Os Monnerat: uma história familiar – Parte 1

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Os Monnerat celebram o 68° encontro da família que já atravessa 12 gerações desde que o casal François e Elizabeth chegaram a Nova Friburgo, juntamente com sete filhos, no início do século 19. A região que era Cantagalo, mas que hoje é o município de Duas Barras foi para onde os Monnerat, juntamente com muitos outros colonos suíços se dirigiram, deixando o Núcleo Colonial de Nova Friburgo.

         Duas Barras, elevada a freguesia de Cantagalo em 1856, com a proclamação da República, ganha autonomia em março de 1891. Em longa data com os seus morros cobertos por verdejantes cafezais, a finalização do ciclo do café no Centro Norte fluminense acarreta a migração da atividade econômica dos fazendeiros para a pecuária. Em Duas Barras, passando pela estrada, avistamos na estação de trem o nome da família Monnerat.        Estamos exatamente em um distrito desse município que leva o nome de Monnerat. Mas quem foi essa família e por que ganharam um distrito com o seu o nome? Sua história no Brasil, remonta ao princípio do século 19, com o colono suíço François Xavier Monnerat, sua esposa Elizabeth Koller e seus sete filhos: Ursanne Joseph, Jean Joseph, Sébastian, Marie Barbare Régine, François, Marie e Henry François.

O estabelecimento de um núcleo colonial em Nova Friburgo se inicia quando D. João VI aceita a proposta do Cantão de Fribourg, através de seu agente Sébastien-Nicolas Gachet, para receber colonos suíços. A imensidão territorial brasileira demonstra a utilidade do povoamento pelos europeus. Decidiram estabelecer a colônia na Fazenda Morro Queimado, no distrito de Cantagalo, que estava no início do seu povoamento. Essa fazenda se desmembraria de Cantagalo, ganharia autonomia e em 3 de janeiro de 1820, surgiria oficialmente Nova Friburgo, nome em homenagem ao Cantão de Fribourg no qual vieram muitos suíços.

Na ocasião, foram feitos juízos negativos sobre a qualidade dos colonos suíços. Segundo opiniões, Nova Friburgo não foi fundada por suíços livres, mas por indivíduos que a Confederação Helvética queria se livrar. Assim, os primeiros habitantes de Nova Friburgo teriam sido indivíduos desterrados. Monsenhor Miranda, inspetor da colonização suíça, acusava os cantões de terem formado a colônia com forte proporção de vagabundos, condenados pela justiça e até mesmo por prostitutas.

Em artigo publicado no jornal La Liberté, em 1942, Robert Loup fala “de uma verdadeira operação de limpeza” feita pela Confederação Helvética. Dois anos depois, no Jornal do Commércio o acadêmico Taunay escrevia que a Suíça queria livrar-se dos cidadãos indesejáveis. Em 1967, o historiador friburguense Pedro Cúrio evocava a mesma ideia utilizando esta expressão muito significativa: “Não foi a nata da Suíça que veio para o Brasil”. No entanto, para o historiador Martin Nicoulin, a criação de Nova Friburgo não foi apenas o resultado de uma deportação, mas igualmente pela composição de homens laboriosos e empreendedores. Os Monnerat darão prova disso.

Segundo o tratado, D. João VI solicita inicialmente apenas 100 famílias de colonos, o que daria aproximadamente 800 pessoas. O agente Gachet para admitir maior número e burlar o contrato, criou o conceito de família artificial, que se compõe de 16 a 18 indivíduos cada uma delas. Logo, cada família artificial seria composta por três ou quatro famílias naturais. Uma vez no Brasil, os membros desta família artificial cultivariam em comum o mesmo lote de terra.

Ao partir da Suíça, os colonos emigrantes eram mais de dois mil. Porém, apenas 1.631 chegaram ao Brasil, em razão dos falecimentos durante a viagem. Como os veleiros dependiam da força do vento, o trajeto poderia durar muitos meses. Associado às condições materiais precárias, era natural a morte por doenças nessas viagens.

Continua na edição da próxima quinta-feira, 26.

  • Foto da galeria

    Fazenda Rancharia de propriedade de um Monnerat

  • Foto da galeria

    Mulher da família Monnerat, sem identificação

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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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