Sumidouro: uma história esquecida de Nova Friburgo - Parte 5

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Em 1881, a freguesia do Paquequer fica desmembrada de Nova Friburgo e incorporada ao Carmo. Foi uma significativa perda para Nova Friburgo. Em 1890, a freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Paquequer é elevada à categoria de município, ganhando autonomia e passa denominar-se Sumidouro. Mas por que Sumidouro? O que significa esse nome? Um acidente geográfico emprestou o seu nome ao município de Sumidouro: o sumidouro das pedras. O sorvedouro das águas do Rio Paquequer, fenômeno muito raro, chamava a atenção da população e de viajantes desde fins do século 18. Em um determinado ponto, o Rio Paquequer desaparecia repentinamente sob um leito de pedras percorrendo um trecho subterrâneo até aparecer novamente 300m à frente, aos borbotões. Esse fenômeno do sumiço ou sumidouro das águas desse rio, com o passar do tempo, passou a denominar a região. Desde os primórdios do povoamento dessa localidade virou área de parada dos tropeiros e de lazer da população. Esse fenômeno não existe mais desde uma enchente na década de 1940.

Existem em Sumidouro, aproximadamente, mais de 40 fazendas com sobrados do Segundo Reinado. Até o momento dois desses sobrados históricos em Sumidouro foram adquiridos e desmontados, pedra por pedra, para serem remontados em fazendas no estado de São Paulo. Um proprietário recebeu a proposta de aquisição de um portão de ferro e de um muro de pedras de um cemitério, do século 19, instalado em sua fazenda. Até mesmo uma escada de um sobrado histórico foi vendida para um colecionador de antiguidades. Nenhum desses sobrados históricos foi tombado nem pelo Inepac e nem pelo Iphan. A prefeitura municipal de Sumidouro igualmente não tomou qualquer iniciativa nesse sentido.

Muitos colonos suíços que receberam lotes impróprios para o cultivo na vila de Nova Friburgo emigraram para as terras férteis às margens do Rio Paquequer, que hoje é Sumidouro. Todos eles prosperam e alguns fizeram fortuna. Nessa ocasião, essa região pertencia a Cantagalo. Sumidouro, quando já era um município emancipado, recebeu a presença de colonos portugueses e italianos para substituição da mão de obra escrava. A presença de descendentes de italianos nesse município é bem marcante. Não foi ao acaso que a Lei de Terras, de 1850, teve por objetivo dificultar o acesso à propriedade de uma terra aos ex-escravos e aos colonos. O temor dos latifundiários era de que esses indivíduos tendo acesso à terra, deixariam de trabalhar em suas lavouras. E de fato foi o que aconteceu. Os colonos assim que juntaram algumas economias adquiriam uma área de terras, abandonaram as fazendas e se dedicaram à fabricação de açúcar e de rapadura.

Última parte na próxima semana.

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    Fazenda Santa Cruz, uma das poucas preservadas em Sumidouro (Cortesia Janaína Botelho)

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    Foto do final da década de 1880 - Imigrantes italianos, os Bertoloto, que vieram trabalhar como colonos nas fazendas (Cortesia Janaína Botelho)

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    Portão e muro de um antigo cemitério. Oferta de compra dessas ruínas são uma constante em Sumidouro (Cortesia Janaína Botelho)

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    Remanescente de um engenho de fabricação de açúcar e rapadura (Cortesia Janaína Botelho)

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    Sociedade sumidourense (Cortesia Janaína Botelho)

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    Terras frias, próprias ao cultivo de verduras e hortaliças (Cortesia Janaína Botelho)

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História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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