Colunas
Para onde vão as águas de Nova Friburgo?
Na coluna de hoje destaco um dos trabalhos mais importantes que realizei em minha vida. Tudo se iniciou a partir de um contato que fiz com André Bohrer quando fazia uma reportagem sobre o Comitê de Bacia Hidrográfica Rio Dois Rios. Nessa ocasião, André me fez a proposta de realizar em parceria um documentário sobre o caminho das águas. O objetivo era apresentar a Bacia Hidrográfica Rio Dois Rios para a população que dela se beneficia, descrevendo a trajetória de seus rios e afluentes. De imediato aceitei o desafio pois a maneira como ele descrevia o roteiro, e o brilho nos seus olhos, despertou em mim o interesse por um trabalho de tal grandeza.
Estabelecemos uma parceria entre o Comitê de Bacia Hidrográfica Rio Dois Rios, a Agevap e a Luau TV. E fomos a campo! Durante todo o ano de 2017, percorremos 13 municípios como Nova Friburgo, Bom Jardim, Duas Barras, Trajano de Moraes, Cordeiro, Macuco, Cantagalo, Itaocara, São Sebastião do Alto, Santa Maria Madalena, São Fidélis, Campos e São João da Barra para registrar o caminho das águas. O documentário se inicia no maciço do Caledônia, em Nova Friburgo, e seguimos registrando a trajetória dos rios em diversos municípios, os seus encontros, até finalmente alcançar Atafona, em São João da Barra, onde o Rio Paraíba do Sul se lança no mar.
O trabalho apresenta as relações do homem com os recursos hídricos e demonstra como a bacia hidrográfica é fundamental para a agricultura, a indústria, a pecuária, a geração de energia, o lazer e para a sobrevivência dos indivíduos em seu cotidiano. O resultado gerou o documentário “O Caminho das Águas, do Caledônia ao Atafona”. O roteiro e o conteúdo da narrativa foi brilhantemente feito por André Bohrer se tornando um material didático da melhor qualidade para ser trabalhado nas escolas.
O documentário será disponibilizado aos estabelecimentos de ensino dos municípios que fazem parte da Bacia Hidrográfica Rio Dois Rios. A ideia é elaborar posteriormente um guia para o professor desenvolver alguns conteúdos abordados. No entanto, mesmo finalizado, o trabalho não terminou para mim. É o ponto de partida para mais um documentário para mostrar os estragos provocados pelo cultivo do café, durante décadas, nas propriedades rurais da Bacia Rio Dois Rios. Uma verdadeira tragédia!
Em determinadas filmagens vimos bois no pasto em um cenário semelhante ao sertão agreste. Existem atualmente muitos pecuaristas na região cuja atividade econômica passou a ser a pecuária de leite e de corte. O pasto dos morros ainda lhes dá a chance de tirar proveito da terra, não obstante o desastre da devastação de sua mata. Igualmente existe uma produção agrícola na região cuja comercialização é feita no Ceasa de Ponto de Pergunta. Pretendo mostrar que o desenvolvimento econômico deve ser sustentável pois do contrário, deixaremos um deserto para as futuras gerações.
Não podemos exigir de nossos antepassados que derrubaram as matas e plantaram o café de forma intensiva o nível de consciência que possuímos hoje. Muitos historiadores dizem que a história não ensina nada, como se acreditava no passado. Se ensinasse não repetiríamos os campos de concentração, a escravidão, as guerras, a intolerância racial, entre outros fatos que temos assistido nos dias de hoje em diversos países. Mas no caso do Vale do Paraíba fluminense o desmatamento deve servir como lição!
A participação no documentário, “O Caminho das Águas”, foi uma experiência incrível para mim. Percorri rios, vales e caminhos e compreendi porque os colonos suíços e alemães abandonaram Nova Friburgo em busca do eldorado. É uma região que apesar da ausência da mata possui uma beleza incrível com uma população ribeirinha acolhedora e hospitaleira. Os barões do café destruíram nossas matas, mas deixaram lindas casas-sedes de fazenda no Segundo Reinado. Vamos então tirar proveito da situação. Oxalá que um dia tenhamos o turismo no Vale do Café do Centro-Norte fluminense sob a benção das águas dos rios Grande, Negro, Dois Rios e Paraíba do Sul, os principais atores históricos dessa região.
Janaína Botelho
História e Memória
A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
Deixe o seu comentário