Os Zagni: um retrato dos imigrantes italianos - 15 de dezembro 2011

sexta-feira, 06 de abril de 2012

Em tempos remotos, os Zago, família de imigrantes húngaros, deslocaram-se para o norte da Itália tendo o gentílico se transformado em Zagni, adaptando-se ao idioma italiano. Parte da família arriscou-se à aventura da imigração no fim do século XIX, partindo juntamente com outros emigrantes para o sonho dourado da América. No imaginário da época, os emigrantes saíam da Itália não com a finalidade de vir para o Brasil, mas para a América. Não havia, em sua visão de mundo, a divisão entre América do Norte e do Sul. Tudo era América. Os Zagni chegaram ao Brasil aproximadamente em 1885, juntamente com outras famílias de imigrantes italianos. Não chegavam de uma só vez, iam emigrando aos poucos, pois alguns membros da família ficavam ainda na Itália para vender uma pequena propriedade, a campanha, similar ao nosso sítio, um mobiliário, etc. Chegando ao porto do Rio de Janeiro, não sabiam exatamente o seu destino. Nessa ocasião, três países estavam recebendo imigrantes italianos: o Brasil, os USA e a Argentina.

Instalados no alojamento da Ilha das Flores, os Zagni assim como muitos imigrantes italianos, acharam o Rio de Janeiro muito quente. O Brasil era o país que menos agradava aos italianos. Preferiam um país com o clima mais próximo ao da Itália. Muitos seguiram viagem para a Argentina, pois se dizia que o clima mais se aproximava do europeu, onde se plantavam maçãs e até oliva. Mas nem todos conseguiam prosseguir na viagem quando chegavam ao Rio de Janeiro. Muitos membros das famílias estavam adoentados e alguns até faleceram no trajeto. A viagem era cansativa, os navios insalubres, enfim, nem todos tinham condições físicas ou psicológicas de enfrentar novamente o mar. Alguns italianos que ficaram no Brasil optaram pela Região Serrana, como o sul do Espírito Santo e no Centro-Norte Fluminense. Nova Friburgo recebeu muitos imigrantes italianos ao fim do século XIX.

Agenciadores percorriam o pavilhão dos imigrantes oferecendo vagas nas fazendas. A família Zagni optou pelas terras de São Sebastião do Alto, no Centro-Norte Fluminense. O varão era Flamínio Zagni, casado com Filomena Tranchini Zagni, possuindo seis filhos: Bonfiglio Zagni, Magdalena Zagni, Teresina Zagni, Luigi Zagni, Beatrice Zagni e Virgínia Zagni. Juntamente com os Zagni foram para São Sebastião do Alto os Bianchini, Latini, Pietrani, Bolorini, Temperini, Boquimpani, Stanísio, Storani, Topini, Montechiari, Chimini, entre outros. A fazenda que mais concentrou imigrantes italianos em São Sebastião do Alto foi a Fazenda São Marcos, do Cel. Cornélio de Souza Lima. No entanto, não passavam de cinco a seis fazendas em São Sebastião do Alto em condições de contratar imigrantes.

Os Zagni foram para a Fazenda Bom Jardim pertencente ao Cel. Antônio Gonçalves Jardim, um grande latifundiário que plantava café como os demais fazendeiros da região. As instalações dos colonos eram modestas e foi graças à camaradagem dos caboclos que receberam pequenos animais como galinha, porcos, etc, para iniciarem uma pequena criação, bem como algum mobiliário. A passagem era paga pelo governo brasileiro ou pelo próprio fazendeiro que os cooptara. Eram todos imigrantes pobres e na maioria agricultores. Alguns eram carpinteiros, chamados de carapinas e outros entalhadores de pedra. O sistema contratual era de parceria, pois não havia salário, em que cada família de colonos ficava responsável pela colheita de uma determinada quantidade de pés de café. O fazendeiro ficava com aproximadamente oitenta por cento da colheita. Recebiam uma pequena área para fazerem suas roças e criarem pequenos animais. A ordem era trabalhar desde a hora que o sol nascia até o escurecer e, em decorrência disso, muitos adquiriram tuberculose e faleceram. Os colonos estranharam as ferramentas da lavoura no Brasil, bem diferentes às da Itália, bem assim o hábito de tomar banho todo dia.

A Fazenda Bom Jardim começava desde a saída de Valão do Barro, no Morro do Tuna, estendendo-se até o centro da ponte do Rio Negro. A Casa Grande era de pedras e tinha um moinho d’água, um açude, um alambique e terreiro de pedra para secar café. Um dos filhos do coronel Jardim, Ulisses Gonçalves Jardim, apaixona-se pela filha do colono Flamínio Zagni, Virgínia, de tipo franzino, moça recatada e muito católica. Desse enlace, nascem oito filhos: Vitória Gonçalves Jardim, Alice Gonçalves Jardim, Antônio Zagni Jardim, Grimaldino Gonçalves Jardim, Genésio Gonçalves Jardim, José Gonçalves Jardim, Maria Gonçalves Jardim e Bibiana Gonçalves Jardim.

Mas as fortunas se dissipam rápido se não forem bem administradas. Ulisses, com sérios problemas de alcoolismo, perde boa parte do patrimônio que herdara com a morte do coronel Jardim. Virgínia, devido aos duros trabalhos da lavoura quando colona, contraíra uma tuberculose malcurada e falece precocemente. O apaixonado Ulisses se suicida no ano da morte de Virgínia e pouco deixa de patrimônio aos seus oito filhos. Enfim, os italianos vieram para substituir a mão de obra escrava com a falsa promessa do governo brasileiro de que depois de trabalharem por alguns anos, como colonos, receberiam terras próprias. Os Zagni e as demais famílias de colonos italianos jamais receberam um quinhão sequer de terras. Diferentemente dos imigrantes italianos que se dedicaram à atividade comercial e de serviços, os Zagni ficaram reduzidos às condições econômicas semelhante a de um caboclo.

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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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