friburgo, e todos os documentos da colônia italiana foram destruídos, temendo-se deportações. Era natural que em Friburgo, com uma forte presença de imigrantes alemães e de italianos, tivessem simpatizantes do nazi-facismo, já que Hitler e Mussolini eram líderes carismáticos. Em uma outra ocasião, falaremos de um movimento eugenista existente em Nova Friburgo, liderado pelo professor Júlio Caboclo, que pregava a superioridade de uma raça sobre a outra. Movimento nazista e eugenista. Está aí uma interessante passagem da história de Friburgo que merece ser pesquisada.
Janaína Botelho
História e Memória
A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.
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