Sumidouro: uma história esquecida de Nova Friburgo - Parte 3

quarta-feira, 09 de setembro de 2015

Em Sumidouro, antiga freguesia de Nova Friburgo, Maria Maura da Silva nos falou sobre os relatos de seu pai, descendente de escravos. Ela nos revela que as escravas da casa, toda noite, tinham como obrigação procurar baratas nos buracos das paredes dos sobrados, catando-as com espeto de bambu. Catavam as baratas e as colocavam numa cuia. Tinham que apresentar a nhanhá e ao nhonhô a cuia cheia. Enquanto não enchessem a cuia de baratas não poderiam dormir. Na Fazenda dos Wermelinger, descendentes de colonos suíços, algo curioso. Havia ao lado da senzala um corredor estreito que separava a senzala do muro do terreiro de café. Segundo os seus proprietários ali era uma espécie de prisão para os escravos que desobedeciam as ordens do capataz ou praticavam alguma conduta considerada subversiva. Pelo tamanho do terreiro de café percebemos que a fazenda tinha uma grande produção, e consequentemente, muitos escravos. Foi nessa fazenda, de acordo com a memória oral, que ocorreu uma rebelião de escravos culminando com a destruição da casa grande. Não há comprovação documental ainda, apenas relatos passados de geração em geração entre os Wermelinger sobre essa revolta. Nas estradas de Sumidouro pode-se avistar ruínas de antigos terreiros de café. Cobertas por verdejante vegetação, as paredes de pedra ainda guardam a memória de um tempo de prosperidade gerada pelo café e pela mão de obra dos africanos, na condição de escravos. Em Sumidouro, os latifúndios do tempo do Império encontram-se quase todos desmembrados em propriedades menores em razão de partilha feita entre os herdeiros. Já não se pode mais falar em latifúndios na estrutura agrária de Sumidouro como outrora. Em 1879, quando ainda era freguesia de Nova Friburgo, percebemos na relação de grandes fazendeiros da região, no Almanaque Laemert, apenas sobrenomes de descendentes de portugueses, com destaque para as famílias Aquino e Jordão, proprietários de inúmeras fazendas. Ainda não aparecem os nomes dos descendentes de colonos suíços e alemães entre os grandes proprietários. No entanto, em fins do século 19, a família Wermelinger era proprietária de inúmeras fazendas na região. De acordo com os seus descendentes, teriam adquirido fazendas falidas pela crise da mão de obra, com o fim da escravidão. Na Fazenda Bela Vista dos Wermelinger a proprietária coleciona inúmeros artefatos que volta e meia acha escavados na fazenda. Entre os artefatos muitas moedas e cachimbos utilizados por escravos. A mais antiga moeda data de fins de século 18.

Como se resolveu o problema da mão de obra no campo desde o fim da escravidão? Até hoje Sumidouro tem problemas com a falta de mão de obra na lavoura. Com o fim da escravidão adotou-se inicialmente o sistema do colonato. Muitos portugueses e italianos se estabeleceram como colonos nessa região em substituição à mão de obra escrava. Como esses colonos adquiriram posteriormente suas próprias propriedades a única maneira encontrada pelos produtores rurais foi o sistema de arrendamento ou parceria para resolver o problema da falta de mão de obra no campo. A parceria adquiriu relevância nos imóveis rurais de maior tamanho, substituindo a mão-de-obra assalariada permanente. Na forma de contrato de parceria em Sumidouro há casos em que o proprietário fica com 60% e o parceiro 40% não obstante o Estatuto do Trabalhador Rural limitar a cota do proprietário em até 50%.

Continua na próxima semana.

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    Os latifúndios do tempo do Império desmembrado em propriedades menores (Cortesia Janaína Botelho)

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    Local de prisão dos escravos rebeldes (Cortesia Janaína Botelho)

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    Moedas localizadas na fazenda dos Wermelinger (Cortesia Janaína Botelho)

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    Nas estradas de Sumidouro pode-se avistar ruínas de antigos terreiros de café

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    O arrendamento ou parceria adotado para resolver a falta de mão-de-obra no campo (Cortesia Janaína Botelho)

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    Olericultura atual atividade economica de Sumidouro (Cortesia Janaína Botelho)

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    Vista do Vale de Sumidouro (Cortesia Janaína Botelho)

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História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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