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Reminiscências de Nova Friburgo
Na semana passada recebi um canto poético tecendo louvores ao passado de Nova Friburgo, escrito por Walfredo Silva, entregue furtivamente pela sua filha, Neyde, na residência de minha mãe. O sr. Walfredo foi meu vizinho durante muitos anos. Disse furtivamente, pois ele não sabe que sua filha entregou esse material.
Lendo as suas trovas viajei no tempo e divido com o leitor de A VOZ DA SERRA as suas memórias, que nos conduz a uma Nova Friburgo de meados do século 20, com seus personagens e espaços de sociabilidade. Apreciem o texto:
“...Berço acolhedor que a tantos encanta, vindos de além, de longínquas terras, Friburgo fascina e o poeta a decanta: Ó, terra amada, mil louvores encerras! Ainda me lembro daqueles doirados anos, tocados de fulgor e deslumbramento, quando longe ainda estavam os desenganos, que a transição causou até o momento. Outrora o trem romantizava a paisagem! No Atlantic, concentravam-se os poetas. Eia Eldorado! O Leal! O Xadrez! A SEF! A Lux! A Serrana e o Auriverde!! Que viagem! Festa do Suspiro! O Cassino! A Única! Saudades e festas! Foram tempos marcados pelo lirismo: As bandas Euterpe, Campesina e dos Navais...Passeios e flertes no vai-e-vem na Praça XV. Fonte colorida! O Modelo! A Fundação! O Anchieta! O Cêfel e o Estadual; a memória na mente;(...)Rinque de patinação, os passeios pelo livre e bucólico São Clemente! E as contendas entre o Friburgo e o Esperança? Imperdíveis! Como olvidar os ídolos deste torrão, que a noite já cobriu com o seu manto negro? Oh! Gigantes! Seus feitos se perpetuarão, enquanto forem exaltados por algum canto! (...) Feliciano Costa, Miranda Fortes, Pedro Cachaça, Zarife, o dragão, Dermeval Moreira e Compadrinho(...) Dona Sofia, Lulu Carne-Seca e Manoel Mendonça; pare eles nosso testemunho de respeito e carinho. Alvarino Bessa, Pedro Cúrio, Amaury, Galdino do Valle, notáveis!(...) Ventura Filho, Décio Soares, memoráveis! Max Cleff, Otto Siemens, Hans Gaiser, para esses inesquecíveis benfeitores, nossa gratidão!(...) E nossa terra não terá craques como estes, nunca mais! Neném e Dario, ases na sinuca; o Taco de ouro, J. Abicalil; Leoni, gigante da zaga, Mutuca, Decache, Paulo Velhinha e o brincalhão, goleador e malabarista Jael. Odécio, Hortz, Maduro (Pesão), Pantera Negra, Costinha, Gabriel, Joaninha, e Rainha, o lépido. Natal, “o silfo negro”, Chilo, Ximenes, Babá, Jardel, Rapadura, Pardal, o “canhão dos gramados” e Miguel. O exímio Rapiso, Golinha, Oliveira, Dunda, Titio, Agnaldo, Cici, Ananias e Teleco, o intrépido. Portela, o legendário, o elegante, porém temido Nilo, Pilinga, Biinha, Cigano, Ximinga, a muralha humana. Machado, Hélio Côrtes, alma aguerrida, saudades! Milano, o predestinado (não menti), Dutrinha, Ângelo Ruiz, Walter Barbante, Sinézio, o galã algoz dos goleiros e Tareca. O mago Paulo Banana (de ouro), Cléo, o incomparável! Ouça, vou às lágrimas ao lembrar-me de ti. Astros que enalteceram nosso esporte e famosos se tornaram, esquecê-los jamais! As fábricas Sinimbu, Arp, You, Filó e Haga, que tanto fizeram e fazem por nossa cidade, dando sustentação e progresso. E, nessa saga, viram crescer o brilho a cada ano, com dignidade. Os destemidos jornais de então: O Nova Friburgo, A Voz da Serra, o Jornal de Friburgo e A Paz abraçaram a nobre missão de impulsionar o crescimento da terra, conquistando palmo a palmo os valores da tradição, no bom combate, dando exemplo de vitória, sem guerra! Os carnavais de outrora! Oh, quanta saudade!!! Versáteis, quanto bem fizeram à nossa cidade!(...) Em outras épocas brilharam: Unidos do Amparo, Acadêmicos do Prado, blocos, ranchos e cordões, cuja glória nada empana: Vai-quem-quer, Raio de Luar, Globo de Ouro, Bola Branca, Unidos de Olaria, Grito da Mocidade. Esses todos, juntos ou individuais, alimentam nosso orgulho e enaltecem em todos os foliões a vaidade.(...) Inabalável, lá no cimo, o Sanatório Naval sem alarde, mas sentinela perene é sustentáculo inquestionável, base piramidal. Brioso, admirado e solene, é orgulho da nossa Friburgo, avante! Para sempre abençoado; avante! É um símbolo de paz para nossa gente. Friburguense, decante! E hoje, já tanto tempo passado, quando as cãs revelam que a velhice chegou, eu me ufano em aqui ser enterrado, neste vale de flores que o Eterno criou!”
Janaína Botelho
História e Memória
A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.
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