Suíços que prosperaram: os Lutterbach

quinta-feira, 03 de março de 2016

Nova Friburgo recebeu os primeiros colonos suíços entre o final de 1819 e princípio do ano seguinte. No entanto, o local em que os colonos foram instalados denominado de Núcleo Colonial não possuía, em sua maior parte, terras férteis e condições materiais para a atividade agrícola. Por isso, foram pouco a pouco abandonando o Núcleo Colonial. A população de 1.662 suíços em 1820 ficará reduzida a 632, dez anos depois. Muitos desses colonos se deslocaram para o município de Cantagalo. Com o tempo, a presença de suíços em Cantagalo será equivalente ou ultrapassará a de Nova Friburgo. Ao encontrar café, encontraram fortuna, como foi o caso dos Lutterbach. Assim escreveu o juiz de direito João Lins Vieira Cansanção de Sinimbú sobre os colonos suíços na Vila de Nova Friburgo, em 1851: “...Os que se estabeleceram nas vertentes do rio Macaé cultivam o café, vivem na posse de boa fortuna: tais são as famílias Jaccoud, Poubel, Boechat, Magnin, Bersot, Miserez, Wermellinger, Tardin e Marchon. Outros há, também, que plantam o milho, a batata e fabricam toucinho, ou que, pelo comercio acham-se em circunstâncias favoráveis: assim como Curty, Monnerat, Sanglard, Frossard, Clerc, Grandjean, Balmat e outros mais. É verdade que a fortuna destes não pode ser comparável com a de seus compatriotas estabelecidos no termo de Cantagalo, entre os quais alguns há, como a viúva Ludolf, os irmãos Egdorn, os Lemgruber, Lutterbach, Monnerat imãos e Ubelhard...” A primeira geração os colonos que migraram para Cantagalo prosperaram de pronto.

Órfão de pai, Joseph Jean Constantin chegou jovem à vila de Nova Friburgo com a família, em princípios do século 19. O patriarca dos Lutterbach, Johann Lutterbach, casado com Marie Barbare Meyer, falecera na Holanda quando se dirigia de navio para o Brasil, deixando sete filhos: Joseph Jean Constantin, Anne Catherine, Anne Marie, Anne Marie Gertrudes Josepha, Joseph Martin, Joseph Anton Johann Gabriel e Jacob Irineus. Já encontramos o filho do colono Joseph Jean Constantin, José Antônio Lutterbach, nascido em 1838, se dedicando a criação de gado zebu quando a plantação do café estava ainda em pleno vigor. Iniciando a experiência de criação em 1887, importara da Índia um lote de gado zebu, da raça guzerá. Na terceira geração, localizamos Júlio Cézar Lutterbach, neto do pobre colono suíço, um homem culto e de posses. Júlio Cézar Lutterbach nasceu em dezembro de 1873, na Fazenda Três Barras, em Cantagalo. Casou-se com uma prima de família Monnerat, igualmente descendente de colonos suíços. Foi na Fazenda da Glória que Júlio Cézar Lutterbach desenvolveu a criação do gado zebu. A Suíça é um país montanhoso e as terras aráveis são limitadas. Com pouca terra plana arável e uma temporada curta para a atividade agrícola é do pastoreio dos pré alpes, no verão, que os homens do campo tiram as suas rendas. Possivelmente o DNA dos suíços pastores, os armailli, se fez presente entre os Lutterbach. Teria sido transmitido de geração em geração um savoir faire na criação de gado leiteiro? É possível, mas foram nos livros importados que Júlio Cézar Lutterbach obteve conhecimento sobre a criação desse tipo de gado. Realizava cruzamentos do gado zebu com raças europeias e suas propriedades como as fazendas da Glória, Santa Catarina e São Manoel tornaram-se reduto da criação do gado guzerá, atraindo compradores de diversos estados do país. Na Fazenda da Glória havia igualmente criação de equinos vendidos ao Exército Brasileiro e ao hipódromo do Rio de Janeiro. Já a criação de mulas era vendida para carroções de lixo naquele município. Suas fazendas eram igualmente produtoras de café, milho, mandioca, aguardente, rapadura, açúcar mascavo, manteiga, queijo, requeijão e rosas vermelhas. Destacou-se também na avicultura e na suinocultura. Os descendentes de colonos suíços arremataram muitas fazendas falidas por conta do fim da escravidão e consequente falta de mão de obra. A Fazenda de Sant’Anna, em Cantagalo, do Barão de Cantagalo, que chegou a possuir um milhão e quinhentos mil pés de café, foi arrematada pela firma Monnerat, Lutterbach e Companhia e até hoje está na família. Um membro da família Wermellinger chegou a arrematar cinco fazendas no fim do século 19 em leilão público, em Cantagalo. O que gerava prosperidade naquela época era o plantio do café com a utilização do trabalho escravo e os suíços que se enquadravam nesse sistema fizeram fortuna. Era uma contradição o incentivo de colonos ao país para introduzir a prática do trabalho livre e admitir que os mesmos possuíssem escravos. Chegou a haver um projeto de lei proibindo colonos de adquirir cativos, mas não foi aprovada. Os Lutterbach, assim como os Lemgruber, anteciparam-se investindo na criação de gado leiteiro, atividade econômica no qual os outros fazendeiros da região somente migrariam com fim da escravidão em decorrência da falta de braços na lavoura. Mas foram muito mais do que simples criadores, pois introduziram o gado zebu e nelore, respectivamente, aumentando ainda mais as suas fortunas.

 

  • Foto da galeria

    Cel. Sebastião Lutterbach na varanda da Fazenda Sant'Anna, em Cantagalo

  • Foto da galeria

    Os Lutterbach se casavam entre primos das famílias Monnerat e Wermelinger

  • Foto da galeria

    Os Lutterbach introduziram o gado zebu e fizeram fortuna

TAGS:
Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.