Santo Antônio de Sá - O convento de São Boaventura

quarta-feira, 30 de julho de 2014

Parte II

A Vila de Santo Antônio de Sá, que atualmente compreende os municípios de Itaboraí, Magé, Rio Bonito, Cachoeiras de Macacu, entre outros, inicia sua atividade econômica com a extração e comercialização de madeiras. Em princípios do século 17, os sesmeiros começam a edificar engenhos com a produção de açúcar e aguardente. Santo Antônio de Sá localizava-se entre os rios Macacu e Cacerebu e isso lhe dava uma vantagem econômica. As madeiras eram transportadas por esses rios e seus afluentes, e posteriormente para o escoamento da produção de açúcar, alimentos e café. A vila de Santo Antônio de Sá se diferencia de outras regiões do país: suas fazendas não eram unidades produtivas voltadas somente para o plantio de açúcar, mas igualmente de gêneros alimentícios. A produção de açúcar, gênero de exportação do período colonial, não constituía setor econômico dominante na região. O cultivo da mandioca e a produção de farinha ocuparia igualmente importância nas fazendas. Nessa época, a farinha de mandioca era o produto mais consumido entre as classes populares e mesmo pela elite. 

No final do século 18, a vila de Santo Antônio de Sá e suas freguesias abasteciam de alimentos a cidade do Rio de Janeiro. Além da farinha de mandioca, milho, feijão e arroz, eram igualmente comercializados, produções "de quintal” como suínos, ovinos e aves, nos informa o historiador Vinicius Maia Cardoso. Santo Antônio de Sá contava ainda com manufaturas de anil e olarias. Curiosamente, eram poucas as plantações de café. É instigante que os fazendeiros dessa região não tenham migrado para o café acompanhando Cantagalo, que se tornara um dos maiores produtores do Brasil no século 19. Porto das Caixas, distrito de Santo Antônio de Sá, era por onde os fazendeiros de Cantagalo e de Nova Friburgo desembarcavam o café e outros gêneros alimentícios para o Rio de Janeiro. Desde que Cantagalo e depois Nova Friburgo foram criadas, as tropas de mulas transportando o café e alimentos produzidos por esses termos desciam a serra da Boavista e se dirigiam ao porto de Porto das Caixas. Daí seguiam até Itambi em barcos menores. De Itambi as mercadorias eram transportadas em barcos maiores até o porto de Sampaio e, então, rumo ao Rio de Janeiro. Santo Antônio de Sá era um lugar de passagem para a vila de Nova Friburgo. No princípio do século 19, Vicente José Marinho Machado cedeu as dependências de seu engenho para abrigar os colonos suíços que se dirigiam à Fazenda do Morro Queimado, que se transformaria em Nova Friburgo. Hospedou-os em sua casa com os funcionários do governo, dando-lhes ainda conduções gratuitas, conforme Maia Cardoso. 

Assim como os jesuítas foram responsáveis pela catequização dos índios e os padres seculares ocuparam-se dos sacramentos, registros de nascimento, casamento e falecimento da população de Santo Antônio de Sá, os franciscanos cuidavam da formação dos religiosos. A presença franciscana foi marcada pela construção do Convento de São Boaventura, instalado na vila de Santo Antônio de Sá. O convento iniciou sua atividade em 1649, como um simples estabelecimento de recolhimento dos frades franciscanos. Havendo necessidade de ampliação, em 1660 iniciam novas obras, concluídas dez anos depois. Durante todo o século 18 o convento receberá acréscimos e as ruínas que hoje conhecemos é resultado dessas ampliações. O Altar-mor era todo floreado a ouro, em estilo barroco. Além das imagens da Imaculada Conceição, São Francisco e de São Boaventura, estava presente a de São Benedito dos homens pretos em razão dos franciscanos possuírem escravos no convento, nos informa Deivid Antunes da Silva. Na torre da igreja, a seguinte inscrição, traduzida do latim: "se não faltaram na construção o trabalho e graça de Deus, tão pouco faltaram os aborrecimentos e contrariedade.” No caminho rumo a Fazenda do Morro Queimado, os colonos suíços receberam atendimento hospitalar no Convento São Boaventura. Há referência de que mais de 30 suíços faleceram nesse convento. Dois padres embarcaram na Suíça para dar conforto espiritual aos suíços: Jabob Joye e Joseph Aeby. Nessa parada no convento, o segundo morreu afogado ao banhar-se no Rio Macacu. Na próxima semana "As Febres do Macacu”.   


Janaína Botelho é professora de História do Direito na Universidade Candido

Mendes e autora de diversos livros sobre a história de Nova Friburgo. Curta no Face

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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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