Os festejos do centenário de Nova Friburgo

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Como foram as comemorações do centenário de Nova Friburgo em 1918? Pela manhã, celebração de missa campal na capela armada na Praça Getúlio Vargas. Às 13:00 horas se realizou uma sessão solene na Câmara Municipal. O discurso de Agenor de Roure destacou a epopeia dos suíços e definitivamente consagrou Nova Friburgo como a Suíça Brasileira. Nos festejos, bandas de música e centenas de crianças cantavam o recém criado hino da cidade. Foi inaugurado um monumento comemorativo do centenário, uma estátua com a representação de uma colona suíça segurando em seu colo um bebê. Posteriormente a estátua da colona foi roubada e afixou-se no local um cartaz com o seguinte dizer: “Cadê mamãe”. 

Os Clemente Pinto, descendentes do barão de Nova Friburgo e que trouxeram o trem, promovendo um grande desenvolvimento ao município, não foram esquecidos. Foi homenageado o falecido Conde de Nova Friburgo, cuja família se achava representada por Ada Friburgo e seu irmão Braz de Nova Friburgo. Seguiu-se a abertura das exposições agrícola, industrial e artística no Theatro D. Eugênia que se localizava na Rua Augusto Spinelli. Foram expostos produtos da lavoura como arroz, feijão, marmelo, café, milho branco, cará, nabo, morangas, abóboras d’agua, aipim pão da china, batata doce e inglesa, banana, laranja, mel e vinhos de caqui, jabuticaba e ameixa. Foram igualmente expostos mobília, pelicas, palitos, ratoeiras, pássaros e insetos “conservados”, enfim, tudo o que se produzia no município. As indústrias Rendas Arp e Ypu, há sete anos instaladas na cidade, concorreram com rendas, suspensórios, ligas e cadarços em seda e algodão na exposição. Foi inaugurado no palacete Adalgiza Salusse(hoje edifício Rosa Marchon) exposição artística com inúmeros trabalhos de pintura. Próximo a Praça do Suspiro, a pedra fundamental do edifício da municipalidade foi lançado, construção essa que nunca se efetivou. A inauguração de um matadouro, o matadouro Modelo, foi motivo de destaque pela imprensa com a presença das sociedades musicais Euterpe Lumiarense e Nova Aurora. A inauguração da ponte sobre o Rio Bengalas, em frente ao Colégio Anchieta, ligando a Rua General Osório a Avenida Santos Dumont(hoje Rui Barbosa) pela Rua Morro Queimado(hoje Padre Yabbar) foi o presente que a cidade ganhou. No campo da sociabilidade foi realizado um torneio tênis no Friburgo Lawn Tennis Club e à noite os jogadores ofereceram um chá dançante às pessoas gradas da sociedade friburguense nos salões do Hotel Central. Recital de piano e uma série de conferencias por distintos oradores com temas sobre a maçonaria, a vida do apóstolo São Paulo e energia do caráter, valores da época. A oratória não faltava nos momentos de sociabilidade naquele tempo. Nas soirées particulares dançava-se tango e valsas, com recitação de monólogos e cenas cômicas. Foi oferecido na alameda dos eucaliptos(Praça Getúlio Vargas) pelas famílias friburguenses um almoço para 130 “pobres” e o Cinema Leal ofereceu uma sessão gratuita logo em seguida ao almoço. Na alameda dos eucaliptos foram igualmente realizadas corridas de bicicletas. À tarde formou-se imponente préstito composto de escolas, senhoras da elite e grande número de pessoas acompanhadas de três bandas musicais percorrendo o centro da cidade em busca de óbolos para uma instituição de caridade. Os rapazes do Tiro de Guerra, do Colégio Anchieta e pequenos escoteiros marcharam com garbo pela Praça Getúlio Vargas.

A festa veneziana no Rio Bengalas foi o ponto alto dos festejos. Segundo a imprensa, para ali afluíram à noite cerca de 15 mil pessoas e as sociedades musicais foram responsáveis pela alegria da festa. Na extensão da alameda se revezavam as bandas de música Euterpe, Campesina, Pérola Salinense(Salinas), Euterpe Lumiarense, Recreio Infantil, de Amparo, Corpo Militar do Estado, Pena de Ouro, de Cachoeiras de Macacu, Nova Aurora e a banda do Colégio Anchieta. Pelas águas do Bengalas deslizavam placidamente elegantes barquinhos cujo embarque era disputadíssimo. Às 23:00 horas subiu ao ar os primeiros foguetões que acompanhavam um balão, prenuncio de que se aproximava a hora de ser queimado os fogos de artifício. O fogo terminou com um artístico vulcão cujas centenas de foguetões produziram maravilhosa impressão, relatou a imprensa. A avenida apresentava um aspecto feérico com um brilhante conjunto de luzes. Foi dessa forma que se celebrou o centenário de Nova Friburgo!

 

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    Câmara Municipal de Nova Friburgo (Cortesia: Janaína Botelho)

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    Festa Veneziana, na foto o prefeito Feliciano Costa (Cortesia: Janaína Botelho)

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    O aniversário da cidade ganhou destaque na revista O Malho, do Rio de Janeiro (Cortesia: Janaína Botelho)

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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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