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Tadeu Tardin e suas memórias
Duas famílias Tardin de diferentes localidades do Cantão de Fribourg vieram para o Brasil, em princípio do século 19. De Ependes vieram Pierre (42 anos), Elisabeth (26 anos) e Elisabeth (1 ano). Já de La Roche vieram Antoine (47anos), Anne (59 anos), Joseph (20 anos), Antoine (18 anos), Jean-Jacques (14 anos) e Babelon (12 anos). Nos dias de hoje, localizamos os Tardin residindo em Nova Friburgo na Baixada de Salinas e em Vargem Alta; em Bom Jardim, em São José do Ribeirão e Barra Alegre e no município de Cantagalo. Entrevistei o agricultor o Sr. Tadeu Luiz Tardin, nascido em 20 de maio de 1942. Inicialmente, em suas memórias, ele fala sobre o avô paterno, Honório Luiz Tardin. O avô plantava batata inglesa, feijão de vara, milho, batata doce, entre outros produtos. Possuía um armazém em sua propriedade e comercializava rapadura, açúcar “batido”, açúcar branco, itens que ele se recorda. Naquela época tudo funcionava na base do escambo, uma galinha era trocada por um quilo de açúcar. A circulação de dinheiro praticamente não existia, segundo ele. Seu avô era tropeiro com uma tropa de 8 mulas. Em seu trajeto, saindo da Baixada de Salinas, passava por Floresta Mendes, Cardinot, Venda das Pedras e seguia até alcançar a Granja Spinelli. Saía-se pela madrugada e levava-se entre quatro ou cinco horas para chegar até esse destino sem fazer nenhuma parada. A tropa alcançando o centro de Friburgo seguia até o depósito do italiano Ernesto Tessarolo, no Paissandú onde vendia seus produtos. Seguiam as mercadorias pelo trem para serem comercializadas em Niterói e Rio de Janeiro. Seu Ernesto dava rancho também aos tropeiros, mas podiam-se soltar os burros no morro do Sanatório Naval para pastarem. No retorno, passavam pela Vila Amélia no Armazém Brasil e os tropeiros ali compravam mercadorias a exemplo de açúcar, arroz e sal para comercializar em sua localidade. Em meados do século 20, surge um ponto para transação comercial no distrito do Campo do Coelho, denominado de Barracão dos Mendes. Era de propriedade dos membros dessa família que passaram a centralizar o comércio dos produtos desse distrito. Alguns agricultores locais ainda utilizavam tropas de burros, carros de boi, mas outros já faziam uso do caminhão. O pai do Sr. Tadeu Tardin trocou as tropas de burro pelo caminhão. Muitas vezes levavam os produtos da lavoura direto para o mercado de São Cristóvão, sem passar pelo Barracão dos Mendes. A família Mendes era proprietária de um dos maiores latifúndios da região, de aproximadamente 3 mil alqueires, Sr. Tadeu Tardin. Tratava-se possivelmente da Fazenda da Floresta Mendes, que hoje é nome de uma localidade do distrito do Campo do Coelho. Possuíam igualmente terras em Sumidouro. Localizei um comentário de Ana Christina Veiga de Aguiar, no site da Fundação D. João VI em que ela declara ser descendente dos portugueses Mendes, D’Aguiar e Veiga e tataraneta dos Gradwold, Schottz e Rime. Esses últimos são do Cantão de Fribourg, como os Tardin. A terra nessa região é muito produtiva, mas os Mendes arrendavam aos agricultores locais e nada produziam. conforme o Sr. Tadeu Tardin. Gradativamente foram vendendo lotes de terra aos arrendatários. Os avós maternos de Tadeu Tardin, Eduardo e Emília de Sá Martins foram arrendatários dos Mendes e compraram cem alqueires de suas terras. Ambos eram portugueses e sabe dizer que sua avó era originária da Ilha da Madeira. Os Tardin casaram-se com frequência com os Schuenck. O distrito do Campo do Coelho tem muitos Schuenck, descendentes de colonos alemães. Há ali também muitos Botelho, possivelmente provenientes de Cantagalo. Tadeu Tardin vive em parte da propriedade de seu avô paterno que foi desmembrada entre seus herdeiros. Curiosamente não sabe nada dos seus ancestrais suíços. Por fim, ele nos conta uma divertida história. Há no distrito do Campo do Coelho uma localidade denominada de Centenário. No aniversário de cem anos de Nova Friburgo, algumas pessoas não puderam ir para a festa no centro da cidade. Reuniram-se na casa do Zizico, se divertindo ao som de uma viola. Os que foram a festa, decepcionados, quando retornaram disseram que a festa do Zizito estava mais animada que a festa promovida no centro da cidade. E assim deram nome onde morava o Zizito de Centenário.
Janaína Botelho
História e Memória
A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.
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