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Os quatro ciclos econômicos
No final do século 18, os sertões do Vale do Rio Macacu passam a ser explorados pelo homem migrante branco, em razão do esgotamento das reservas de ouro da Capitania de Minas Gerais. Tiram o sono refrescante da floresta e a paz das tribos indígenas que ali habitavam, como os coroados e os puris.
O Governo Geral se deslocou com a sua entourage rumo a esses sertões para explorar o ouro de aluvião nos rios Grande, Negro e seus afluentes. Surgiu a Magna Cantagalo que ao longo do século 19, foi paulatinamente perdendo território para formar uma miríade de municípios. A primeira perda foi Nova Friburgo para fundar uma colônia de imigrantes suíços. Mas foi vã e ingrata a corrida pelo ouro que logo se esgotou. As terras doadas aos garimpeiros pela metrópole tiveram como destino se transformar em unidades de produção de alimentos, como a fabricação de farinha de mandioca, base da alimentação do brasileiro, o plantio do feijão, milho e arroz nas várzeas, comumente conhecidos como lavoura branca.
Poucas décadas depois surgiu o ouro verde, o café, que gerou uma nobreza local de barões, viscondes e condes. Os outrora Sertões do Macacu contribuíram com a maior parte da produção de café para exportação, se tornando uma das regiões mais importantes do país durante a maior parte do século 19, notadamente no Segundo Reinado. Por volta de 1860, a província do Rio de Janeiro produzia cerca de 78% do café no país, São Paulo 12% e Minas Gerais 8%, aproximadamente. Vamos rever os ciclos econômicos? O ouro, a produção de alimentos e o café. E o que acontecerá depois nessa região?
Antes de responder à essa questão, vamos assinalar que os Sertões do Macacu já são os atuais municípios de Nova Friburgo, São Sebastião do Alto, Sumidouro, Bom Jardim, Teresópolis, Sapucaia, Duas Barras, Carmo, Cordeiro, Macuco, Trajano de Morais, Itaocara, São Fidélis, Três Rios, Santa Maria Madalena, São José do Vale do Rio Preto e parte de Petrópolis. No final do século 19, ocorreu uma verdadeira desorganização do trabalho provocada pelo fim da escravidão, não obstante a Lei Euzébio de Queiros já ter sinalizado décadas antes a sua iminente extinção.
Nesse quadro, as propriedades rurais se encontravam com cafezais velhos e improdutivos, terras sem adubagem, problemas de falta de chuvas provocada pela destruição total da mata para as lavouras de café e a falta de braços na lavoura. Esse é o cenário dos outrora sertões ocupados por índios brabos. Devemos ao empreendedorismo dos Lemgruber, seguido pelos Lutterbach, descendentes de colonos suíços, a melhoria da genética do gado nacional com a introdução do bovino indiano, antes limitado ao caracu português.
Iniciou-se aí um processo de migração da cultura do café para a criação de gado bovino leiteiro e de corte. Mas essa transição ocorreu paulatinamente. Até meados do século 20, de um modo geral, ainda havia extensas plantações de café nesses municípios. No entanto, cada vez mais a pecuária foi se estabelecendo. Entre as décadas de 1950 e 1980, o plantio do café caiu vertiginosamente. Foram substituindo esse produto pela lavoura de legumes e o plantio de árvores frutíferas. Apenas os municípios de Bom Jardim e Barra Alegre mantiveram a cultura do café.
Aproximadamente a partir da década de 1940, teve início o êxodo rural dos habitantes do Centro-Norte fluminense para Nova Friburgo e outros centros urbanos. Paralelamente, nessa década, Nova Friburgo tinha se consolidado como uma cidade industrial e grandes fábricas têxteis e metalúrgicas, instaladas algumas décadas antes, por empresários alemães, estavam em pleno crescimento. Havia muita oferta de trabalho. Só para ficar em um exemplo, a Fábrica de Ferragens Haga requisitava operários do Engenho Central Laranjeiras, de Itaocara, para trabalhar em seus fornos. Logo, estamos no quarto ciclo econômico, o da pecuária leiteira e de corte.
Cabe destacar a importância das cooperativas, pois se não fossem elas, seria impossível a sobrevivência de maior parte dos produtores rurais dessa região. Os prefeitos de Nova Friburgo, desde Heródoto Bento de Melo, têm uma tendência em fechar parcerias com os municípios de Teresópolis e Petrópolis. No entanto, a história de Nova Friburgo está mais relacionada com os outrora sertões do Vale do Macacu. A prova disso é o crescimento demográfico de Nova Friburgo, reflexo do êxodo rural dos habitantes do Centro-Norte fluminense, que não conseguiram colocação no quarto ciclo econômico, se estabelecendo na antiga colônia de suíços da Fazenda do Morro Queimado.
Janaína Botelho
História e Memória
A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.
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