A saudosa Praça do Suspiro

quinta-feira, 08 de março de 2018

No século 19, as famílias de Nova Friburgo abasteciam suas residências nas fontes espalhadas em diversos pontos da vila. A Fonte do Suspiro era a principal delas e por isso, com o passar do tempo, deu origem a praça em seu entorno. No final daquele século o espaço foi urbanizado e, me parece, com um projeto do engenheiro Farinha Filho.

A capela de Santo Antônio, construída em 1884, iria abençoar a linda pracinha possivelmente em razão de sua fonte taumaturga que fazia milagres. Além do romantismo que a Fonte do Suspiro evocava, era também notório que suas águas davam robustez aos enfermos, restaurando-lhes o vigor. Recorriam à fonte os que aspiravam saúde procurando no seu frescor e em suas águas taumaturgas se convalescer de alguma doença. Fazia lenir as dores dos que sofriam e dizia-se até mesmo que “ressuscitava os quase-mortos”.

As águas de suas fontes eram cercadas de lendas e existiam três bicas, a do amor, da saudade e do ciúme. O hino de Nova Friburgo lhe tece louvores, “do suspiro na fonte saudosa, há três almas que gemem de dor, repetindo esta prece maviosa, da saudade, do ciúme e do amor”. Não há álbum de fotografia de turistas do século 19, que não tenha como cenário a Fonte do Suspiro.

Destruída na catástrofe de 2011, essa fonte era feita originariamente de pedra de cantaria, em granito. A rocha utilizada na cantaria variou de uma região para outra. Em Minas Gerais foi corrente o uso da pedra sabão e no Rio de Janeiro, o granito. Na história da arquitetura colonial brasileira pode-se constatar o desaparecimento das obras em cantaria a partir do final do século 18.

No século seguinte, tanto os componentes exteriores quanto os interiores serão substituídos pela alvenaria de tijolo com relevos moldados em argamassa de cal, gesso e areia. A cantaria tem ampla utilização nos cunhais ou esquinas das edificações, com pedras aparelhadas, lavradas e esquadrejadas. Em Portugal era comum edificações inteiramente em cantaria.

No Brasil Colonial ficou restrita a cunhais, pilastras, colunas, molduras de portas e janelas, escadarias e obras decorativas em geral. No século 19, a Praça do Suspiro era o mais importante espaço de sociabilidade. Era o passeio público das famílias friburguenses para ali recrearem-se aos domingos. A batalha das flores, por ocasião do carnaval, era igualmente realizada nessa praça por onde desfilava o préstito de carruagens floridas. Por abrigar a capela de Santo Antônio, as festas do orago eram realizadas na Praça do Suspiro, para onde se deslocava toda a população.

Nunca imaginaríamos que essa praça entraria na história simbolizando a catástrofe da enchente e desmoronamentos dos morros ocorridos em Nova Friburgo na madrugada do dia 12 de janeiro de 2011. Se utilizarmos a fonte iconográfica podemos observar que foi a praça que mais sofreu intervenções pelos poderes públicos, diferençando enormemente a sua paisagem ao longo dos anos.

Selecionei algumas imagens dessa praça para matarmos a saudade de seu estilo bucólico, repleta de frondosas árvores, principal ponto de encontro dos friburguenses, superando por muitas décadas, como principal praça da cidade, a catedral dos eucaliptos de Glaziou, ou seja, a Praça Getúlio Vargas. Foi ali que os associados do Clube de Xadrez construíam seu prédio com arquitetura em estilo mourisco.

Cito esse prédio para aproveitar a ocasião e fazer uma retificação sobre a coluna anterior que abordou o Clube de Xadrez, na qual citei que o empreendimento foi incorporado ao patrimônio da prefeitura. Corre à boa miúda na cidade esse fato, mas a direção do clube esclareceu que a prefeitura tão somente arrendou o salão social e que o Clube de Xadrez funciona normalmente e em plena atividade. Boa notícia.

  • Foto da galeria

    A Praça do Suspiro foi a que mais sofreu intervenções pelos poderes públicos

  • Foto da galeria

    A Praça do Suspiro foi projeto do engenheiro Farinha Filho. (Acervo Walther Seng das Neves)

  • Foto da galeria

    Festa de Santo Antônio na Praça do Suspiro, no século 19. (Acervo Castro)

TAGS:
Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.