Sumidouro: uma história esquecida de Nova Friburgo - Parte 4

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Até o final da década de 30 do século XX, predominou o café como a principal atividade econômica de Sumidouro, até a sua erradicação no início dos anos 50. A intensificação do uso da terra para a olericultura em Sumidouro foi partir de 1970. Olericultura é uma denominação genérica do cultivo de legumes ou hortaliças. São lavouras olerícolas: abobrinha, agrião, alface, batata-doce, beterraba, brócolis, cebolinha, cenoura, chicória, chuchu, couve, couve-flor, jiló, pimentão, repolho, tomate e vagem. Por ser uma atividade realizada durante todo o ano, requer uma dedicação de trabalho permanente. Em Sumidouro, os agricultores plantam os produtos olerícolas nas “terras frias” em todos os períodos do ano. Os japoneses tiveram um papel inovador em Sumidouro na agricultura ao ensinarem o cultivo de caqui, tomate, pimentão, batata, jiló e repolho ao longo dos anos 1940-1950.  Dona Mariana, distrito de Sumidouro, é uma das áreas de maior concentração da comunidade japonesa desde meados do século XX. No Brasil, 35% da população dependem da atividade agropecuária. A falência dos grandes proprietários na pecuária por ocasião do Plano Cruzado aprofundou o processo de parcelamento da propriedade da terra com dedicação à olericultura. A atividade foi estimulada pelo governo do estado para garantir a oferta de produtos agrícolas às regiões metropolitanas. Nova Friburgo, Sumidouro e Teresópolis constituem o denominado Triângulo Verde.  A comercialização dos produtos agrícolas é organizada pelo comprador na roça ou encaminhada diretamente pelo proprietário ao Ceasa de Nova Friburgo ou ao Rio de Janeiro. Visitei a histórica Fazenda Boaventura, em Sumidouro, que atualmente se dedica ao plantio de verduras e legumes, de cana forrageira e capim para a pecuária leiteira. O sistema de trabalho é o da parceria, como a maioria das fazendas na localidade.

A Igreja Matriz de Sumidouro é uma admirável edificação que data de 1866, auge do período cafeeiro. A sua inauguração antecede em três anos a catedral de Nova Friburgo. Comparando as duas igrejas matrizes, a modéstia do prédio de Nova Friburgo em relação a de Sumidouro denota quão importante era a sua outrora freguesia. O histórico da evolução político-administrativa do município de Sumidouro passa por diversas fases. Em princípios do século XIX, o povoado pertencia a Cantagalo. A Igreja Católica, em razão do regime de padroado, tinha controle de atividades administrativas das povoações, além de controle espiritual. No passado, antes de se tornar município, os povoados passavam por três fases: capela, curato e freguesia. Sumidouro inicia sua evolução político-administrativa com a construção de uma capela em 1822, destinada ao culto de Nossa Senhora da Conceição. Em 1836, o pequeno povoado é elevado à condição de curato com a presença de um cura, eclesiástico que realizava batismos, casamentos, testamento, entre outras funções administrativas. Por gozar de crescimento populacional, em 1843 o curato é elevado à categoria de Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Paquequer e passa a pertencer ao termo de Nova Friburgo. Incorpora o nome Paquequer por ser o nome do rio que irriga as terras da região, de grande importância para a atividade agrícola. Continua na próxima semana. 

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    A Igreja Matriz de Sumidouro data de 1866, auge do período cafeeiro. A sua inauguração antecede em três anos a catedral de Nova Friburgo

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    Dona Mariana, distrito de Sumidouro, é uma das áreas de maior concentração da comunidade japonesa

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    Em Sumidouro os agricultores plantam os produtos olerícolas nas “terras frias” durante o ano todo

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    Fazenda Boaventura, em Sumidouro

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    Oratório da Fazenda Boaventura (Cortesia Janaína Botelho)

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    O lustre de cristal, o sino francês e os afrescos denotam a riqueza econômica dessa freguesia de Nova Friburgo

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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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