Tuberculose, a peste branca

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

NOVA FRIBURGO: CIDADE SALUBRE

Parte III

A tísica pulmonar, como era conhecida a tuberculose, foi uma doença de elevado índice de mortalidade, tanto no período colonial, quanto no Império. Em cada família brasileira, era certo haver uma pessoa, pelo menos, com tuberculose. De tísica morreram, no século XIX, Álvares de Azevedo e Castro Alves. O Imperador D. Pedro I faleceu na Real Quinta de Queluz, em Lisboa, aos 36 anos, de tuberculose. A sua etiologia constituía uma incógnita para os médicos da era pré-microbiana. A Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro, fundada em 1829, realizava pesquisas para conhecer as causas prováveis, mas as opiniões eram conflitantes. Os pareceres dos médicos oitocentistas chegam ao ponto de serem bizarros atribuindo a sua causa ao deboche, ao luxo excessivo, à ingestão de alimentos deteriorados, hábitos sedentários, a sífilis e as poeiras, só para ficar em alguns exemplos. Caracterizou-se igualmente pelo ecletismo o tratamento da tísica até a descoberta do bacilo de koch. A sangria era método utlizado nos doentes que punham sangue pela boca. Muitos exemplares da flora brasileira foram empregados, como o agrião selvagem, o suco de cipó-chumbo, a resina da jataí com açúcar, a aguardente dava um ótimo xarope, o fruto de goiabeira, leite de burra ou de cabra mamado em jejum nos próprios animais, café com leite e mocotó foram aconselhados aos "fracos do peito”. Igualmente, antiflogísticos, revulsivos, boa alimentação, repouso e, principalmente, mudança para um clima frio e seco foram prescritos pelos médicos oitocentitas aos tísicos. Apesar de existir a crença que se tratava de uma doença contagiosa, muitos doentes permaneciam em suas residências. 

Somente em 1882, o bacteriologista Robert Koch anunciou a descoberta do bacilo da tuberculose. No entanto, a droga efetiva contra essa doença, a estreptomicina, somente foi com a descoberta em 1944, o primeiro antibiótico eficaz contra a tuberculose. Porém, a estreptomicina apenas se encontraria disponível no mercado aproximadamente na década de 60 do século XX. Foi quando os sanatórios perderam a sua função, a exemplo do Sanatório Naval de Nova Friburgo. Mas antes disso, era para os bairros altos, como em Santa Teresa, no Rio de Janeiro, e as cidades serranas que os tuberculosos se dirigiam para sua convalescença.

Em 1839, Guilhaume Salusse pediu licença à Câmara Municipal de Nova Friburgo "para poder receber em sua casa particular doentes que se venham curar”. As posturas de 1849, no art. 147, já faz menção às casas de saúde, além das hospedarias e casas de estalagem e pouso. No século XIX, os médicos aconselhavam determinados pontos do país como únicos possuidores de clima adequado para o restabelecimento dos tísicos. Nova Friburgo estava inserida nessa geografia médica. Vejamos os títulos de algumas teses e memória sobre essa questão onde Nova Friburgo foi objeto de uma delas: "O clima da Nova Friburgo e sua influência benéfica no tratamento das afecções pulmonares”, memória de Manuel José Teixeira da Costa; "A influência dos climas sobre o desenvolvimento da tísica pulmonar e quais as condições higiênicas mais favoráveis ao tratamento desta moléstia”(1878), tese de doutoramento de José Tomás da Porciúncula; "Da influência dos climas sobre o desenvolvimento e marcha da tísica pulmonar” (1881), tese de doutoramento de João Francisco Pereira; "Apontamentos para servirem de base ao estudo das estações climatéricas brasileiras mais aconselhadas para o tratamento da tísica pulmonar”, (1881-82), artigos pelo D. Júlio Rodrigues de Moura. O médico Manuel José Teixeira da Costa, autor do primeiro trabalho mencionado, casou-se com Maria Amélia Salusse, filha de Guillaume Salusse, como dito anteriormente, o primeiro a abrir hospedaria para abrigar indivíduos que vinham se curar no clima salubre na vila de Nova Friburgo. Em 30 de junho de 1910, o Sanatório Naval da Marinha do Brasil se instala em Nova Friburgo para o tratamento de tuberculosos e do beribéri. Em 18 de fevereiro de 1936, inaugura o Hospital de Tuberculosos e outra casa de saúde similar surge na cidade. Nova Friburgo se consolida como uma das cidades que mais recebia os que vinham se convalescer da tuberculose. 

Na próxima semana "Ano de mangas, ano de febre amarela”.

 

Janaína Botelho é professora de História do Direito na Universidade Candido Mendes e autora de diversos

livros sobre a história de Nova Friburgo. Curta no Facebook a página "História de Nova Friburgo”



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Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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