Os alemães: agricultores, mercenários e industriais

quinta-feira, 07 de maio de 2015

Nessa semana fiz uma entrevista para a Luau TV, com o genealogista Cesar Raibert Valverde, que anualmente promove uma reunião familiar entre os Raibert no primeiro fim de semana do mês de maio. A data não é aleatória. Celebra a chegada dos colonos alemães à vila de Nova Friburgo em maio de 1824 e, mais particularmente, a chegada de seu ancestral: Johann Karl Reippert. Como a maioria dos sobrenomes europeus, sofreu a corruptela para Reibert e Raibert. Originário de Hessen, na Alemanha, veio com 33 anos de idade para o Brasil com a sua esposa e uma criança de quatro anos. De origem camponesa, recebeu datas de terras onde hoje é Vargem Alta, exercendo atividade agrícola. Colono morigerado, deixou uma prole que anualmente celebra a memória familiar promovida por Cesar Raibert Valverde, que congrega os descendentes de Johann Karl Reippert. A entrevista com os Raibert me levou a fazer um checklist dos colonos e imigrantes alemães e suas trajetórias no termo de Nova Friburgo e de Cantagalo. Um nome que se destaca é o de Jacob Gijsbert Paul van Erven, que deu grande desenvolvimento às fazendas do Barão de Nova Friburgo devido ao seu conhecimento técnico. Acabou se tornando sócio do barão em algumas fazendas. Van Erven não veio na leva dos primeiros colonos, mas como imigrante, assim como outros alemães, no decorrer do século XIX, estabelecendo-se em Cantagalo. A próspera Cantagalo atraiu igualmente Victor Leopold de Beauclair, médico e fazendeiro nesse município. É provável que sejam do mesmo ramo familiar dos Beauclair que instalaram uma fábrica de cerveja em Nova Friburgo, no final do século XIX. Outro ilustre alemão foi Theodor Robert Peckolt, médico e botânico que imigrou para Cantagalo, em 1847. Já Carl Friedrich Engert foi proprietário de um dos maiores hotéis em Nova Friburgo: o Hotel Engert, situado na Rua Alberto Braune. Friedrich Engert teve participação na obra da Praça Getúlio Vargas, executando o projeto de Glaziou. Casando-se com Emilie Leuenroth se tornou também proprietário do famoso Hotel Leuenroth, que hospedara por algumas vezes a família real portuguesa. Esse hotel foi registrado no álbum de fotografias de Maria Thereza, esposa de D. Pedro II. Os irmãos Leuenroth, Friedrich e Paul foram mercenários alemães do Batalhão de Estrangeiros, que após extinto, migraram para Nova Friburgo. Friedrich Gustav Leuenroth casou-se com a filha do pastor Friedrich Oswald Sauerbronn. Como os suíços, percebe-se que os alemães se casavam com conterrâneos ou ainda em uniões interfamiliares. O caso mais curioso é o do alemão Andréa Alexandre, falecido em dezembro de 1842, em consequência de um duelo. A pedra de sua sepultura foi trazida em carro de boi do Rio de Janeiro, o que nos leva a crer ter sido alguém ilustre. Ainda bem preservada no cemitério Luterano de Nova Friburgo, sua bizarra sepultura traz a gravura de uma caveira, em estilo pirata, com a inscrição: “Attaché a la légation de Russie au Brésil”. No entanto, serão os imigrantes e industriais alemães Peter Julius Ferdinand Arp, Maximilian Falck, Gustav Carl Siems, Ernst Emil Cleff e Hans Gaiser, que mudarão a história de Nova Friburgo, colocando-a na Era Industrial. O interessante episódio de prisão de navios germanos durante a Primeira Guerra Mundial deteve algumas centenas de alemães no Sanatório Naval. Entre esses, alguns oficiais foram cooptados pelas indústrias alemãs locais e outros se fixaram no município após obterem a liberdade. São eles: Richard Hugo Otto Ihns, Johannes Robert Garlipp, Hermann Ostmann e Carl Otto Stern. 

Nova Friburgo é o primeiro município no Brasil a abrigar um núcleo colonial germano e a primeira igreja Luterana na América Latina. Conforme o genealogista Cesar Raibert, os arquivos da igreja Luterana é depositário de boa documentação sobre os alemães no município. Percebo que as pessoas confundem muito os colonos com os imigrantes alemães. Os primeiros aqui chegaram, ao mesmo tempo, no ano de 1824, recebendo pequenos lotes de terra e subsídios para substituir os colonos suíços que evadiram do Núcleo Colonial. Os que aqui permaneceram se tornaram agricultores morigerados e os que partiram para Cantagalo, em boa parte, prosperaram. Os segundo, ou seja, os imigrantes, aqui chegaram individualmente, com significativo aporte de capital e fizeram investimentos no município. No entanto, são os industriais alemães que mais se mantém na memória local. É natural: além de chegarem quase cem anos depois, por conseguinte, mais recentes na memória, mudaram a ordem econômica e social da veranista Nova Friburgo. Infelizmente, ainda não temos uma pesquisa que abranja a história dos colonos e imigrantes alemães em Nova Friburgo e região. É lamentável!

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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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