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Por que temos a estátua de Getúlio Vargas na praça?
Yolanda Brugnolo Lívio Barilari Bizi Cavalieri d’Oro, nascida em Friburgo em 1922, relata em suas memórias: “Quando a revolução triunfou, fomos para a Praça [Getúlio Vargas] ver a chegada dos vencedores trazidos no trem. Estava todo mundo na rua, se acotovelando para ver melhor(...) Lá pelas tantas o povo resolveu destruir a estátua do líder político de Nova Friburgo, o Sr. Galdino do Valle. Ele, que fora sempre venerado por todos, era agora, na fúria da paixão política, vítima do vandalismo desenfreado, comum nessas ocasiões. Quando a estátua rolou do pedestal, apareceu meu tio Dante, mancando e carregando uma bandeira vermelha [símbolo do galdinismo], que colocou triunfalmente no monumento decepado. Palmas delirantes da multidão...” O que acontecia em Nova Friburgo e no Brasil naquele momento? Trata-se de um episódio histórico conhecido como a Revolução de 30. A intitulada República Velha era dominada pelas oligarquias rurais, cuja base política eram os fazendeiros com títulos de coronel dados pela Guarda Nacional. Predominavam na política os paulistas e os mineiros. O primeiro, pelo fator econômico, a supremacia na exportação do café e o segundo, por tratar-se do mais populoso estado da federação, com peso nas eleições. Esses estados revezavam-se no governo presidencial, prática essa que ficou conhecida como a política do “café com leite.” No entanto, havia segmentos da sociedade insatisfeitos com as oligarquias rurais. O então presidente Washington Luís, não indicando um sucessor conforme o acordo político entre os Estados de São Paulo e Minas Gerais, detonou a revolução. Indicou novamente um paulista como seu sucessor e os mineiros se revoltaram, se aliando a outros segmentos insatisfeitos com o governo. Em 03 de outubro de 1930, civis e militares iniciaram a revolução que teria efeito fulminante, terminando no dia 24 daquele mesmo mês. Tomava posse em novembro o novo chefe do governo provisório: Getúlio Vargas.
Em Nova Friburgo, muitas pessoas aderiam à revolução não obstante o prefeito municipal Galdino de o Valle Filho apoiar a situação. Liderados por políticos importantes como a família Galeano das Neves, originários de Minas Gerais e de profissionais liberais a exemplo do Prof. Carlos Cortes, enviou-se grande contingente de tropas para a fronteira com Minas Gerais para lutar pela revolução. Por isso, assim que triunfou a revolução, Getúlio Vargas esteve em Nova Friburgo, possivelmente retribuindo o apoio recebido pelos friburguenses. Galdino do Valle Filho foi detido no Sanatório Naval e depois enviado ao Rio de Janeiro, sendo considerado preso político. Quando as tropas revolucionárias friburguenses chegaram de trem a Nova Friburgo, boa parte da população foi recebê-los. Nessa ocasião, derrubaram a estátua de Galdino do Valle Filho que ficava na praça. Um ano após o suicídio de Getúlio Vargas fizeram-lhe uma homenagem com uma estátua, sendo inaugurada em 1955. No último dia de 2016, segundo relatos, um cidadão subindo na base da estátua de Getúlio Vargas para fazer uma “selfie” caiu com a mesma, danificando a cabeça da peça. Não era uma estátua de bronze, mas de um metal de qualidade inferior. Se fosse de bronze os danos seriam maiores. Outro episódio com estátua ocorreu na Praça Dermeval Barbosa Moreira. Há um obelisco erguido por ocasião do centenário do município. No topo, havia a estátua de uma colona suíça segurando em seu colo um bebê. Para os que desconhecem a história de Nova Friburgo, o município foi criado para abrigar uma colônia de suíços que aqui chegaram em 1819. Roubaram a estátua da colona e afixou-se na ocasião um cartaz com o seguinte dizer: “Cadê mamãe”. Segundo consta, isso ocorreu na mesma ocasião da derrubada da estátua de Galdino do Valle Filho, ou seja, fazia parte das manifestações da Revolução de 30. Oriunda de manifestação política ou não, infelizmente, as estátuas são vulneráveis ao vandalismo nos logradouros públicos.
Janaína Botelho
História e Memória
A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.
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